quinta-feira, novembro 30, 2006

Nome na porta

No corredor da universidade, antes de chegar na sala B.00.74, que era o meu destino, reparei que havia mesas, estantes e cadeiras dispostas ao longo das paredes. Um aviso na porta em frente aos móveis pedia pra que não se perturbasse.
Achei aquilo estranho, mas comecei a reparar nos avisos nas portas, e nos nomes nas portas.
Um monte de nomes e sobrenomes holandeses. Hm, grande coisa.

Cheguei na B.00.74 e reparei que ali também tinha uma plaquinha com nomes. E o meu nome também tava lá! Jonas, Jeroen, Isabelle, Jesse, Ron, Nan, Melinda e Lou.

Puxa, com um nome na porta e um computador reservado só pra mim, me sinto meio que obrigada-e-ao-mesmo-tempo-estimulada a vir sempre pra Uni...

quarta-feira, novembro 29, 2006

Voltando de Aachen

Na mesa do café da manhã estudei um Guia de mochileiros na Europa e achei algumas informações sobre Aachen. A catedral é de tempos em que se escrevia o ano com 3 algarismos, não 4, e foi palco de inúmeras coroações. Por coincidência, todos estavam de pé e na cozinha às 8:00 da manhã. Isso nunca aconteceu antes.

Saí de casa e na altura da Centraal Station lembrei que esqueci da máquina de retrato! Puatz! Peguei 4 trens e cheguei a Aachen. Coisas estranhas me chamaram atenção na viagem:
a naturalidade com que pedi informações em alemão e obtive resposta em alemão.
Duas japonesas falando francês. Trés bon.
Um cara com uma jaqueta em que estava escrito UAE (United Arab Emirates).
Dois amigos quarentões comentando que Bianca está grávida e que isso é uma pena, porque ela perdeu aquelas curvas...
Um holandês praticando Tai chi num estacionamento vazio.

Cheguei em Aachen, entrei no ônibus 3a, paguei a passagem, olhei pras instruções que tinham me dado e me vi forçada a sair do ônibus no ponto seguinte. Lou, a gente tem que ler as instruções antes de executar o plano!!! Voltei ao ponto inicial e atravessei a rua. Era isso que a instrução dizia. Atravesse a rua. Peguei o ônibus 3b e cheguei na Uniklinik, pruma sessão de terapia em grupo (de afásicos).

Esses afásicos estão em tratamento intensivo e moram no Hospital, inclusive dividem quarto. O dia deles é cheio: terapia individual, fono, fisio, terapia em grupo, massagem, e mais tantas outras coisas. E esse tratamento intensivo dura 7 semanas e é sustentado pelos impostos dos cidadãos que pagam impostos e ususfruem de um sistema de seguro de saúde que funciona.


Consegui perceber o impacto que tem uma teoria que sustenta uma terapia. Em Aachen os caras são mais pragmáticos, mas não definem bem o termo, então as atividades são de interação e pronto. Hoje nós (estagiária, 4 afásicos e eu) montamos um cardápio de um restaurante italiano e botamos preço nas coisas; e jogamos um jogo da memória. Aqui, na Sint Maartinskliniek, em que uma das terapeutas é cria do meu orientador, a aplicação da Teoria da Adaptação é visível. Em Nijmegen, os afásicos todos são estimulados a usar meios que não sejam palavras pra se comunicar quando a plalavra não vem. Lá em Aachen os afásicos têm à sua frente papel e lápis. Dá pra desenhar alguma coisa, mas eles sempre tentam escrever, e aí vem o problema: primeiro que se continua à procura da palvra, e segundo que a maioria deles tem a parte direita do corpo paralisada desde o derrame e ainda não consegue escrever com a esquerda... Aí eu já acho que botar lápis e papel na frente deles não refresca, só frustra os caras.


Tinha feira de Natal em Aachen, no pé da catedral. Oba!!!Muvuca de gente!!! Me atirei às barraquinhas, conversei com um monte de gente, elogiei os artesanatos, comprei Aachener Printen, uma especialidade de Aachen (pão de mel com gosto de Natal e coberto de chocolate). Entrei na catedral, acompanhei um tour em italiano e fiquei pequena diante da grandiosidade da igreja. Sentei num banco de praça na frente da catedral e fiquei me imaginando fotografando aqueles estilos todos misturados numa só construção antiga e provavelmete muitas vezes reconstruída. Sim, porque toda vez que eu olhava pra ela, eu reparava que uma parte era gótica, a outra romana, a outra barroca e que até os gárgulas eram de épocas e estilos diferentes.


