quinta-feira, dezembro 28, 2006

As últimas





Vão aí as últimas fotos de passeios que fizemos por aqui.

Fotos de movimento


Aí em casa tem os presentes de Natal.

O meu pai não ganhou só uma vitrola. Não. Ele ganhou todos os LPs empoeirados e esquecidos de volta. Todos eles, inclusive os meus do A-ha e da Tracy Chapman. Ele ganhou a minha infância e a do meu irmão, ele ganhou de volta todo o tempo que a gente viveu em Sampa.


Logo depois que Philip e Julia montaram o toca-discos, cada um pediu uma música e seu pedido foi atendido. Foi muito da hora ver a alegria de todos!

Natal



Meu pai tem 3 cultos pra fazer no dia 24 e mais um no dia 25.

No dia 24, tem um de tarde, outro às 17:00 e o último às 20:00. O que sempre acontece é que a minha mãe vai no das 17:00, a gente se esparrama pela casa, janta por volta das 19:00, senta e conversa e dá um tempo até ser hora de ir no das 22:00. Aí a gente põe casaco, sapato, luvas, chale, pega a chave de casa e caminha por 3 minutos até o centro do vilarejo. Cumprimenta todo mundo no caminho até o banco da igreja, sorri pra todos, deseja feliz natal e se pergunta por que todos têm uma vela à sua frente e só a gente não.


Aí a gente canta as músicas de Natal que conhece, ouve as leituras, as meditações, canta mais um pouco, acha que o tom que a organista escolheu tá muito agudo, levanta, aperta a mão de velhos conhecidos que envelheceram, cumprimenta o pastor na saída e vai pra casa.

Texturas e superfícies



Olhando pras minhas fotos, percebo que elas têm um elemento em comum: não estão perfeitamente nítidas (minha mãe reclamou, disse que tem a sensação de estar sem os óculos, apesar de senti-los na ponta do nariz). Outra coisa que me chamou atenção é que elas são sobre texturas, superfícies e movimento. A parte do movimento se dá devido à pouca luz e à minha recusa para usar o flash, e vem nas fotos do Natal, propriamente dito.

Essas fotos foram tiradas enquanto a ceia de Natal era preparada. Muita gente na cozinha, eu fiquei meio de lado, sem ter o que fazer, resolvi fazer fotos das coisas à minha volta.
Isso é lichia, que deve ter no Brasil agora, nesse momento. Por fora e a casca por dentro. Da hora.
Ponche é uma coisa que os meus pais e seus pais sempre prepararam no Natal e ano novo. Chama Bohle é feito com um monte de frutas e um monte de bebidas alcoólicas. Tudo tem que ficar curtindo um tempão.
Nozes na outra foto, mas isso dá pra reconhecer.
Agora a foto lá de cima: pinha.

Cicloviagem a Bassum




Minha mãe propôs que a gente fosse de bike pra Ba(ga)ssum. São uns 7 a 5 km. Estava frio, mas não havia vento. Ela queria alugar DVDs na locadora da estação de trem.

Muito bem, fomos até a garagem e pegamos a bicicleta dela, que estava com o pneu traseiro meio murcho, e a do meu pai, inteirona. É uma bicicleta de 1964, como ele gosta de enfatizar.


As fotos não são do nosso passeio, porque eu mosquei naquele dia. Enfim. Mamãe e pequena Lou seguiram por dentro, passando pelos campos de repôio, raps e outras coisas que já não estão mais na terra, porque é inverno!

Minha mãe reclamava muito, tava lenta nas descidas e presenciou um milagre quando subiu na bike depois que eu enchi o pneu dela num posto de gasolina. Chegamos à estação de trem e ela perguntou se não seria melhor a gente ligar pro pai, pra ele buscar a gente de carro. O meu sorriso deve ter sido interpretado como um desafio. Entramos na estação de trem e descobrimos que a locadora não ficava mais lá. Era preciso atravessar Bassum e achar a Bremer Strasse. Essa foi a primeira vez na vida da minha mãe que ela pedalou numa cidade. Pode? Pois é!

