sábado, março 31, 2007

Construções causativas

Não sei se é esse mesmo, o nome das coisas que eu vou apresentar em seguida. Só sei que andam me chamando atenção faz um tempo. São aquelas frasezinhas que brilham como vaga-lumes depois da chuva do entardecer. E a gente só lembra que tinha uma luzinha ali. E quando vê outra, lembra daquela primeira, e quando vê outra, se pega contando luzinhas no mato.

O meu primeiro vaga-lume foi:
1) Eu não consigo sair o carro da garagem.

Aí apareceu outro:
2) O carro do João furou o pneu.

Aí reparei que quando holandeses falam inglês, eles raramente usam o verbo teach, e preferem usar learn:
3) In 2 weeks we learn the kids how to behave in traffic.
Em 2 semanas nós aprendemos as crianças como se comportar no trânsito.

Daí ouvi o gago americano dizer no workshop:
4) The dinossaur is flying a kite.
O dinossauro está voando uma pipa.

Daí então fui estudar que coisa é essa, que a galera chama de tópico, e me deparei com exemplos como:
5) Aí ele pifou o freio de mão do carro e teve que levar o carro na oficina.
6) Essa bolsa some as coisas aqui dentro.

Por fim, lembrei das clássicas de Sampa:
7) Olga vai operar o pé semana que vem.
8) Magy vai aposentar ano que vem.

O que estes exemplos têm em comum, é o que eu acho que é chamado de construção causativa. A receita é simples: verbos intransitivos (sair, voar, pifar, sumir) são usados transitivamente. A sensação de estranheza é causada pelo fato de haver o processo como resultado. O processo de tirar o carro da garagem tem como resultado a saída do carro. Empinar a pipa tem como resultado que ela voe, e assim adiante. Em vez de descrever o processo, vai-se direto ao resultado.
Os outros verbos não são intransitivos, pois requerem pelo menos duas partes envolvidas na ação:
alguém (agente) que fure o pneu (paciente),
alguém (agente) que aprenda a se comportar no trânsito (tema),
alguém (agente) que opere o pé (paciente) da Olga e
algo ou alguém (paciente) que a Magy (agente) vai aposentar.
A receita se complexifica: é possível adotar várias estratégias, mas o princípio básico é alterar a lógica de agente e paciente. Ou o agente simplesmente cai fora (como em 2) e 7)), ou o agente vira paciente, (como em 3)) ou o paciente simplesmente cai fora, (como em 8)).
Conclusão: A gente somos muito paciente.

Posso ajudar?

Voltei da feira hoje de manhã (pois é, nem fui no congresso... o dia tava tão convidativo pruma caminhada até o centro de Nijmegen...) e vi Kaleem e um seu amigo trabalhando numa bicicleta. Tinham virado ela do contrário, colocado o selim e guidão no chão, e tavam tentando girar a roda de trás. As mãos dos dois estavam muito sujas, e tinham cara de cansados, de muito esforço físico. Perguntei se eu podia ajudar.
Surpresos, olharam pra mim.
Expliquei que eu sei muito mais de bicicleta do que eles imaginam. No, no, we don´t need help. Disseram que precisavam alinhar a roda traseira. Realmente, parecia um ovo. Puxa, deve ter mais de um raio estourado. Já fui conferir os raios, alguns tavam soltos, mas nenhum estava quebrado. Larguei as compras na cozinha, subi no meu quarto e voltei com uma chave de raio, pra ajustar os raios frouxos. Admirados, perceberam que eu realmente sei mais de bicicleta que eles imaginavam.
Mas não consegui resolver o problema, porque o aro todo tava entortado. Perguntei se ela tinha sofrido algum acidente, e o amigo do Kaleem contou que ela lhe havia sido roubada, e que quando ele tava a caminho da polícia, pra fazer ocorrência, achou a bike na rua. Meio tortinha.
Soltamos o freio de trás, pra roda pelo menos girar, e agora o freio de pé, (contra-pedal) vai entrar em ação.
Agradeceram a minha ajuda mais de duas vezes, com ares tímidos. Suspeito que as mulheres paquistanesas não saibam, nem de longe, diagnosticar um problema numa bizcréta.

sexta-feira, março 30, 2007

Melhor lugar do mundo

Quando não chove, Nijmegen é o melhor lugar do mundo. Pelo menos pra mim. Talvez eu não queira me enraizar aqui, pagar impostos, seguir regras, falar holandês. Mas estar aqui de passagem por um ano, é muito bom.

Agora a primavera se manifesta como vida desabrochando. Um novo começo de vida pulsando. Não são só as folhas verde-claro que brotam de galhos de árvores e arbustos. São os botões das cerejeiras que vão abrir logo, logo. É o cheiro rosa-clarinho no ar, são os passarinhos fazendo festa o dia todo, são as ovelhinas, os potros e as vaquinhas no pasto, ao lado de suas grandes mães gordas e ruminantes. São as crianças pintando a calçada da Postweg, são as janelas abertas, as pessoas de regata e os ciclistas descalços. Caminhar pela floresta ao pôr do sol é como andar num livro ilustrado de contos de fada. A primavera daqui me leva de volta à infância. Maravilha!

