sexta-feira, dezembro 15, 2006

Avenida Paulista e o Refter

Avenida Paulista. A artéria da cidade-coração do Brasil. Uma avenida que pulula de gente que caminha olhando pro chão, conversando no celular, desviando dos outros e do trânsito. Uma avenida que chama gente que se veste de um jeito mais alternativo, procura por diversão de elite e veio de longe, só pra estar ali, na Avenida Paulista.
Isso de dia.
De noite, alta noite, a coisa é completamente diferente. Ao sair de uma sessão de cinema depois da meia-noite e caminhar pela Paulista até o carro estacionado lá longe, ou mesmo até a estação de metrô mais próxima (não importa, importa fazer com que a pessoa ande mais de uma quadra), a pessoa pode observar uma paisagem cinza, fria e suja. Muito lixo nas ruas, pouca gente bem-vestida e muita gente de rua pelos cantos. Parecem pacotes envoltos em cobertores marrons. Os hippies vendedores de colares e anéis estão contando seu dinheirinho, calculando se o que eles juntaram paga uma noite no hotel furreca. A solidão é tanta, que é urgente conversar com a próxima pessoa que lhes cruzar pelo caminho. Estica a mão, se aproxima. Boa noite, meu nome é Vitor.

Quase um paradoxo. Agora vem o paralelo:

De Refter. O bandejão da Radboud Universiteit, o ponto-de-encontro de toda a comunidade universitária. Um restaurante que não fecha, em que há poucos funcionários, mas todos sempre cumprimentam, agradecem e desejam um bom apetite. Às 13:00 é dificílimo achar um lugar vazio numa mesa qualquer, entre todas as mesas do refeitório de dois andares. Não é preciso ter um prato de comida à sua frente para estar no Refter. Muitos estudantes vão pra lá pra estudar, escrever, jogar baralho, trabalhar no laptop.
Isso durante a semana.
Na sexta-feira a coisa é completamente diferente. De noite, então, é uma desolação que só. O andar de cima é interditado, pra ninguém se perder naquela vastidão vazia. O número de funcionários é reduzido pela metade, o número de visitantes é reduzido a 10%. E as pessoas que vêm pra comer são bem outras. Vê-se a avó que traz os netos pequenos, crianças de colo, crianças correndo pelos corredores de mesas vazias, casais de idosos muito distintos que não conversam, apenas mastigam, silenciosamente.

Um comentário:

Anônimo disse...

Nossa, me senti em Sampa novamente