Escolhemos 3 filmes e ponderamos novamente se devemos pedir arrego e ligar pro pai vir buscar a gente de carro. Nada disso, nessa bicicréta tem farol, a gente vai ligar essa luz e vai voltar pra casa pedalando.

Pois é, uma simples ida à locadora demorou o dia todo. As pernas da minha mãe sofreram muito mais que os meus joelhos, mas no dia seguinte as duas tavam como novas.

Depois de tanto tempo


Deixei passar um tempão, é verdade.
Tinha que dar tempo de fazer fotos, passear pelas redondezas, festejar o Natal, discutir com os meus pais, deixar eles soltarem o que tava entalado fazia anos e pensar um pouquinho sobre isso tudo. Não é fácil lidar com a pequena Lou, estou convencida disso.

quinta-feira, dezembro 21, 2006

Vou-me embora pra Passárgada

Vou pra casa dos meu pais.
Lá sou a filha do pastor
Lá tenho uma cama muito maior
num quarto que eu escolherei


Lá a paisagem é rural
E ainda se vê maçãs nas árvores.

E como farei ginástica! Farei longos passeios pelos campos com a minha mãe

Andarei de bicicleta contra o vento; e quando estiver cansada,

deito no sofá e peço pra lerem pra mim.


quarta-feira, dezembro 20, 2006

OK, você venceu. Batatas fritas!

O assunto é a relação pais e filhos, mas não é só isso. Tem o lance da fama.

Quando eu passei na frente da casa da mãe do Marx, eu tinha pensado que grande coisa era aquela. Marx escreveu "O manifesto comunista" e "O Capital", entre outros, e a mãe dele provavelmente esteve pouco envolvida neste processo. A mãe dele não é famosa, então a casa da mãe do Marx não é o que se espera de um ponto turístico ideal. Não desperta memórias em relação à progenitora do revolucionário. A casa do próprio Marx deve ser um ponto turístico, assim como o quarto de Lutero na Wartburg.

O lance da fama. E quando os pais são famosos?
De Maria Rita a gente esperava uma versão da Elis Regina. Chico foi "o filho do Sérgio Buarque de Holanda" por muito tempo, antes de se referirem a ele como "Chico Buarque". O filho do Pelé - tá vendo, nem lembro do nome do homem! Edinho... não? A gente sempre espera reconhecer os pais famosos nas pessoas que estão subindo a escadinha da fama ... Porque os pais a gente conhece, os filhos ainda não. Cadê a Elis dentro dessa moça tão menina cantando ali no palco, cadê o intelectual nesse compositor, cadê o rei nesse goleiro? A mãe do Marx, poucos conheceram.

Agora vem a bandeira branca: Eu não sei nada sobre a mãe do Marx.

Estou lendo a biografia do Kierkegaard (credo, que pesado! Calma, comprei um monte de quadrinhos, pra compensar), Sören Kierkegaard.
O pai desse existencialista teve um papel de extrema importância no caráter do filósofo dinamarquês. Imagina uma criança que pede pra sair de casa, pra brincar. O pai, severo, proíbe a saída, mas em troca oferece um passeio pelo seu quarto, segurando-o pela mãozinha. Enquanto andam pelo quarto da criança, a imaginação do menino é ativada e eles passeiam pela praia, pelo mercado, vão a outros países, voam longe nas palavras. Parece que Kierkegaard aprendeu desde cedo a caminhar no mundo do pensamento.

