A Holanda é um país protestante. As igrejas visíveis são protestantes, as outras são escondidas. As igrejas católicas funcionavam em casas residenciais, as sinagogas judaicas também e as mesquitas idem. Existe uma coisa a respeito dos holandeses que precisa ser compreendida: eles são extremamente tolerantes, na medida em que lucram com o outro. Não expulsaram os católicos de suas cidades, nem denunciaram os judeus, acolheram os muçulmanos e asiáticos porque essa gente toda consome e paga impostos na Holanda. A lei suprema determina que todos os não-protestantes sejam perseguidos e extintos. Mas se ninguém está vendo as igrejas católicas, se os judeus não fazem alarde, então as coisas ficam como estão. A mesma coisa com os Coffee Shops. Não anunciam a maconha, ela nem mesmo consta nos cardápios, mas todos sabem que ela está à venda nos Coffee Shops. Plausible deniability é o termo que descreve essa situação.
No meu mapa constava uma mesquita. Oba!!! Nunca fui a uma mesquita, eu queria ter ido numa em Berlin, mas aquilo era uma sinagoga. Eis a minha chance!!! Caminhamos, demos voltas, passamos o ponto, estudamos o mapa, voltamos, e por fim entramos numa porta aberta que dava numa escadaria. Havia vozes femininas lá em cima. Vozes de tias e avós, não de meninas. Ãhm. Hesitamos, saímos, tocamos a campainha, juntamos coragem, subimos as escadas até a metade, ouvimos mais vozes femininas roucas, vimos sapatos dispostos no chão. Não, isso não pode ser uma mesquita. Saímos, com a sensação de ãhrgh! e perguntamos na padaria turca onde era a mesquita. Sorridente, a mulher indicou: next door.
Entramos nessa porta aí. Um corredor longo, com uma parreira seca acompanhando o teto nos levou a um pátio. Lá havia bancos e janelas enormes que davam para um salão cheio de homens barbudos e de uma certa idade avançada. Pararam de comer, conversar e respirar quando nos viram: eu de gorrinho e jaco laranja, Dora tác tác tác sobre seus saltos altos e Régis, o japonês paulista que havíamos conhecido naquela manhã. O corredor continuava, portanto passamos pelos senhores intrigados e nos deparamos com uma escada que subia pra cozinha e outra que descia prum salão cheio de vozes de homens. Ãhghm. Isso não tá com cara de mesquita, pessoal. Meia volta, volver. Rua!
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