quarta-feira, dezembro 20, 2006

OK, você venceu. Batatas fritas!

O assunto é a relação pais e filhos, mas não é só isso. Tem o lance da fama.

Quando eu passei na frente da casa da mãe do Marx, eu tinha pensado que grande coisa era aquela. Marx escreveu "O manifesto comunista" e "O Capital", entre outros, e a mãe dele provavelmente esteve pouco envolvida neste processo. A mãe dele não é famosa, então a casa da mãe do Marx não é o que se espera de um ponto turístico ideal. Não desperta memórias em relação à progenitora do revolucionário. A casa do próprio Marx deve ser um ponto turístico, assim como o quarto de Lutero na Wartburg.

O lance da fama. E quando os pais são famosos?
De Maria Rita a gente esperava uma versão da Elis Regina. Chico foi "o filho do Sérgio Buarque de Holanda" por muito tempo, antes de se referirem a ele como "Chico Buarque". O filho do Pelé - tá vendo, nem lembro do nome do homem! Edinho... não? A gente sempre espera reconhecer os pais famosos nas pessoas que estão subindo a escadinha da fama ... Porque os pais a gente conhece, os filhos ainda não. Cadê a Elis dentro dessa moça tão menina cantando ali no palco, cadê o intelectual nesse compositor, cadê o rei nesse goleiro? A mãe do Marx, poucos conheceram.

Agora vem a bandeira branca: Eu não sei nada sobre a mãe do Marx.

Estou lendo a biografia do Kierkegaard (credo, que pesado! Calma, comprei um monte de quadrinhos, pra compensar), Sören Kierkegaard.
O pai desse existencialista teve um papel de extrema importância no caráter do filósofo dinamarquês. Imagina uma criança que pede pra sair de casa, pra brincar. O pai, severo, proíbe a saída, mas em troca oferece um passeio pelo seu quarto, segurando-o pela mãozinha. Enquanto andam pelo quarto da criança, a imaginação do menino é ativada e eles passeiam pela praia, pelo mercado, vão a outros países, voam longe nas palavras. Parece que Kierkegaard aprendeu desde cedo a caminhar no mundo do pensamento.

Além do mais, apesar de ter sido galanteador, não se casou, nem não teve nada com as mulheres, porque descobriu um segredo obscuro de seu pai, relacionado ao sexo oposto. A mãe de Kierkegaard (e de seus 7 irmãos) era uma serviçal. Casou-se com o pai altamente religioso e deu à luz o primeiro filho apenas 4 meses depois do casamento. O que de fato aconteceu, se ela o seduziu, ou se ele a violentou, foi sempre empurrado pra cantos escuros do esquecimento do pai, que era um homem sério, austero, que parecia carregar o peso da culpa do mundo nas costas. Kierkegaard achava que o que oprimia o pai era o pecado original, mas na verdade o pai carregava a consciência pesada de ter blasfemado contra Deus quando era criança, num momento em que passava fome, frio e solidão. Aí, quando Kierkegaard se viu pela primeira vez com uma mulher, saiu correndo, por motivos que Freud explica. Foi estudar teologia, pra satisfazer o que achava que devia ao pai super religioso, logo depois que Michael Pedersen Kierkegaard faleceu.

Pronto. Se eu passasse na frente da casa do pai do Kierkegaard, eu ia pensar: putaquepariu, é a casa do pai do Kierkegaard, caralho!

Um comentário:

Anônimo disse...

Acredito que a maioria das das biografias estão incompletas. Cadê os pais, os amigos e parentes, os acontecimentos obscuros? Os costumes do lugar que afetarão a folha em branco(persona)do indivíduo? Sem contar os impulsos internos da própria natureza individual herdada ao longo dos séculos... Porém, somente a narração sem interpretação talvez poissa responder o porque eo para que das coisas de cada um.