Me sinto segura aqui, não preciso me armar de cara de brava e caminhar a passos largos. Cumprimento as pessoas nos caminhos mais afastados, sou cumprimentada pelos homens que encaro na rua. O meu círculo de amizades está se expandindo, tenho planos de viajar pela Holanda com outras pessoas - não sozinha! Maravilha!

A pesquisa vai bem, apesar de eu achar que não existem muitas pessoas no mundo fazendo a mesma coisa que eu. Talvez não existam mesmo. O orientador tá feliz com o meu progresso. Não é bem de progresso que se trata, mas sim de uma sintonização: consegui escrever o que ele queria ler. Maravilha!

Figuras

Não me senti muito à vontade pra tirar fotos de lingüistas que não me conhecem, e que eu vejo pela primeira vez ao vivo e em cores. Como eles são muito figuras, resolvi desenhar caricaturas deles. Esse primeiro é Carlos Gussenhoven.
Dá pra fazer um paralelo com o Valério, do PSTU. Sim, explico. No primeiro Colóquio Marx Engels que o Ferrone, da Oca da Tapioca, organizou, eu fui. Me apaixonei pela voz de um palestrante, o Valério, um dos fundadores do PSTU. Não lembro sobre o que foi que ele falou, mas seria capaz de reconhecer a sua voz a qualquer momento. No segundo Colóquio Marx Engels eu fui de novo, e a curiosidade se espalhou: veio gente perguntar se eu tinha vindo por causa da voz do Valério, e as pessoas em volta, que escutaram isso, ficaram curiosas pra ouvir essa famosa voz do Valério.
Gussenhoven tem uma voz altamente agradável de se ouvir. E eu iria numa outra palestra dele, só pra ouvir a voz dele, não pra aprender qualquer coisa sobre foco, contraste, pitch e essas coisas complicadas.
Mais uma coisa memorável na fala dele, é a melodia da fala do homem. É toda cantada, com um sotaque britânico sóbrio. Mais um paralelo: Um dia, Boti chegou em casa, transtornado. Contou que tem uma nova professora italiana, que fala inglês com prosódia italiana, coisa que ele acha o máximo do supra-sumo. Bateu a mão na testa, apertou os olhos: acho que vou me apaixonar pela professora!!! .... Ela é tão feia!!!!
Bom, Gussenhoven não é uma beldade...
Esse é o Manfred Krifka. Um teórico conceituado, e só por ter um sobrenome iniciado pela letra K, já é, por definição, gente boa. Pensa bem: Kierkegaard, Kant, Kafka, Koch, Kandinsky, Keller, Kolk, Kleppa, tudo gente boa.
A voz dele não é interessante, já o sotaque dele é intrigante: ouve-se um alemão falando a variante escocesa do inglês. Fôacas is in da sêam plêas (Focus is in the same place). Uma outra faceta de sua fala, porém, é perturbadora: ele é gago. E só pra agravar as coisas, o palestrante americano que falou antes dele por uma hora, era gago também. Se não olhar pra cara do Krifka, não se percebe que ele tá tendo dificuldades de iniciar o movimento articulatório. Só ouvir o homem, implica em achar que ele demora pra responder e faz pausas maiores que o normal entre uma afirmação e outra. Já o outro gago preenchia as tentativas com sons: ah ah ah ah.

Não sei o nome dessa figura. Pena que eu não a vi por muito tempo de perfil... Provavelmente ela vai apresentar amanhã. Uma coisa bizarra em relação a ela: alguém apresentou exemplos em turco, e ela logo interferiu: to my hungarian ears, this is not ambiguous. Peraí, o exemplo é em turco, quê que o húngaro tem a ver com isso? O palestrante concordou com ela: sim, é verdade, os exemplos em turco são sempre muito similares aos exemplos em húngaro. (Isso é surpreendente, já que húngaro, assim como basco e finlandês, é uma língua sem família. Português, por exemplo, é da família das línguas românicas, que inclui: latim, italiano, sardo (o último falante já morreu), galego, espanhol, romeno, português, provençal, francês e catalão.)

quinta-feira, março 29, 2007

Workshop on information structure

Parece congresso, mas não houve inscrição, submissão de artigos, cartas de aceite, apoio financeiro, compra de passagem e reserva de albergue. Não, nada disso. Meu orientador me mandou um e-mail, dizendo que vão falar sobre elipse num dos 3 dias do workshop, e que talvez isso me interesse. Claro que interessa!!! O que eu preciso fazer pra me inscrever? Mandar um e-mail, confirmando interesse, porque o número de assentos é limitado. Mando o tal do e-mail e me respondem no mesmo dia, dizendo que tá tudo beleza.