A caminho da estação de trem, fui seguindo quatro crianças negras rastafaris que falavam alemão melhor que eu. (Não consigo deixar de achar divertido. Pra mim ainda não é normal ver negros falando alemão fluentemente, porque eu não passei muito tempo lá... Lembro, claramente, que em 1994, quando estávamos de turistas em Rotenburg ob der Tauber, uma senhora que vendia souvenirs comentou, espantada, com a colega, que tinha visto um negro.) Bom, o que importa é que um deles tava todo orgulhoso por ter a camisa original do Ronaldinho. Que original, que nada! É, sim, olha aqui, tem até o nome dele escrito nas costas! Todas as camisas de futebol verde-amarelas têm o nome do Ronaldinho nas costas! Não têm, não!!!


Entrei no trem de volta pra casa e notei, quando cheguei em Nijmegen, que tinha lido 70 páginas nessas 5 horas e meia de viagem. Pronto. Quando eu achar que preciso me focar na leitura, pego um trem pra bem longe. A leitura rende no trem, apesar dos adolescentes barulhentos, crianças se esgoelando sem nunca perder a voz; e minhas fantasias com senhorinhas armadas com facas de cozinha. Sim, porque é a coisa mais comum do mundo uma senhorinha, de 60 anos pra mais, sentadinha no trem ou na estação mesmo, remexer na bolsa e pescar de lá de dentro uma banana, maçã ou nectarina, um guardanapo e uma faca de cozinha. Quem diria que cabe tanta coisa na bolsa de uma aposentada! E justo tanta coisa que eu nunca consideraria levar numa bolsa.... Sei lá, pra mim daria na mesma se eu visse um homem se barbeando no trem. Faca de cozinha na bolsa...

terça-feira, novembro 28, 2006

Por onde andará Ricky?

Algum dia algum cara chamado Ricky deu o número de telefone dele prum monte de gente. Isso acontece.
Só que o número que ele fez as pessoas anotarem é idêntico ao meu número de telefone.

O meu telefone vive tocando e eu, inocente, achando que é pra mim, preciso sempre explicar pra mulherada que eu não sou Ricky, nem mesmo conheço nenhum Ricky, que sim, esse é o número que você discou, mas eu sinto muito, eu sou só a Lou.

Depois do primeiro engano eu até me senti altamente capaz de conversar com alguém que fala holandês, mas entende alemão e inglês - pelo telefone. Pois é, porque eu já saquei que não basta saber cumprimentar as pessoas, saber agradecer, dar bom-dia. É preciso ser capaz de entender o que as pessoas respondem, porque normalmente elas falam alguma coisa. E algumas vezes, elas dizem alguma coisa, no meio de tanta coisa que falam! Bom, eu entendi, de primeira, que ela tinha ligado errado. Entendi as palavras, não o somente o contexto. Uau!
Acontecia da mesma mulher ligar duas vezes no mesmo dia. Aí eu entendia que ela me dizia em holandês que já tinha tentado aquele mesmo número de manhã. Eu não só reconhecia a voz dela, como também entendia o que ela estava dizendo!

Mas agora, toda vez que o telefone toca, eu tenho pena da mulherada que procura pelo Ricky e tenho raiva do Ricky, que deve ser disléxico.

Consigo imaginar alguns rostos praquelas vozes femininas. Algumas devem ser bonitas, outras querem ser bonitas, e no fim das contas, todas são iguais. Todas as mais novinhas devem ser loiras, magras e sorridentes, porque afinal, esperam ouvir a voz do Ricky. As mais velhas devem ser parentes distantes. A tia que mora em outra cidade, a vó que sente saudades do pequeno Ricky e a cunhada que precisa de um dinheiro emprestado. As vozes que não transmitem essa expectativa adolescente e febril de falar, depois de tanto olhar pro telefone, com o Ricky, devem pertencer à agente de viagens, à operadora de telemarketing, à funcionária da sapataria ou à moça que divulga o jornal regional e tenta vender assinaturas pra qualquer um.