Além do mais, apesar de ter sido galanteador, não se casou, nem não teve nada com as mulheres, porque descobriu um segredo obscuro de seu pai, relacionado ao sexo oposto. A mãe de Kierkegaard (e de seus 7 irmãos) era uma serviçal. Casou-se com o pai altamente religioso e deu à luz o primeiro filho apenas 4 meses depois do casamento. O que de fato aconteceu, se ela o seduziu, ou se ele a violentou, foi sempre empurrado pra cantos escuros do esquecimento do pai, que era um homem sério, austero, que parecia carregar o peso da culpa do mundo nas costas. Kierkegaard achava que o que oprimia o pai era o pecado original, mas na verdade o pai carregava a consciência pesada de ter blasfemado contra Deus quando era criança, num momento em que passava fome, frio e solidão. Aí, quando Kierkegaard se viu pela primeira vez com uma mulher, saiu correndo, por motivos que Freud explica. Foi estudar teologia, pra satisfazer o que achava que devia ao pai super religioso, logo depois que Michael Pedersen Kierkegaard faleceu.

Pronto. Se eu passasse na frente da casa do pai do Kierkegaard, eu ia pensar: putaquepariu, é a casa do pai do Kierkegaard, caralho!

terça-feira, dezembro 19, 2006

Os turcos aqui falam alemão

É verdade.
Já é a segunda vez que um turco fala em alemão comigo. A primeira foi num restaurante turco. A segunda foi hoje, no caixa de uma loja. Eu dei o produto pra ele, ele passou o leitor de código de barras, anunciou o preço, recebeu as moedas, tirou a nota da máquina e me ofereceu o produto e a nota, fazendo uma pergunta que eu não entendi. Autmaticamente, respondi que não. Daquele meu jeito monosilábico: balançando a cabeça e emitindo sons que eu transcreveria como "mh, hm".

Como eu quase nunca entendo o que os caixas perguntam, investiguei mentalmente o discurso (que eu lembro) de caixas de supermercados. Se vier uma pergunta, ela pode ser:
  1. Algum produto que a senhora procurou e não achou?
  2. A senhora possui o cartão de descontos?
  3. Vai querer a notinha?
  4. Vai querer uma sacola?

Eu achei que o moço tava me oferecendo uma sacola. Por isso eu tinha respondido que não. Eu tenho mochila pra todas as coisas adquiridas na rua. O moço fez cara de que não entendeu. Eu percebi que eu precisava articular algo mais elaborado que um sorriso. Tentei falar holandês, mas saiu muito alemão: kein Tasch.

Grande pequena Lou! Aplicando a teoria! (Estou estudando justamente frases elípticas e ali, na hora, produzi uma, sem as marcas de concordância ou gênero.) Maravilha! E isso não é um sinal de que estou ficando afásica!!!

O moço sorriu, disse "OK" e "Tschüss" e isso é alemão. Os holandeses se despedem com "dui", "dag", "tot ziens" ou "bye".

De carteirinha


Dia 10 de Outubro a Universidade mandou uma carta pra Zyfflich, dizendo que era pra eu ir no Copyshop na Aquinostraat, no campus, e fazer uma foto de grátis pra minha carteirinha de estudante na faixa.
Dia 10 de outubro eu já não morava mais em Zyfflich. Demorou pra carta chegar até o meu novo endereço.
Em novembro eu fui fazer a foto e me explicaram que era pra eu esperar um e-mail da universidade, informando que a carteirinha está pronta.
Em dezembro eu cansei de esperar por notícias sobre a carteirinha. Descobri onde elas ficam e olhei no mapa, pra ver onde ficava o Gymnasium.
Nem a senhora atrás do balcão, nem eu entendemos por que a carteirinha ficou me esperando por mais de mês.

Pena que ela não me dá desconto no cinema, shows e teatros, mas o Refter já é um bom começo. Nos prédios mais novos, ela abriria portas. Como eu não ponho os pés neles, tenho que me orientar pelos horários do Spinozagebouw; em que os guardinhas desligam as luzes dos corredores às 18:00 e passeiam de lanterna por ali, trancam as portas secundárias às 19:00 e fecham a porta principal às 19:30.




segunda-feira, dezembro 18, 2006

Neblina forte - a volta pra casa

Antes de desligar o computador, dei uma checada na previsão/ constatação do tempo. Temperatura: 2°C. Umidade relativa do ar: 100%. Maravilha!
Desta vez eu separei as luzes da bike, as luvas, o gorro (!) e as chaves. Puxei até o toco o zíper do meu casaco para as horas difícies e saí pro mundo branco.
Liguei o farol da bicicleta e vi todo o feixe de luz. Não só dava pra ver o ponto de onde a luz sai e o ponto onde ela chega, no chão; mas dava pra ver iluminadas todas as gotinhas de água que boiavam contentes no ar. Umidade do ar a 100% é assim: cê volta pra casa molhado.