Hoje de manhã pedalei até o Max Plank Institut. Fica atrás da Radboud Universiteit, atravessando a floresta. Nunca tinha ido lá, não sei bem por quê. Acho que tava esperando alguma ocasião propícia. Uma van descarrega um monte de mulheres falando alemão, com cara de turista perdido, olhando pra todos os lados e achando tudo diferente. Prendo a minha bike no bicicletário, desço a barra da calça na perna direita e sigo o grupo. Vão direto à sala 1.63, que é a sala onde acontecerá o workshop. 70% das pessoas são do sexo feminino. Os poucos homens são as atrações do workshop: Van Valin, Krifka e Gussenhoven.
Na fala de boas-vindas, os exemplos dados em alemão são traduzidos para o inglês, já na primeira apresentação, essa prática é abandonada. Metade do público é falante nativo de alemão, a maioria da outra metade é falante nativa de holandês e entende alemão suficientemente bem. Mas a língua de comunicação continua sendo inglês.

Duas pequenas estórias marcaram o meu primeiro dia de workshop.

A moça de Washington apresentou exemplos de entonação contrastiva. Um dos exemplos era o relato de uma guria chinesa (vamos chamá-la de Li) contando que queria ligar pra mãe dela. Por descuido, acabou discando o número da amiga dela (vamos chamá-la de Chu), e a mãe da amiga atendeu. Li pensou que a voz do outro lado da linha pertencia à sua mãe, e a mãe de Chu achou que tava fando com a sua filha. Se desentenderam e começaram a brigar, sempre se referindo à outra como "mãe!" e "filha!". Desligaram o telefone, descontentes uma com a outra, e logo em seguida Chu apareceu em casa e foi surpreendida por uma mãe altamente mal-humorada. Estórias de imigrantes chineses os Estados Unidos.

***

Van Valin tava em dúvida se em Kaluli, uma língua falada em Papua Nova Guinea, a entonação na primeira palavra de uma certa sentença causava ambigüidade ou não. Ligou prum colega, lingüista, falante nativo de Kaluli e perguntou se tal sentença era ambígua. O colega respondeu: claro que é, mas nenhum falante nativo de Kaluli sabe disso.

Essa estória mostra bem como a gente vira especialista em achar problemas, complicações, que não causam nenhuma dúvida ou desconforto aos usuários da língua. Só lingüista vê ambigüidades, movimento, estruturas de tópico-comentário, elipses e essas coisas. As pessoas normais simplesmente entendem, ou se esforçam pra entender o que o outro disse, e pronto.

quarta-feira, março 28, 2007

O cúmulo

Acabo de receber um e-mail do Alexis. Alexis é o moço que divide uma parede da casa comigo. Ele me escreveu do quarto dele, provavelmente a uma distância de 4 passos de mim. Quando ele desligar o computador dele e deitar na sua cama, diminuirá a distância entre nós em 3 passos, porque a parede em que o meu computador quase encosta, é a parede em que está escostada a cama dele.
Este é o cúmulo da invisibilidade das pessoas dessa casa.
Só pra reforçar a cumulidade do evento: no e-mail, ele se despede dizendo que nos vemos amanhã de noite, na casa do Tanguy.

Encomenda

Na república em Barão, quando alguém ia ao supermercado, perguntava aos outros se era pra trazer alguma coisa. Quando a pessoa deixava a casa a pé, as encomendas eram pequenas: pão francês e uma garrafa de coca era "o de sempre" pro Ruy, os outros variavam, mas eram sempre poucas coisas. Quando a pessoa saía de carro, era acompanhada por uma lista de compras.
Isso, pra mim, é normal.
Quando eu vou pedalar pros lados da Alemanha, pergunto se alguém quer alguma coisa. As pessoas dessa casa não precisam de chá, pão ou produtos natureba, que são as coisas que fazem com que eu cruze a fronteira na minha Pequena Giant. Como o resto não muda muito de um país pro outro, nunca trouxe nada pros outros.
Até o dia em que perguntei ao Boti, se ele queria alguma coisa. Boti morou um ano na Alemanha antes de vir pra cá, e se lembra de algumas coisas. Pediu que eu trouxesse duas caixinhas de chá de hortelã (difícil de achar aqui, por incrível que pareça) e 10 tabletes de chocolate.
Dois dias atrás, ele me informou que só tem mais uma barra de chocolate.
Ontem eu perguntei se ele queria alguma coisa, e ele respondeu: sim, chá de frutas vermelhas, um salame e 10 tabletes de chocolate.
Meu, era tanto chocolate, que eu nem comprei nenhum pra mim. Fiquei pensando na moça do caixa, olhando pra mim, pros chocolates, passando um por um e cantando o preço.
Agora ficou estabelecido que Boti vai querer "o de sempre" e algumas variações do supermercado de Kranenburg.
...
Acho que vou ensinar o caminho pra ele até lá...

terça-feira, março 27, 2007

Saco de alface, vegetarianismo e dieta do tipo sangüíneo

Esse post é sobre comida e as relações estranhas que a gente desenvolveu com ela.

