terça-feira, abril 24, 2007

Retribuindo um favor

Muito tempo atrás, eu precisei imprimir uma coisa. A impressora ligada ao meu computador na universidade não fica na mesma sala que o computador, mas na sala onde ficam os mestrandos. Fui até lá, esperei a impressora cuspir papel com letrinhas, mas nada acontecia. Uma luzinha piscava, indicando que a impressora estava sem papel. Como eu não tenho muita familiaridade com esse tipo de máquinas, pedi ajuda pra moça que estava sentada na sala. Só tinha ela na sala.
A moça era uma japonesa dos cabelos brancos e olhos muito apertados. Ela estava com a cara colada na tela do computador, lendo. Veio me ajudar na boa, pediu que eu lhe desse instruções, do tipo, em que bandeja ela quer papel? Você está vendo a caixa de papel em cima da mesa aqui do lado? Isso, muito bem. Ela tateava pela impressora e eu me senti meio maus por pedir ajuda a uma pessoa deficiente. Sim, porque a japonesa era albino e quase cega.

Ontem, a caminho de volta do supermercado, vi a japonesa dos cabelos brancos caminhando a passos vacilantes, dando meia-volta, seguindo, se orientando pelo barulho dos carros. Imaginei se eu não poderia ajudar. Se eu oferecer ajuda, preciso ser capaz de ajudar. Essa não é a minha cidade, e eu não sabia por exemplo o nome da rua em que estávamos, então eu hesitei. Ela, no entanto, ouviu os meus passos, virou-se na minha direção e perguntou onde fica Groesbeekseweg. Eita, essa é a minha rua! Vem comigo. Alívio sentou-se nos ombros da moça.

Deixei a japonesa no ponto de ônibus, e ela agradeceu tão efusivamente quanto eu tinha agradecido a ela, quando ela colocou papel na impressora por mim.

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