segunda-feira, novembro 27, 2006

Meu lado negro




A nossa casa tem duas geladeiras: uma no porão e outra na cozinha. A do porão é só minha, a outra é dos outros e exala um forte cheiro de iogurte estragado, leite talhado e cebolas apodrecidas.
Acontece que a geladeira da cozinha parou de funcionar. A lâmpada continua acendendo quando se abre a porta dela, mas ela não exerce mais a sua função primordial de gelar e assim manter os mantimentos a baixas temperaturas.
Agora ela exala um fedor de espantar defunto.
Essa é a situação.
Agora vem a complicação. Annelies, a filha do dono da casa, teve um colapso nervoso e ficará em repouso na casa dos pais por umas semanas. Quando me contaram essa desagrável notícia, eu arregalei os olhos, apontei pra geladeira com o braço esticado e perguntei, em voz alta: e quem vai consertar essa geladeira????
Só depois da reação dos outros eu percebi que aquela não tinha sido a pergunta certa. Devia ter perguntado onde o episódio se deu, se ela está bem, se devemos mandar flores ou um cartão.

Acabou mais uma novela de banco

Dessa vez era o Banespa.

Tudo começou quando me avisaram que recebi um mês de bolsa indevidamente e precisava devolver a grana. Justo. Eu tinha pedido para suspenderem a bolsa brasileira, já que eu receberia a portuguesa aqui na Holanda. Suspenderam, mas mesmo assim depositaram um mês indevidamente na conta do Banespa.
Só que não dava pra simplesmente transferir a grana pra outra conta Banespa, não, as coisas realmente burocráticas são realmente complicadas.
Era preciso que alguém fosse na secretaria de pós da Unicamp, pegasse uma guia e pagasse o valor da bolsa numa conta do Banco do Brasil. Tá vendo como é complicado e o caminho é tortuoso...
Muito bem, liguei lá em casa, na Oca, pedi ao Ruy que me quebrasse esse galho.
Transferi mais de mil real pra conta Banespa do Ruy, ele foi na secretaria, depois no Banco do Brasil e tudo se resolveu.

Ledo engano. O meu acesso ao Internet homebanking Banespa foi bloqueado. Medida de segurança. Favor contactar o Superlinha.
Liguei no Superlinha. Aquela coisa de digite tal úmero, digite tal número, espere um instante, sua ligação é muito importante para nós. Finalmente falei com uma voz humana, não sintetizada. Ah, alguém da sua agência fez esse bloqueio, você precisa ligar na sua agência.
Liguei no Banespa Barão Geraldo. De novo as longas esperas, aquels vozes que se repetem, te oferecendo seguros e uma vida tranqülia. Mas a sua agência é Unicamp ou Barão? deve ser Unicamp. Ligo lá, longa espera, voz enervada e estressada de mulher histérica me pergunta se é reitoria ou hospital. Reitoria. Converso com um cara que diz que agência não tem nada a ver com Internet homebanking, que isso aí é coisa de Superlinha.

Instalei o Skype, pra não ter que pagar tanto a cada ligação pra agência.

Passei um mês entre Superlinha e agência, conversando com quase todos os atendentes. A telefonista do Banespa Reitoria me reconhece pela voz, e pelo fato de eu pedir pra falar com o Hudson. Hudson já suspirava ao reconhecer a minha voz. Não, ainda não tive nenhuma resposta, não sei por que bloquearam o seu acesso.

Quando liguei no Superlinha pela quarta vez e conversei com a Patrícia Christina, ela me explicou que o meu acesso tinha sido bloqueado por causa daquela transferência pra conta do Ruy. Por motivos de segurança, o Superlinha liga pra agência e pede pra eles me acharem e perguntarem pra mim, por telefone, se fui eu mesma que fiz a transferência. Como eu não estava em casa, mas na Holanda, a agência não pôde me perguntar nada. Pumba! Avisou no Superlinha que eu sumi do mapa e pimba! Cortaram o meu acesso à minha conta.

Uau, hein! Como procedemos? O Hudson precisava mandar uma mensagem por escrito pro Superlinha, dizendo que eu mesma tinha feito aquela transferência no dia 27 de outubro. Mas eu estou aqui, te dizendo que fui eu mesma quem fez a droga da transferência! É o procedimento, senhora Lou. Ótimo. Respirei fundo e liguei pra agência. Sempre a mesma coisa: a telefonista atende, ouve que eu quero falar com o Hudson e me liga com uma Juliana, Camila, Eliane, Adriana. Uma dessas diz que o Hudson tá numa ligação. Eu explico que tô na Holanda e as coisas se agilizam. Expliquei pro Hudson o que ele tinha que fazer.