Tempos atrás, Christian e eu jantamos numa churrascaria argentina em Amsterdam, porque fazia muito tempo que o ele não comia carne bovina. Se não me engano, a última vez que ele tinha comido carne vermelha foi no Brasil, porque na Escócia não tem disso não, seu moço. Eu estava contando pra ele alguma coisa e falei em pé de alface. Ele pôs a mão na testa, suspirou profundamente e disse: que pé de alface, é saco de alface! Pois é. No Reino Unido não se encontra pés de alface nos supermercados. Alface vem no saco plástico, lavada e com instruções de uso. Segundo o Christian, não tem feira am Aberdeen. Pra mim isso é inconcebível, e prefiro acreditar que ele ainda não descobriu o dia e local de feira.
No entanto, noto que em alguns supermercados holandeses, as beringelas são embaladas num plástico, cada pepino num saco apertado, cada cenoura gorda num saco asfixiante. É por essas e outras que eu prefiro ir na feira de sábado e comprar frutas e vegetais lá, que me são entregues por mãos sujas de terra e cheias de calos, mãos de gente da terra. Comida pra mim não é plástico, e não precisa vir lavada. Essas nóias de higiene exagerada e praticidade extrema são coisas dessa sociedade atual.

Se alguém estiver querendo virar vegetariano, mas precisa de um empurrãozinho, tipo uma iluminação ou outra experiência quase religiosa, posso sugerir um certo vídeo. (clica ali) Vê-se animais sendo abatidos, mutilados, engordados até serem incapazes de se mover, além de outras cenas desagradáveis e ouve-se uma voz masculina, macia e quente narrando atrocidades em inglês. O público vulnerável é convertido ao vegetarianismo na hora e convencido a não consumir mais laticínios. O público mais cético percebe que as cenas fortes que vê se aplicam à industrialização da carne e laticínios. Quando a produção desses alimentos toma as proporções vertiginosas que tem nessa nossa sociedade de obesos proliferantes, é claro que os animais são criados, engordados e abatidos somente para fazer girar a economia. A qualidade de vida dos animais não importa. Importa o prazer e a satisfação do consumidor. E ele consome hambúrgueres e copos de Kentucky Fried Chicken. A economia não gira pra saciar a fome dos famintos, mas pra garantir lucros aos que já têm uma situação financeiramente vantajosa. É por essas e outras que eu compro carne no açougueiro da esquina. Se algum falante de alemão quiser conhecer uma estória de criação ecológica de porcos, e ainda por cima se envolver com a vida simples do campo, sugiro Emma´s Glück. (clica ali) Eu ouvi o livro sendo lido em voz alta pela autora, e ainda quero ver o filme, se/quando o achar.

A sociedade atual perdeu a relação normal com a alimentação. Pulamos de um extremo anoréxico ao outro extremo do prazer através das coisas calóricas. De um lado temos as pessoas que se esforçam pra seguir o padrão de beleza ditado pelas passarelas de moda, resultando em corpos esqueléticos e nóias com comida e o próprio corpo. Do outro lado temos os obesos que se consideram pessoas mais felizes, mas que são incapazes de amarrar os próprios sapatos, precisam de assentos mais largos no ônibus e não precisam passar a catraca no ônibus. Pessoas que se encaixam nessas duas categorias morrem mais cedo que a expectativa de vida previa, porque se alimentam mal.
Na exposição BODIES (clica ali) que eu vi em Amsterdam, um dos banners tinha os dizeres: you are what you eat. Dado o contexto (exposição sobre o corpo humano), a afirmação é aceitável. Eu preferiria coisas como you are what you think, mas isso não vem ao caso agora. Magrelos morrem de insuficiência (alimentar), obesos morrem de entupimento. Eis que surgem dietas pra emagrecer, engordar, ser mais feliz. Precisamos que especialistas em alimentação nos digam o que podemos comer. E cada especialista tem a sua estória. A mais duvidosa me parece ser a do tipo sangüíneo. Quem a segue, diz que não acredita nela. Mas funciona! - completa. E aí temos a situação insustentável de duas pessoas casadas faz mais de 20 anos sentadas na mesa. Ele tem o tipo de sangue O e ela A. A alimentação dos dois é complementar: o que consta na lista de coisas proibidas para O está na lista das coisas recomendadas para A e vice-versa.

Quando nos alimentarmos à base de pílulas de astronauta, não haverá mais sacos de alface, vegetarianos convertidos ou dietas milagrosas. Vai ser tão chato comer pílulas de astronauta... Super prático, sintético, sem contra-indicações, higiênico e balanceado. Mas sem-graça.

domingo, março 25, 2007

Mudança de horário

Descobri que o horário ia mudar. Foi de forma curiosa. Num site de previsão e constatação do tempo, eu tava olhando pros horários em que o sol nascia e se punha. A cada dia o horário mudava em dois minutos, ou seja, cada novo dia vinha com 4 minutos de claridade a mais no pacote. Meus olhos foram seguindo da esquerda pra direita, acompanhando os dias do calendário, e pararam, estupefatos, na passagem do dia 24 para o dia 25. Tem um salto de uma hora e dois minutos aqui!!!! Isso não parece ser um fenômeno natural!!! Essa mudança tão drástica deve ser humana. Como os humanos influenciam o tempo? Mudando os relógios (não o tempo, claro). Foi assim que alguém que não vê TV nem lê jornal descobriu que o horário de inverno acabou.