Engraçado como as coisas ficam difusas. O cruzamento com seus faróis verdes,vermelhos e ocasionalmente amarelos parecia um circo, porque cada luz de farol tinha uma aura de neblina iluminada. Voltei rapidinho, pra estar em casa logo, achando que as minhas orelhas não iam congelar, já que estavam protegidas pela touca. De fato, não congelaram. Mas as mãos perderam o sentido do tato. Apesar das luvas. Nariz escorrendo, mãos enrijecidas e sem reconhecer nenhuma superfície. Foi assim que prendi a bike no poste. Depois de tirar as luvas, os dedos permaneceram vermelhos por um bom tempo.

Neblina forte

O mundo está fantasmagoricamente branco lá fora. O sol parece a lua atrás da camada densa de brancura. As árvores com seus galhos molhados e despidos de folhas erguem seus braços para o alto. A temperatura é baixa, mais baixa que numa geladeira. Tudo está empapado, molhado e endurecido pelo frio. O selim da bicicleta: molhado. A corrente de prender a bike: dura. Venho bem devagarzinho, pra não fazer vento. As pontas das orelhas congelam, fumaça branca sai do nariz. Poucas pessoas nas ruas, os carros todos com o farol ligado. Na direção em que há sol, tudo é de um branco brilhante, ofuscante. Do outro lado, é só branco. Pingos caem das árvores, o chão está molhado, uma ambulância passa. As mãos metidas em luvas de couro começam a congelar. Outra ambulância passa. Chego na Universidade, acho um lugar livre no bicicletário. Tudo molhado, pingando. Uma roda de bicicleta lá na outra ponta do bicicletário ainda gira, indicando que foi presa faz pouco tempo. Mas além de mim e das bicicletas molhadas, não há ninguém por ali. Poucas pessoas transitando na frente do Spinozagebouw (prédio do Espinosa). Entro no prédio abrindo o jaco de expedição ao Pólo Sul e baixando a barra da calça da perna direita. Os pés estão duros, apesar da meia de sola dupla. Entro na B.00.74, sala cheia de gente e com o aquecimento ligado. Devagarzinho as temperaturas do meu corpo vão se ajustando. As pontas das orelhas ainda estão ardendo...

domingo, dezembro 17, 2006

René Dalmann

Tava mó empolgada, vendo quadros em museus virtuais, que resolvi dar uma olhada no quadro "A Garota e a Lagartixa", tão bem descrito no último livro de Bernhard Schlink. Procurei por Dalmann e caí numa enciclopédia de artistas fictícios. Pois é, Dalmann é só mais um dos artistas que só existem nos romances. Um surrealista que pintou um quadro que só existe na imaginação do Bernhard Schlink e dos seus leitores.
Puxa, o quadro é lindo, mesmo que não exista no mundo.

Há, mas eu já aprendi que este é só um dos mundos possíveis. Então tá tudo certo.

O que eu fiz hoje


Não, não pintei nenhum quadro,
mas vi o filme do Modigliani com o Andy Garcia e
passei longas horas vasculhando os museus virtuais
atrás dos quadros dele.
Foi legal, porque eu reconheci vários personagens
nos retratos.
Essas mulheres que eu colei aqui
são todas a mesma Jeanne,
com a qual ele viveu.

Se eu fosse ela, não teria ficado
lá muito contente com a
expressividade das curvas
que e o pintor achou em sua nuca,
pescoço e nariz...

Mas enfim, ela também era
pintora, então eles devem
ter se entendido.