Incompetente. No dia seguinte, Patrícia Christina me diz que não recebeu nenhuma mensagem do Hudson. Ela me segura na ligação e liga pro Hudson. Volta pra agradecer que eu esteja esperando na linha, e volta a falar com o Hudson. Um perfeito triângulo telefônico! Só que eu fiquei no vácuo, ouvindo o zunido da distância que nos separa. Hudson prometeu escrever pra ela. Que bom! Quando ele escrever, o meu acesso vai ser liberado? Não, é preciso ligar no Superlinha e solicitar o desbloqueio.

Hoje eu liguei no Superlinha e pedi pra falar com a Patrícia Christina. Ninguém com esse nome. Confesso que fiquei branca e verde por um segundo, mas respirei fundo e expliquei a minha deplorável situação. Ah, sim, aguarde só um momento. ... ... ... Prontinho.

O que aprendemos disso tudo: segurança custa caro.
Muitos telefonemas, dinheiro, tempo, paciência e neurônios. Os meus créditos Skype estão quase no fim, a conta de telefone deve ser bimensal, porque ainda não veio, mas deve vir metralhando à queima-roupa a minha conta bancária daqui.

Na videolocadora

Estava com fome e sede de ver filmes. Não só curtas pelo portacurtas, mas filmes, assim, de pelo menos uma hora e meia de duração. Uma opção seria o cinema, a outra a locadora.

No cinema iam morrer uns 8 euros pra eu ver um filme em som original (espanhol, no caso de "Volver", do Almodóvar, ou inglês, no caso de qualquer outro que eu escolhesse) e legendas em holandês. Meu espanhol não é tão bom assim, muito menos pra acompanhar as neuróticas mulheres de Almodóvar. Restaria um filme em inglês. James Bond ... hm... ahm ... não.

Vamos pra locadora. Fiz a ficha de cadastro, e como não tinha ninguém na loja e a moça tava só catalogando filmes, ela largou seus afazeres e me apresentou toda a locadora. Foi realmente um tour, e deu pra notar que ela tava degustando as palavras inglesas na boca. Por fim, mostrou que os filmes estão divididos por gênero: dramas aqui, ação ali, infantis deste lado, lançamentos toda a parede aqui, eróticos lá atrás, suspense do lado dos de horror, aqui na frente os que nós, da locadora, achamos que realmente são bons; e aqui os de cultura. Aqueles que são realmente cult. Aqueles filmes-cabeça, que tem que prestar atenção.
Se eu levasse 3 filmes do catálogo, ou seja, não-lançamentos, pagaria 7 euros e poderia ficar com eles por uma semana.

Hm... ahm... melhor que cinema.

Agradeci e me pus à procura de um filme que eu ainda não tivesse visto e pudesse ser apreciado numa língua que eu entendo. Na estante dos filmes cult estavam os filmes estrangeiros, claro. Argentinos, japoneses, australianos, iranianos, essas nacionalidades. Havia dois brasileiros lá. Um dava pra imaginar mesmo que fosse tipo o cartão postal do cinema brasileiro: "Cidade de Deus". Não que eu tenha gostado do filme (saí verde e vomitando da sala, antes do fim do filme), mas é que fez sucesso e vendeu bem. O outro... puxa, que decepção! "Maria cheia de Graça", aquele filme com o Padre Marcelo e Giovanna Antonelli, ou sei lá como ela se chama. Não sei se esse filme fez sucesso e vendeu bem. Mas essa é a imagem que se tem do Brasil fora dele? Violência e fervor religioso?

E o que acontece com "Narradores de Javé"? Esse é pra mim um dos melhores filmes brasileiros que eu já vi. Não tinha nem pra vender em Campinas, só pra alocar... Ou "Aspirinas, urubus e cigarros" ou algo assim, não lembro da ordem das palavras, mas acho que são essas. Outro filme brasileiro bom. Bom mesmo!

Acho que se eu tivesse visto "Durvaldiscos" na estante da videolocadora de Nijmegen, ao invés da "Maria cheia de Graça", eu teria saído de lá divertida pela idéia de que a imagem construída do Brasil é a de violência e insanidade alegre.

domingo, novembro 26, 2006

Marcos da Lou


Marcos da cidade

Torre no parque onde havia gansos. Deve ser muito antiga.



Ruína no Valkhof, que também é parque. Certamente é antiga...


A ponte que liga Nijmegen à parte norte do resto do mundo.