sábado, março 24, 2007

Brincando com a genética

Um supermercado bem popular daqui distribuiu sementes de trevos de quatro folhas. No caixa, cada cliente recebia uma caixinha com sementes e ouvia o usual alstublieft! Não sei se era pra galera se preparar pro Saint Patrick´s Day (na Irlanda!!), se era pra passar a imagem de ecológico (apesar de geneticamente modificada, é uma planta), ou se era uma tentativa de ajudar as pessoas a cumprirem aquelas regras que não sei quem estabeleceu algum dia: antes de morrer, é preciso plantar uma árvore, ter um filho e escrever um livro.
Seja como for, eu plantei as sementes e lembrei da música do Jamiro Quai: every mother can choose the colour of her child - that is not Nature´s way.

O meu, o teu e o que negociamos

No fim, todo mundo acaba se entendendo, mas é interessante notar como cada um toma o seu ponto de vista como base e o estende pros outros. Três exemplos talvez ajudem a ilustrar o que eu quero dizer.

Estudando a estrutura de construções sintáticas menores que uma sentença, me deparei com descrições de pidgins. Pidgins são línguas misturadas, que existem pra fins puramente comunicativos e surgem em contextos altamente restritos, portanto são bem simples. Pidgin não é língua materna de ninguém, mas se baseia nas línguas maternas das pessoas que precisam, por exemplo, negociar/ comercializar produtos. Não há regras pra pidgins, depende sempre de quem o fala. Quando os japoneses, por exemplo, falam pidgin com um inglês (ou americano), os japoneses colocam o verbo no final da sentença, porque em japonês é assim que as coisas funcionam:
Da pua piipl awl potato iit.
The poor people all potato eat.
Agora quando os filipinos falam pidgin com um inglês (ou americano), eles colocam o verbo no começo, porque a língua materna deles usa a estrutura VSO (verbo, sujeito, objeto):
Wok haad dis piipl.
Work hard, these people.
Tanto os filipinos como os japoneses usam a estrutura de suas línguas maternas pra comunicar numa língua que é um acordo comunicativo com os ingleses (ou americanos).

Hayat, a iraniana, me perguntou qual era a minha língua materna. Respondi que português e alemão. Quando eu disse "português", ela acenou com a cabeça, mas quando eu disse "alemão", ela levantou a sobrancelha esquerda e coçou a nuca. Expliquei que o meu pai é alemão, e que por isso eu também falo alemão. Ela virou a cabeça de lado, ainda com os olhos fixos em mim. Perguntou se eu tinha morado a maior parte da minha vida no Brasil. Respondi que sim, e ela fez beiço e acenou com a cabeça, devagarzinho.
Sua mãe é uma mulher forte, então.
Se o seu pai é alemão, seria de se esperar que toda a família morasse na Alemanha, o país do chefe de família. Como este não é o caso, a sua mãe teve muita coragem e força pra insistir que toda a família residisse no país natal dela.
Hayat usou o seu modelo de família pra interpretar a história da minha família, porque partiu do pressuposto que seguem o mesmo esquema.

Hoje fomos em 6 ao MuZIEum . (Pode clicar no museu) Éramos um grupo misturado: quatro holandeses (Nan, Isabelle, Jeroen e Jonas), um romeno (Boti) e uma brasileira. A idéia do museu é colocar o visitante na situação de um cego e fazê-lo explorar o mundo com os seus outros sentindos e com a bengala de cego. Quem nos guiou, num tour pela completa escuridão, foi Ineke, uma cega há 10 anos. Ela nos levou até um escritório para cegos, uma varanda que dá para uma rua movimentada, um parque, nos ajudou a atravessar uma ponte e cruzar a rua, e por fim sentamos todos num bar e tivemos que pagar pelos refrigerantes que bebemos.
A gente se orientava pela voz dela, mas não sabemos como ela tinha controle sobre o grupo: como ela sabia que estávamos todos juntos e tínhamos explorado tudo naquele cenário e podíamos seguir para o cenário seguinte?
Mostrar as coisas pros outros era complicado, mas logo aprendemos que era preciso pegar a mão da outra pessoa e conduzi-la até o local em que estava aquilo que se queria mostrar, pra que o tato da pessoa lhe desse informações que a escuridão escondia. Aconteceu, porém, de alguém perguntar onde era a janela, e Jonas levantar o braço, com o indicador esticado, pra mostrar a direção. Tinha gente no caminho do dedo e todos caímos na risada.
Boti aprendeu os nomes de todo mundo rapidinho, porque a gente vivia checando quem era a pessoa que estávamos tocando. A gente se reconhecia pela voz e pela língua: quando a resposta vinha em inglês, eram Boti ou eu sendo segurados por alguém.
Além do tour guiado por um cego, tem a parte de museu, em que há exposição de coisas que causam ilusões óticas, um pouco de história, jogos para cegos, tipo jogo da velha em tabuleiro, dominó e tal. Nessa parte, a coisa doida são as línguas: tudo o que estiver escrito, está escrito em holandês e em alemão. Quando entramos na máquina do tempo, uma voz de mago cigano falava em um pidgin de alemão e holandês. Metade era em uma língua, a outra metade em outra. Bem bolado, entendi mais que a metade!!!
Ainda em relação às línguas, a nossa guia, Ineke, é holandesa, e apesar de Boti e eu termos concordado em acompanhar o tour em holandês, (confiamos que íamos entender as coisas with a little from my friends) ela falou inglês a maior parte do tempo. Mais um exemplo em que um tenta se colocar no lugar do outro, mas sempre apareciam expressões em holandês na fala da Ineke, e nós mantivemos os olhos arregalados durante todo o tour na mais completa escuridão.