O filme é meio que contado
pela Jeanne, então
o foco é afetivo.
Mesmo assim, deu pra ter uma
boa idéia de como era a boemia
na época, e como os
artistas se conheciam,
trocavam idéias, eram
amigos ou rivais.






































sábado, dezembro 16, 2006

Com a faca do queijo

Eu estou com os horários meio alterados. Estou desligando a luz às 3 ou 4 da madrugada e levantando depois das 10 da manhã. Isso não é normal pruma pessoa que gosta de acordar cedo e ver o dia clarear.
Enfim. Não só as horas de dormir e acordar estão embananadas, mas também os horários de comer. Isso vem junto, no pacote.

Deu fome por volta das 23:00, e pouco antes da meia-noite eu desci, pra jantar. Liguei o forno, cortei um pãozinho no meio, cortei umas fatias de queijo, joguei orégano por cima, pus as duas metades de pão sobre uma folha de papel-manteiga e coloquei tudo no forno. Sentei na mesa e me pus a esperar.

Rúben chegou em casa, entrou na cozinha cautelosamente, pé ante pé. Sorri, cumprimentando.
Você está bem?
Sim, tudo bem.
Quê que cê tá fazendo?
Esperando.
Deu um passo pra trás.
Não entendi essa reação, ele explicou.
É que eu vi você aí, de pijama, meia-noite, sentada na mesa, com uma faca à sua frente. Me assustei um pouco, vai saber o que passa na cabeça da pessoa...
A faca com que eu tinha cortado o queijo! Aí ele viu a luz do forno, entendeu por o quê eu tava esperando e se acalmou.
Às vezes as pessoas me pegam em cenários estranhos...

sexta-feira, dezembro 15, 2006

Avenida Paulista e o Refter

Avenida Paulista. A artéria da cidade-coração do Brasil. Uma avenida que pulula de gente que caminha olhando pro chão, conversando no celular, desviando dos outros e do trânsito. Uma avenida que chama gente que se veste de um jeito mais alternativo, procura por diversão de elite e veio de longe, só pra estar ali, na Avenida Paulista.
Isso de dia.
De noite, alta noite, a coisa é completamente diferente. Ao sair de uma sessão de cinema depois da meia-noite e caminhar pela Paulista até o carro estacionado lá longe, ou mesmo até a estação de metrô mais próxima (não importa, importa fazer com que a pessoa ande mais de uma quadra), a pessoa pode observar uma paisagem cinza, fria e suja. Muito lixo nas ruas, pouca gente bem-vestida e muita gente de rua pelos cantos. Parecem pacotes envoltos em cobertores marrons. Os hippies vendedores de colares e anéis estão contando seu dinheirinho, calculando se o que eles juntaram paga uma noite no hotel furreca. A solidão é tanta, que é urgente conversar com a próxima pessoa que lhes cruzar pelo caminho. Estica a mão, se aproxima. Boa noite, meu nome é Vitor.

Quase um paradoxo. Agora vem o paralelo:

De Refter. O bandejão da Radboud Universiteit, o ponto-de-encontro de toda a comunidade universitária. Um restaurante que não fecha, em que há poucos funcionários, mas todos sempre cumprimentam, agradecem e desejam um bom apetite. Às 13:00 é dificílimo achar um lugar vazio numa mesa qualquer, entre todas as mesas do refeitório de dois andares. Não é preciso ter um prato de comida à sua frente para estar no Refter. Muitos estudantes vão pra lá pra estudar, escrever, jogar baralho, trabalhar no laptop.
Isso durante a semana.
Na sexta-feira a coisa é completamente diferente. De noite, então, é uma desolação que só. O andar de cima é interditado, pra ninguém se perder naquela vastidão vazia. O número de funcionários é reduzido pela metade, o número de visitantes é reduzido a 10%. E as pessoas que vêm pra comer são bem outras. Vê-se a avó que traz os netos pequenos, crianças de colo, crianças correndo pelos corredores de mesas vazias, casais de idosos muito distintos que não conversam, apenas mastigam, silenciosamente.

