terça-feira, março 20, 2007

Pessoas novas

Na minha casa entrou mais um homem do sexo masculino. Continuo sendo a única moça de família nessa casa! O sujeito que entrou recentemente está ocupando o meu antigo quarto e é francês como o Alexis, e trabalha na Schneider Electrics como o Ruben e o Alexis, e se chama Clement. Mas a pronúnicia desse nome é cheia de vogais arredondadas: Klömón. Ainda temos um quarto vago na casa, o antigo da Stephanie, e os meninos já estão de olho numa russa que vem trabalhar na firma com eles. Aí pronto, abrem uma filial da Schneider Electrics aqui mesmo e não se fala mais nisso.

Na B.00.74 chegou uma moça tímida, loira, perdida, que foi apresentada a todos. Eu tava esperando uma orientanda do meu orientador, vinda do Irã, e fiquei atenta. A loirinha falava inglês e se apresentou como Marlene. Não era a iraniana. Nem vem dar risada, porque a Pegah, que dizem que é sueca, tem cara de iraniana, então por que não uma loira iraniana?

Cansei de marcar encontros com o orientador e a iraniana, porque sempre algo dava errado. Ou ela não tinha chegado ainda, ou eu tava em Amsterdam, ou a gente se esquecia dela. Hoje, finalmente, encontrei com o orientador e a Hayat. Hayat significa "vida". Ela está aqui por um semestre e vai analisar seus dados de afasia em Farsi (ou Persa). Ela contou que foi muito difícil conseguir 10 afásicos de Broca que fossem monolíngües em Teeran. Ela foi de hospital em hospital, procurando por pacientes cuja única língua materna fosse Farsi. No Irã, as pessoas falam Farsi e mais uma outra língua, que pode ser Turco, Árabe ou Inglês. Contei pra ela que quando eu ainda tava como aluna especial na Unicamp, ou seja, antes do mestrado, eu tinha pedido pruma professora me achar um afásico bilíngüe. Pra ver se havia competição entre as línguas, se as duas tavam preservadas depois do derrame, se havia campos semânticos (cores, animais, palavrões) preferenciais de uma língua ou não. A professora veio, depois de uns 4 meses, me dizer que no Hospital da Clínicas havia, sim, um afásico de Broca bilíngüe. Mas a afasia era uma das seqüelas do homem. Ele tava na UTI, preso a uma sonda, com quase todos os ossos do corpo quebrados e em estado de delírio. Pois é, enquanto Hayat tinha dificuldades em achar afásicos monolingües, eu desisti daquele bilingüe que acharam pra mim e parti pra Aquisição de Linguagem, me aventurar com preposições na fala de uma criança.

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