quarta-feira, março 21, 2007

Postweg

Postweg é o nome da minha rua preferida em Nijmegen. É a rua que eu tomo pra voltar pra casa, depois de uma caminhada pelas florestas vizinhas da cidade. Trata-se de uma rua fechada para o trânsito normal, somente os residentes usam a rua para estacionar seus carros nela, e quase não passa carro lá.
Talvez por isso haja tantas crianças na Postweg. Ou elas estão brincando de amarelinha, ou riscando o chão com gizes de várias cores, ou estão correndo por aí, dando risada, ou sendo instruídas nas lições importantes dessa vida: dat is links, kijke! Dat is rechts, kijke! (Esta é a esquerda, olha! Esta é a direita, olha!)
Caminhar na Postweg ao entardecer é andar com vista para o pôr-do-sol por entre as árvores com seus galhos sem folhas. É o sol se despedindo do dia e eu me despedindo do passeio.
As casas na Postweg têm jardinzinhos na frente, com flores que desabrocham primeiro que todas as outras da mesma espécie. Foi num desses jardins na Postweg que eu descobri que Weidenkätzchen (desculpem, não conheço outro nome pra essa planta) na verdade vira flor. Eu achava que fosse só um pequeno tesouro da natureza em forma de botão, todo peludinho. Na Postweg, cada um daqueles fiozinhos agradáveis ao toque se abre numa florzinha amarela que exala um cheiro doce.
Postweg é uma rua de mil cheiros. Dependendo da hora, tem cheiro de tijolo quente, de terra molhada, de flor, de brisa fresca, de carne salgada cozinhando na panela, de bolo de maçã saindo do forno, de arroz queimado.
Esta rua reverbera vários sons diferentes, e cada um é específico de um certo horário. De tarde são as crianças brincando. Mais tarde, são os pais recolhendo seus filhos. Quando há sol, são os pássaros que fazem a festa, quando não se ouve nada, o vento sopra.
As janelas não têm cortinas, então dá pra ver pra dentro das casas e até mesmo através delas, porque a janela da sala, que dá para o pátio, também não tem cortinas. Aí se vê várias cenas do cotidiano: o pai de família sentando no sofá com uma faca numa mão e uma bacia de batatas na outra e as crianças recolhendo os brinquedos da sala, a mãe botando a mesa, o avô tomando sopa, um senhor sentado de costas para a janela, lendo o jornal, um adolescente olhando pra tela do computador, os adultos olhando pra tela da televisão, o gato deitado no encosto da poltrona, olhando pra fora da janela.

terça-feira, março 20, 2007

Pessoas novas

Na minha casa entrou mais um homem do sexo masculino. Continuo sendo a única moça de família nessa casa! O sujeito que entrou recentemente está ocupando o meu antigo quarto e é francês como o Alexis, e trabalha na Schneider Electrics como o Ruben e o Alexis, e se chama Clement. Mas a pronúnicia desse nome é cheia de vogais arredondadas: Klömón. Ainda temos um quarto vago na casa, o antigo da Stephanie, e os meninos já estão de olho numa russa que vem trabalhar na firma com eles. Aí pronto, abrem uma filial da Schneider Electrics aqui mesmo e não se fala mais nisso.

Na B.00.74 chegou uma moça tímida, loira, perdida, que foi apresentada a todos. Eu tava esperando uma orientanda do meu orientador, vinda do Irã, e fiquei atenta. A loirinha falava inglês e se apresentou como Marlene. Não era a iraniana. Nem vem dar risada, porque a Pegah, que dizem que é sueca, tem cara de iraniana, então por que não uma loira iraniana?