Timing

O Thundercat chega às 17:00 na Universidade, entra na B.00.74 e conversa em holandês com as pessoas. Ele tira o casaco enquanto os outros estão vestindo os seus. Ele liga o computador enquanto os outros desligam os seus. Ele tava meio sumido mesmo, e eu até entendo que ele diz que estava muito "einsam" (sozinho, praqueles que não são proficientes em holandês) na casa dele. Entendo perfeitamente como é isso de vir pra universidade só pra ouvir outros sons, ver umas caras de pessoas conhecidas, mesmo que superficialmente.
Só que ele chegou na hora em que todo mundo sai.

Parece que há algo no relógio biológico dos holandeses um dispositivo que faz com que eles todos parem de trabalhar às 17:00, entupam as ruas e lentifiquem o trânsito nas ruas e ciclovias (e até calçadas) e invadam os supermercados. Aqueles estabelecimentos menores, que fecham às 18:00 realmente se transformam em caixas claustrofóbicas.

Enquanto o Thundercat checava seus e-mails, eu terminava de escrever o meu pro orientador. Nesse e-mail eu despejava todas as minhas dúvidas e confusões teóricas por que eu tava passando. Uma das coisas que ele quer de mim é que eu lhe apresente dados comparáveis com os dele. Que eu use os mesmos pesos e medidas, que use, enfim, a mesma teoria gerativa que eu iarc! urgh! écati! pth! não engulo.

Terminei de escrever o e-mail e o mandei. Subi um andar, pra lavar a minha xícara de café. Nas escadas, surpresa!, encontro o orientador. Ele logo diz que tava pensando em marcar uma conversa comigo. Perguntei se ele tinha recebido meu último e-mail, ele disse que não. Devo ter pensado nele tão intensamente, que os meus pensamentos subiram um andar e fizeram cócegas nos dele.

quarta-feira, dezembro 13, 2006

A casa

Era uma casa muito engraçada
não tinha sala, não tinha nada.
Ninguém podia estar mais junto
porque as pessoas trabalham muito.

Só o primeiro é que podia
tomar um banho com água quente.
Já o segundo, com água fria
se sentia muito menos gente

A geladeira que foi comprada
finalmente foi acionada.
Era só colocar ela na tomada
Mas a gente esperou uma semana.

As luzes de emergência se acendiam
pra mostrar que funcionavam
o alarme funciona, fui eu que testei
qual é a próxima, eu não sei.

Mas era feita com muito esmero,
numa rua de nome doido,
número 167.

terça-feira, dezembro 12, 2006

Últimas leituras




Não foi exatamente a biografia do Seurat, mas enfim. Era um livro com vários quadros dispostos em ordem cronológica e com um essay do Roger Fry, maior especialista em Seurat. Só que é o especialista que não consegue descrever sem julgar. O quadro da mulher se powdering é descrito como "one of the strangest pictures I know" Uai, é no estilo pontilhista que Georges Seurat estudou tão meticulosamente, é distinto e claro, com contornos rigorosos e a ênfase não é no movimento, mas nas formas. Fry continua: "This impossible woman" puxa, que coisa. Ainda não acabou: "he treats the subject with religious solemnity and carries it into a region of abstract beauty". Pronto, sabemos que Robert Fry não gosta de mulheres fofas, rechonchudinhas.





Aí acontece a exaltação deste quadro, "Sunday afternoon on the Ile de La Grande-Jatte".



Reparem como tudo é geométrico, as pessoas se parecem mais com bonecos e se tem a impressão de que a imagem está congelada, porque não há movimento na paisagem, na pincelada, no quadro.

Só que os estudos pros quadros obra-prima do Seurat são bem outra coisa, e eu fiquei feliz por poder vê-los.