Labirinto de água




Caminhando ali perto do Reno, tinha esse labirinto de águas...



No parque



As árvores





Chorão sem folhas é esquisito...

Andando pelas ruas de Nijmegen





Domingo de sol



É domingo e o sol lá fora convida prum passeio. Antes de deixar a casa, essas frutas e folhas do jardim prendem a minha atenção.

sábado, novembro 25, 2006

Pra fora da janela

Essas fotos eu tirei pra quem não entende que eu sinto falta de sol e céu azul. As árvores já perderam suas folhas amarelas e laranja e vermelhas, que tanto me agradavam. Acho que a chuva levou tudo abaixo.
Caso não seja possível reconhecer a árvore abaixo, já que está sem folhas, aviso que se trata de ciprestes. Ciprestes pelados, quem diria.


Claro que começou a chover enquanto eu esperava o upload das fotos. Óbvio! Olha esse céu, como tá pesado, na imnência de despencar em chuva fina...


Não é à toa que verde é a cor da esperança. Me sinto como Noé, na arca, vendo a pomba voltar com um raminho de oliva no bico.



sexta-feira, novembro 24, 2006

Sobre os telegramas

Recebi 147 telegramas escritos de acordo com uma das 6 situações que eu tinha inventado. De todas essas, só 54 passaram na peneira. O critério pra peneirar os telegramas foi a extensão deles. Passou de uma linha, não passa na peneira.

Notei algumas coisas altamente interessantes. Eu achava que todos os telegramas fossem construídos seguindo o princípio da omissão. Eu esperava que artigos e prepsosições e verbos de ligação, além de conjunções, fossem apagados. Qual não foi a minha surpresa, ao me deparar com 3 telegramas sintaticamente bonitinhos. Tava tudo lá: as preposições, os artigos, os verbos e substantivos, e, pasmem, a mensagem era compreensível.

Outra coisa que eu notei é que apareceram muitos (18) verbos no futuro do indicativo. "Não chegarei", "namorada passará hoje", "pai virá" e outras coisas que a gente não diz (nem não escreve), porque prefere a versão composta "não vou chegar", ou ainda o presente do indicativo, mesmo: "namorada passa hoje".

Uma última coisa genial que eu encontrei é a construção tópico-comentário. É o seguinte: a pessoa anuncia um tópico e depois faz um comentário sobre ele. Um exemplo é:
"Texto: posso entregar semana seguinte?"
O meu afásico faz igualzinho!!!!!

Pogréssio!
Demônios é muito da hora!!

Controle de qualidade

Ouvindo Demônios da Garoa e comendo pistache, pesco algo que não tem a forma de uma pistache do saquinho. Mais fino. Como um galho. Sim, trata-se de um galho dentro do pacote de pistaches. Bah!

As pistaches são californianas, mas a embalagem está escrita em alemão e está escrito que o produto pode apresentar eventuais amendoins ou outras nozes. As pistaches californianas foram embaladas em Hamburgo. Putz.

Será que o galho veio da Califórnia? E deve servir de instrumento para convencer os consumidores de que as pistaches são de verdade, ou para apaziguar as saudades dos californianos expatriados?

Compositor e intérprete

No centro de Nijmegen, pouco antes da chuva voltar a nos atormentar, passei por um grupo de homens tocando instrumentos de muito sopro e fôlego. Não sei ditinguir trombone de tuba de trompete, mas eram esses instrumentos de porte e peso que tocavam "Brasil", da Gal Costa. Meu Brasil brasileiro.

Deu saudade da Gal, que coisa.

Em casa, vasculhei nas Internete e descobri que "Paula e Bebeto" na verdade é do Milton Nascimento, não da Gal. Do mesmo modo foi esquisito ouvir "De noite, na cama" na voz de Caetano, não Marisa Monte. Ainda nessas descobertas, ouvi "Balança Pema" na voz de Jorge Benjor, não Marisa Monte. Agora estou ouvindo "Chove chuva", só pra ver se para de chover lá fora. Duvido.

quinta-feira, novembro 23, 2006

Umidade do ar

Só pra continuar me lamentando, vejo sites de previsão e constatação do tempo, tipo br.weather.com que é legal.
O que importa ver no momento é a umidade do ar, já que a temperatura de 11 graus é suportável. Em Campinas tá fazendo 30 graus, tá, eu sei.