Cansei de marcar encontros com o orientador e a iraniana, porque sempre algo dava errado. Ou ela não tinha chegado ainda, ou eu tava em Amsterdam, ou a gente se esquecia dela. Hoje, finalmente, encontrei com o orientador e a Hayat. Hayat significa "vida". Ela está aqui por um semestre e vai analisar seus dados de afasia em Farsi (ou Persa). Ela contou que foi muito difícil conseguir 10 afásicos de Broca que fossem monolíngües em Teeran. Ela foi de hospital em hospital, procurando por pacientes cuja única língua materna fosse Farsi. No Irã, as pessoas falam Farsi e mais uma outra língua, que pode ser Turco, Árabe ou Inglês. Contei pra ela que quando eu ainda tava como aluna especial na Unicamp, ou seja, antes do mestrado, eu tinha pedido pruma professora me achar um afásico bilíngüe. Pra ver se havia competição entre as línguas, se as duas tavam preservadas depois do derrame, se havia campos semânticos (cores, animais, palavrões) preferenciais de uma língua ou não. A professora veio, depois de uns 4 meses, me dizer que no Hospital da Clínicas havia, sim, um afásico de Broca bilíngüe. Mas a afasia era uma das seqüelas do homem. Ele tava na UTI, preso a uma sonda, com quase todos os ossos do corpo quebrados e em estado de delírio. Pois é, enquanto Hayat tinha dificuldades em achar afásicos monolingües, eu desisti daquele bilingüe que acharam pra mim e parti pra Aquisição de Linguagem, me aventurar com preposições na fala de uma criança.

segunda-feira, março 19, 2007

Das Leben der Anderen

Muito bom, mesmo!
Eu não esperava que o filme que Stephanie insistia pra eu ir ver era tão bom. Os assuntos são os mesmos que os que aparecem em Good-bye Lenin e Sophie Scholl, mas o tratamento é outro. Recomendo que se vá urgentemente ao cinema, ver este filme!!!

Sol e neve

Não sei o nome dessa flor, nem se ela tem cheiro, mas ela serve aqui pra mostrar que o dia tava de sol, que o mundo tava alegre, apesar dos ventos fortes.

No parque atrás do Van Gogh Museum havia crianças brincando com bolas, adolecentes jogando uma pelada, casais passeando, um doido pedindo 50 centavos pra comprar cerveja pra cada um que estava em seu caminho errante, um carrinho de bebê carregado pelo vento e uma guria de calça fusô e botas jogando futebol com mais duas mulheres. Quando ela gritou: sua égua! demos muita risada.
Assim que o sol se escondeu atrás da linha do horizonte, o tempo fechou e caiu granizo. Hagel. Não como no Brasil, em que caem pedras de gelo que te machucam a cabeça e furam capôs de carros e venezianas de janelas. Não. Eram como pétalas de flor de pêssego quando vistas de longe e quando vistas de perto, pareciam granulado pra brigadeiro - só que branco.

Christian tava acumulando pedrinhas de gelo no cabelo.

Cenas urbanas de Amsterdam

Faltam poucos museus em Amsterdam pra eu poder dizer que eu já vi todos que me interessam. Christian preferiu não entrar em nenhum museu, então participamos (eu de novo) do free walking tour. Achei legal ser reconhecida pelos guias Pablo e Donald, que ficaram felizes em me ver trazendo mais um novo participante. No meio do tour, presenciamos uma cena de mudança em Amsterdam. Depois do tour, fomos ao Jordaan, um bairro comum de gente normal e poucos turistas. Tinha 3 tipos de feira lá: feira de rolo (vende-se de tudo, até cacarecos, tipo dobradiças enferrujadas de porta), feira de roupa, coisinhas domésticas e comidas quentes e feira de verduras e frutas, onde comprei um suco de um polaco que falava muito e quis me vender suco de tomate com beterraba e cenoura, porque era o preferido dele. As tulipas tavam no Jordaan, tomando sol.
Na praça chamada Leidseplein, sempre tem apresentações mais complexas que as estátuas (homens maquiados e vestidos de gorila, homem-água, O Máscara e por aí vai) que ficam na praça do Palácio. Quando fui com a Dora, por exemplo, tinha um moço equilibrando a bicicleta dele no queixo, enquanto fazia malabares com 3 tochas acesas. Esqueci de filmar, de tão impressionada que fiquei. Dessa vez tinha esse moço dançando com uma bola de futebol. Muito habilidoso! Além de fazer embaixadinhas, ele brincava com o público.
Saindo do templo budista, vi o contraste entre frente e fundo, oriental e ocidental, zen e mercantil. O que eu vi do templo não é tão grandes coisas, porque turista não tem acesso a tudo, claro.
A amarelinha mais difícil de completar que eu já vi na vida! Pedi ao Christian que se colocasse ao lado dela, pra não parecer que ela estava desenhada no chão. Estamos muito perto do zoológico, mas fora do eixo por onde transitam as hordas de turistas. E turista também não vai ao zoo, pagar 17,50 pela entrada, pra ver os mesmos animais enjaulados de sempre.

Me fodi!!!

Foi a primeira coisa que o Mané disse pro Christian, assim que ele apareceu no portão de desembarque.
Oi, tudo bom! Que foi que aconteceu dessa vez, Mané?
Vou ter que ir pra Dublin ainda hoje de noite.

