quarta-feira, março 21, 2007

Postweg

Postweg é o nome da minha rua preferida em Nijmegen. É a rua que eu tomo pra voltar pra casa, depois de uma caminhada pelas florestas vizinhas da cidade. Trata-se de uma rua fechada para o trânsito normal, somente os residentes usam a rua para estacionar seus carros nela, e quase não passa carro lá.
Talvez por isso haja tantas crianças na Postweg. Ou elas estão brincando de amarelinha, ou riscando o chão com gizes de várias cores, ou estão correndo por aí, dando risada, ou sendo instruídas nas lições importantes dessa vida: dat is links, kijke! Dat is rechts, kijke! (Esta é a esquerda, olha! Esta é a direita, olha!)
Caminhar na Postweg ao entardecer é andar com vista para o pôr-do-sol por entre as árvores com seus galhos sem folhas. É o sol se despedindo do dia e eu me despedindo do passeio.
As casas na Postweg têm jardinzinhos na frente, com flores que desabrocham primeiro que todas as outras da mesma espécie. Foi num desses jardins na Postweg que eu descobri que Weidenkätzchen (desculpem, não conheço outro nome pra essa planta) na verdade vira flor. Eu achava que fosse só um pequeno tesouro da natureza em forma de botão, todo peludinho. Na Postweg, cada um daqueles fiozinhos agradáveis ao toque se abre numa florzinha amarela que exala um cheiro doce.
Postweg é uma rua de mil cheiros. Dependendo da hora, tem cheiro de tijolo quente, de terra molhada, de flor, de brisa fresca, de carne salgada cozinhando na panela, de bolo de maçã saindo do forno, de arroz queimado.
Esta rua reverbera vários sons diferentes, e cada um é específico de um certo horário. De tarde são as crianças brincando. Mais tarde, são os pais recolhendo seus filhos. Quando há sol, são os pássaros que fazem a festa, quando não se ouve nada, o vento sopra.
As janelas não têm cortinas, então dá pra ver pra dentro das casas e até mesmo através delas, porque a janela da sala, que dá para o pátio, também não tem cortinas. Aí se vê várias cenas do cotidiano: o pai de família sentando no sofá com uma faca numa mão e uma bacia de batatas na outra e as crianças recolhendo os brinquedos da sala, a mãe botando a mesa, o avô tomando sopa, um senhor sentado de costas para a janela, lendo o jornal, um adolescente olhando pra tela do computador, os adultos olhando pra tela da televisão, o gato deitado no encosto da poltrona, olhando pra fora da janela.

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