Este estudo, por exemplo, é cheio de movimento, leveza e me lembra o Barcelona, personagem de "Cem anos de solidão", que vivia rodeado de borboletas amarelas. No Van Gogh Museum eu tinha visto obras de outros impressionistas e expressionistas inspirados no Van Gogh. Este auto-retrato, no entato, me parece ter sido inspirado neste "Model standing - Study for Les Poseuses" do Seurat.
























segunda-feira, dezembro 11, 2006

Classe de palavras

Maldito seja Aristóteles, quando ele começou com essa mania de classificar as coisas. A moda pegou! E agora me vejo diante da tarefa de classificar as palavras num diálogo de 9 páginas transcritas entre uma estudante e um carioca de 60 anos de idade, falando sobre formas de tratamento, esporte e sorte na loteria.

Todas as palavrinhas que eu nunca pensei em classificar (não, assim, ontem, antes, ali) são advérbios, mas nem toda vez as palavras que eu quero botar no saco dos advérbios estão funcionando como advérbios. Ou seja, a classe das palavras não é inerente à forma da palavra. Não é toda vez que eu reconhecer uma forma que eu vou ter a mesma função. Assim aconteceu, por exemplo, de eu ter verbos no infitivo funcionando como substantivos.

E a classe dos pronomes, então! A nomenclatura aponta pro fato de haver um nome no lugar de outro. Quando eu digo ela, me referindo a Maria, estou usando ela no lugar (pro) do nome (Maria). Acontece que esse, aquele e mais uma pá de palavras desse tipo, são pronomes. Quando estiverem sozinhos, tudo bem, Não quero esse, quero aquele. Mas e quando eles estão acompanhando um nome, tipo esse cara me tira do sério! O pronome faz companhia pro nome!!

É nessas horas que eu invejo gente como o Pasquale. Ele não teria dúvidas sobre as categorias, separaria tudo sem pestanejar, sem ter que consultar nenhum dicionário ou gramática, e no fim do dia estaria orgulhoso do trabalho realizado.
Eu tô aqui, cheia de dúvidas, achando que não dá pra descrever as palavras suficientemente bem... como será que a gente faz pra se comunicar, se uma mesma forma pode ter diferentes funções, portanto diferentes sentidos!!!! Que coisa é essa, que chamamos de língua....

domingo, dezembro 10, 2006

Alarme

Pequena Lou tava na cozinha (percebam que uso a terceira pessoa, pra não ter que referir a mim mesma, porque isso seria vergonhoso), preparando uma sopa. Cenouras, batatas e abóbora já estavam cozinhando, faltava refogar o bacon com a cebola. Pequena Lou sabia que o fogão elétrico demora mais tempo pra esquentar as panelas que o fogão a gás, então ela já acendeu uma boca, botou a frigideira em cima e se pôs a cortar fatias do bacon congelado. A tarefa era difícil e ela progredia lentamente. A frigideira no fogão começou a soltar fumaça. Mal sinal. Ela jogou manteiga na frigideira, na esperança de acalmar os deuses do fogo elétrico. A manteiga ficou marrom, depois evaporou. Aos poucos, Pequena Lou jogava cubinhos de bacon na frigideira. Eles logo ficavam marrons, e ela percebeu que o tempo não estava certo: ela não seria capaz de terminar de cortar os cubos de bacon congelado antes que os cubos dentro da frigideira carbonizassem.

Outro mal sinal: o alarme que detecta fumaça disparou. Não chegou a chover dentro de casa, mas o barulho era ensurdecedor. Todos os que estavam na casa se acumularam na cozinha, tapando as orelhas e arregalando os olhos. Todos não se refere a um número alto, eram só a Pegah, o Kaleem e a tal pessoa que causou o tumulto. Pegah procurou pelo controle remoto do alarme, mas não o achou. Kaleem constatou que era a fumaça de bacon preto que tinha ocasionado aquela barulheira; e depois de um longo e penoso minuto o alarme cessou.


O que aprendemos desse circo todo: exaustor! Além de dar a sensação de que se está ao lado de uma turbina de avião, o exaustor evita que incidentes como este aconteçam.

sábado, dezembro 09, 2006

Pra fora da janela

Não dava pra ver muita coisa. Hehe, lembrei da certeza da existência das coisas. Por um breve momento duvidei da existência do mundo lá fora...