Mas reparem na umidade do ar. Aqui ela é de 82%, ou seja, o mundo aqui está a 18% de virar um oceano embaixo d´água. (Andei vendo desenhos do Bob Sponja, por isso a tautologia.)
Em Campinas a umidade do ar tá em 31%, só pra se ter uma idéia de como a vida aqui está pouco seca.

Em casa

Credo.

Que tempinho chinfrim lá fora. Chuva fina e constante, tudo cinza claro e frio.

Não dá vontade nem de procurar pretextos pra sair de casa.
Não dá vontade de ler, por causa do barulho incessante da chuva, que eu não quero ouvir.
Não dá vontade de ficar no quarto, porque ele é sempre o mesmo.

Limpei a casa toda, fiz bolo de banana e sopa de legumes. Os moradores da república vão ficar felizes por eu ter sido aprisionada pela chuva.

quarta-feira, novembro 22, 2006

Termômetro

Ontem liguei o aquecedor pela primeira vez.
O termômetro do lado de fora do vidro da janela acusava 4°C.

Já sei agora que logo, logo sentirei saudades de ver os meus pés, sempre metidos em meias.

És brasileira?

Tinha esquecido de contar essa anedota.
Estava eu, no aeroporto de Eindhoven, esperando o avião atrasado pra ir pra Marseille, lendo um livro. Não era qualquer livro, era "Cem anos de solidão", do García Márquez, traduzido, não no original. É de se entender que a minha atenção estava totalmente absorvida pelo magnetismo do livro.
- Olá! És brasileira?
Perturbada pelo grito, levantei a cabeça. Uma loira sorria pra mim. Era comigo. Ela tinha perguntado alguma coisa e esperava pela resposta. Plim. Caiu a ficha. Às vezes demora pra cair. Deve ser DDI...
- Não.
Sorri de volta.
- °
Era visível que ela não soube como interpretar essa resposta. Como pode alguém ler um livro escrito em português e não ser lusitano? Como o silêncio estava começando a ficar constrangedor e os nossos sorrisos estavam ficando sem graça, informei que sou brasileira.
- Ah... ... ... ... ... ok
Voltou a olhar sua revista de moda.

terça-feira, novembro 21, 2006

Obrigada




Obrigada pela acolhida bem brasileira, pelos passeios, pelo tempo, pela amizade.

Subindo até a Notre Dame de la Garde

Não sei se escrevi isso errado também. Meu francês é meio manco... Bom, a igreja é do porto, dos que chegam, dos que seguem pelo mar, dos que navegam, dos que se perdem na imensidão azul.
Fica no alto do morro, como dá pra ver pelo fato de as mihas companheiras terem ficado pra trás. Não que eu seja melhor subidora de morros, mas é que eu prefiro ir de uma tacada só, pra descansar depois, quando chegar no topo.

Estamos olhando pra Chateau D´If (acho que acertei a ortografia), a famosa prisão em que Monte Cristo teria sido aprisionado, se tivesse existido fora das páginas de um romance assinado por Alexandre Dumas (o pai, que também escreveu "Os três Mosqueteiros", não o filho, que escreveu "a Dama das Camélias").


Reparem que aquela minha impressão de que as casas são todas da mesma cor de areia se confirma.

La Major










Essa é a igreja de grade porte mais diferente do padrão. É idiossincrática... Tem umas influências árabes na decoração e um nome mais pro espanhol, mas tá pertinho do cais de Marseille.

Mais fotos do vento


Haha! Fotos do Mistral descabelando as minhas companheiras.

Em Marseille







Fomos ao cais de Marseille, nos deslumbrar com a água cristalina e azul do Mediterrâneo.
Dá pra notar que eu já tomei um solzinho na cara... Esrou vestindo a minha armadura de expedição ao Pólo Sul por causa do Mistral, um vento forte e incessante que teima em soprar e se embrenhar nos nossos cabelos.

Cloitre




Kreuzgang em alemão, não sei como se chama em português. Mas é o jardim em que os monges passeiam e fazem suas orações. A última foto é da catedral em Aix, onde fica a cloitre. A penúltima mostra um detalhe de um pilar na cloitre. O coiso de trás é entalhado em mármore de Carrara. Quem se interessa por escultura, sabe que esse mármore é valioso pa carai.

Isso sim poderia ter aqui!


Aqui tem muita padaria de pão mole.

Na França tem muuuuuuuuuuuuuitas pastisserie - devo ter escrito isso errado. São as confeitarias sempre cheias.