Estudando a estrutura de construções sintáticas menores que uma sentença, me deparei com descrições de pidgins. Pidgins são línguas misturadas, que existem pra fins puramente comunicativos e surgem em contextos altamente restritos, portanto são bem simples. Pidgin não é língua materna de ninguém, mas se baseia nas línguas maternas das pessoas que precisam, por exemplo, negociar/ comercializar produtos. Não há regras pra pidgins, depende sempre de quem o fala. Quando os japoneses, por exemplo, falam pidgin com um inglês (ou americano), os japoneses colocam o verbo no final da sentença, porque em japonês é assim que as coisas funcionam:
Da pua piipl awl potato iit.
The poor people all potato eat.
Agora quando os filipinos falam pidgin com um inglês (ou americano), eles colocam o verbo no começo, porque a língua materna deles usa a estrutura VSO (verbo, sujeito, objeto):
Wok haad dis piipl.
Work hard, these people.
Tanto os filipinos como os japoneses usam a estrutura de suas línguas maternas pra comunicar numa língua que é um acordo comunicativo com os ingleses (ou americanos).
Hayat, a iraniana, me perguntou qual era a minha língua materna. Respondi que português e alemão. Quando eu disse "português", ela acenou com a cabeça, mas quando eu disse "alemão", ela levantou a sobrancelha esquerda e coçou a nuca. Expliquei que o meu pai é alemão, e que por isso eu também falo alemão. Ela virou a cabeça de lado, ainda com os olhos fixos em mim. Perguntou se eu tinha morado a maior parte da minha vida no Brasil. Respondi que sim, e ela fez beiço e acenou com a cabeça, devagarzinho.
Sua mãe é uma mulher forte, então.
Se o seu pai é alemão, seria de se esperar que toda a família morasse na Alemanha, o país do chefe de família. Como este não é o caso, a sua mãe teve muita coragem e força pra insistir que toda a família residisse no país natal dela.
Hayat usou o seu modelo de família pra interpretar a história da minha família, porque partiu do pressuposto que seguem o mesmo esquema.
Hoje fomos em 6 ao MuZIEum .
A gente se orientava pela voz dela, mas não sabemos como ela tinha controle sobre o grupo: como ela sabia que estávamos todos juntos e tínhamos explorado tudo naquele cenário e podíamos seguir para o cenário seguinte?
Mostrar as coisas pros outros era complicado, mas logo aprendemos que era preciso pegar a mão da outra pessoa e conduzi-la até o local em que estava aquilo que se queria mostrar, pra que o tato da pessoa lhe desse informações que a escuridão escondia. Aconteceu, porém, de alguém perguntar onde era a janela, e Jonas levantar o braço, com o indicador esticado, pra mostrar a direção. Tinha gente no caminho do dedo e todos caímos na risada.
Boti aprendeu os nomes de todo mundo rapidinho, porque a gente vivia checando quem era a pessoa que estávamos tocando. A gente se reconhecia pela voz e pela língua: quando a resposta vinha em inglês, eram Boti ou eu sendo segurados por alguém.
Além do tour guiado por um cego, tem a parte de museu, em que há exposição de coisas que causam ilusões óticas, um pouco de história, jogos para cegos, tipo jogo da velha em tabuleiro, dominó e tal. Nessa parte, a coisa doida são as línguas: tudo o que estiver escrito, está escrito em holandês e em alemão. Quando entramos na máquina do tempo, uma voz de mago cigano falava em um pidgin de alemão e holandês. Metade era em uma língua, a outra metade em outra. Bem bolado, entendi mais que a metade!!!
Ainda em relação às línguas, a nossa guia, Ineke, é holandesa, e apesar de Boti e eu termos concordado em acompanhar o tour em holandês, (confiamos que íamos entender as coisas with a little from my friends) ela falou inglês a maior parte do tempo. Mais um exemplo em que um tenta se colocar no lugar do outro, mas sempre apareciam expressões em holandês na fala da Ineke, e nós mantivemos os olhos arregalados durante todo o tour na mais completa escuridão.
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