quinta-feira, março 29, 2007

Workshop on information structure

Parece congresso, mas não houve inscrição, submissão de artigos, cartas de aceite, apoio financeiro, compra de passagem e reserva de albergue. Não, nada disso. Meu orientador me mandou um e-mail, dizendo que vão falar sobre elipse num dos 3 dias do workshop, e que talvez isso me interesse. Claro que interessa!!! O que eu preciso fazer pra me inscrever? Mandar um e-mail, confirmando interesse, porque o número de assentos é limitado. Mando o tal do e-mail e me respondem no mesmo dia, dizendo que tá tudo beleza.

Hoje de manhã pedalei até o Max Plank Institut. Fica atrás da Radboud Universiteit, atravessando a floresta. Nunca tinha ido lá, não sei bem por quê. Acho que tava esperando alguma ocasião propícia. Uma van descarrega um monte de mulheres falando alemão, com cara de turista perdido, olhando pra todos os lados e achando tudo diferente. Prendo a minha bike no bicicletário, desço a barra da calça na perna direita e sigo o grupo. Vão direto à sala 1.63, que é a sala onde acontecerá o workshop. 70% das pessoas são do sexo feminino. Os poucos homens são as atrações do workshop: Van Valin, Krifka e Gussenhoven.
Na fala de boas-vindas, os exemplos dados em alemão são traduzidos para o inglês, já na primeira apresentação, essa prática é abandonada. Metade do público é falante nativo de alemão, a maioria da outra metade é falante nativa de holandês e entende alemão suficientemente bem. Mas a língua de comunicação continua sendo inglês.

Duas pequenas estórias marcaram o meu primeiro dia de workshop.

A moça de Washington apresentou exemplos de entonação contrastiva. Um dos exemplos era o relato de uma guria chinesa (vamos chamá-la de Li) contando que queria ligar pra mãe dela. Por descuido, acabou discando o número da amiga dela (vamos chamá-la de Chu), e a mãe da amiga atendeu. Li pensou que a voz do outro lado da linha pertencia à sua mãe, e a mãe de Chu achou que tava fando com a sua filha. Se desentenderam e começaram a brigar, sempre se referindo à outra como "mãe!" e "filha!". Desligaram o telefone, descontentes uma com a outra, e logo em seguida Chu apareceu em casa e foi surpreendida por uma mãe altamente mal-humorada. Estórias de imigrantes chineses os Estados Unidos.

***

Van Valin tava em dúvida se em Kaluli, uma língua falada em Papua Nova Guinea, a entonação na primeira palavra de uma certa sentença causava ambigüidade ou não. Ligou prum colega, lingüista, falante nativo de Kaluli e perguntou se tal sentença era ambígua. O colega respondeu: claro que é, mas nenhum falante nativo de Kaluli sabe disso.

Essa estória mostra bem como a gente vira especialista em achar problemas, complicações, que não causam nenhuma dúvida ou desconforto aos usuários da língua. Só lingüista vê ambigüidades, movimento, estruturas de tópico-comentário, elipses e essas coisas. As pessoas normais simplesmente entendem, ou se esforçam pra entender o que o outro disse, e pronto.

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