Eu fui a Amsterdam hoje, sentar com a orientanda do orientador, pra discutir o artigo que pretendemos escrever juntas. Eu precisava pegar dois trens: um pra Utrecht, em que eu viajaria por uma hora, e outro pra Amsterdam Zuid (/zaud/, aprendeu, né!), em que ficaria por meia hora. A primeira estação que o Intercity atingiria seria Arnhem, a 20km daqui. Intercity é o tipo de trem que vai de uma cidade grande a outra, sem parar nas estações menores. Quem faz o esquema pinga-pinga é o Stoptrein. Aquele Intercity tinha Den Helder como destino final, mas eu não queria ir pra essas bandas.
Entrei no trem, sentei, tirei os textos que a Christine já tinha escrito da mochila, peguei um lápis e me pus a ler. Uma moça interrompeu a minha leitura concentrada, perguntando em holandês se aquele trem ia pra Utrecht. Acenei com a cabeça.
Voltei à leitura, adicionando rabiscos ao texto sobre construções de tópico. Um moço sentou na mesma altura que eu, do outro lado do corredor. Perguntou em holandês e com a linguagem dos gestos, pra que direção o trem seguiria. Apontei pra frente.
O trem entrou em movimento, contrariando a minha indicação. O moço e eu mudamos de posição, sorrindo. Um homem veio de trás, apontando com o indicador para o jornal que estava na poltrona à minha frente, perguntando se podia pegá-lo. Acenei com a cabeça.
O trem parou e uma voz nos alto-falantes anunciou que um trem de carga à nossa frente estava defeituoso, e que não era sabida a hora em que voltaríamos a seguir viagem. O moço do outro lado do corredor exclamou que como pode, um trem de carga estar com defeito! Isso não existe. Ele claramente esperou alguma confirmação minha, algum comentário que sustentasse a opinião dele e confirmasse a afirmação de que trens não apresentam defeitos. Mas eu decepcionei o homem. Sorri, levantei as palmas das mãos, encolhi os ombros e estalei a língua no céu da boca.
Achei que isso fosse o suficiente pra ele interpretar a minha resignação com o atraso e que pra mim tanto fazia se um trem pode ou não apresentar defeito. Mas ele precisava de um feedback mais engajado. Mudou de estratégia e de língua: you don´t speak nederlands? Expliquei que eu não falo holandês, mas entendi o que ele disse. Ah, sim.
Voltei ao meu texto. Mas o moço ficou intrigado: isso é esquisito! Entender, mas não falar. Repeti os mesmos gestos que usei pra transmitir a mensagem: fazer o quê...
Me deixou em paz.
Meia hora depois, o trem voltou a entrar em movimento e atingimos Arnhem, a cidade que fica a 2okm de Nijmegen. Acontece que outro Intercity com destino a Den Helder nos ultrapassou, e não podia haver dois Intercity com o mesmo destino num espaço de tempo tão pequeno. A solução encontrada foi simplesmente mudar o destino do nosso trem pra Den Haag. As pessoas dentro do trem ficaram escandalizadas, o moço do outro lado do corredor ficou exaltado. Desceu do trem e foi reclamar com os funcionários do trem, que não existe isso, de trem de carga dar defeito, que meia hora de atraso era uma afronta, que...
Uma voz nos alto-falantes anunciou que logo seguiríamos viagem a Utrecht, - assim que o maquinista chegar.
O maquinista demorou 15 minutos pra assumir o seu posto. Fiz uso dessa coisa chamada celular e avisei que eu estava no meio de um grande contra-tempo. Terminei de ler o texto, tive algumas idéias que agradaram a Christine e passamos a tarde toda garimpando palavras e lapidando idéias.
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