Bom, consideramos que 168 era muito pra se pagar numa viagem de avião de última hora pra Dublin, então resolvemos procurar por mais opções na Internet. Não havia nenhum cybercafé (além do saguão do Sheraton Hotel e de computadores que aceitavam cartões de crédito!!!) disponível pra nós, pobres coitados, então pegamos o trem pra Amsterdam. Meia hora de trem depois, descobrimos que a Ryanair não parte de Amsterdam e que a Transavia era mais cara ainda. Bom, como ninguém não tinha cartão de crédito, nem dava pra comprar passagem de nada pela Internet. Era preciso voltar ao aeroporto mesmo e pagar em cash. Mas também era preciso ir ao Flying Pig uptown, pegar a mochila do Mané e juntar as coisas do Mané que o Christian tinha trazido de Aberdeen com as coisas da mochila, ou seja, era preciso compactar 3 peças em 2. Na prática, isso significou vestir várias roupas, uma por cima da outra.

Fui sozinha a Schiphol, garantir a passagem. Um outro moço detrás do balcão quis me vender uma passagem por 250. Uai, mas por que aumentou tanto em menos de 2 horas? Porque só tem mais 3 lugares vagos e estes estão sendo disputados. Credo, homem!!! Será que tu não me acha nada mais em conta? Achou, por 162, o que era mais barato que o anunciado primeiramente.

Enquanto isso, Christian e Mané olhavam no relógio, a caminho da Centraal Station de Amsterdam. 18:00. Agora só por Deus!

Meus dois heróis apareceram depois de uma hora, de olhos arregalados, com mãos trêmulas e controlando a respiração. Dá tempo de ir no banheiro? No check-in a moça da KLM não estava entendendo como funciona o sistema da Aer Lingus, mas ela foi gente boa: você pode viajar com 20kg. Olhou pros algarismos indicados na balança: 24,1. Isso são vinte kilos, certo? Aliviado, Mané agradeceu a gentileza de ter escapado de pagar 8 euros por cada quilo em excesso. Embarcou e já deu notícia de que chegou são e salvo.

A próxima viagem do Mané vai ser daquelas de pacote de viagens, com hotel, traslado, guia e refeições incluídas. Aquelas viagens em que todo mundo faz tudo junto e não há como se perder do grupo, porque o guia sempre anda com uma bandeirinha ou um guarda-chuva erguido na frente do bando.

Nem tenho fotos do Mané dessa vez, porque passamos o dia todo entre Amsterdam e Schiphol, tensos.

Mais manezices

Só pra refrescar a memória, este é o Mané, que também atende pelo nome de André. A viagem dele ia terminar neste fim-de-semana, e novamente ele juntou todos à sua volta: Christian veio de Aberdeen e eu de Nijmegen. Mané veio diretamente de Berlin, de ônibus. Dormiu no assento desconfortável do Eurolines e acordou em Amsterdam.Claro que ele não tinha feito reserva no mesmo albergue que Christian e eu. Óbvio que havia dois albergues com o mesmo nome (Flying Pig) em Amsterdam, sendo um downtown e o outro uptown. Evidente que Mané fez reserva no uptown e foi se apresentar no downtown. Não é preciso dizer que Mané me disse, quando ele tava em Berlin, que tinha feito reserva no downtown, e que eu fui até lá, pro recepcionista dos olhos grandes me dizer que não tinha ninguém com esse nome naquele hostel, mas que ele podia ligar pro uptown, pra checar se ele não tava lá. Tava. Pra variar, eu não ouvi o meu celular tocando, porque eu não sei qual é o som que ele faz quando toca.

Bom, mas eu sabia onde era o uptown hostel e fui caminhando até lá. Mané tava na porta.
Eu tinha decorado a localização do hostel errado dele, e não tinha investido muita memória na localização do meu hostel. Grande pequena Lou... Erramos pelas ruas cheias de casas tortas, dos canais e das muitas pessoas que Amsterdam recebe a cada fim-de-semana. Por acaso, topamos com o meu hostel. Tava na hora de buscar o Christian no aeroporto de Schiphol, mas eu queria me livrar da minha mochila.

A moça da recepção tava ocupada com outras coisas, demorou pra me atender, me fez pagar a estadia, depois explicou que aquele era um albergue cristão e que havia discussão bíblica às 7:00 e depois às 15:30 (tá vendo que droga, eu morrendo de pressa e urgência, prestando atenção nos horários das dicussões bíblicas!!!) e que era proibido consumir álcool ou cigarros no hostel e que a porta era trancada às duas da manhã. Larguei a minha mochila no armário e corremos pro aeroporto.

O avião do Christian chegou muito atrasado. Tínhamos tempo. Mané foi na KLM, perguntar se tava tudo certo com a passagem dele. O vôo era Dublin - Amsterdam - Guarulhos, e ele planejava entrar no avião em Amsterdam. Sem chance. Ele tinha que ir pra Dublin e entrar lá.
A única empresa que fazia vôos pra Dublin ainda no mesmo dia era a Aer Lingus, da qual ninguém nunca tinha ouvido falar. O preço tava salgado: 168 euros. Tudo porque alguém deu uma de mané.

quarta-feira, março 14, 2007

Notícias na TV

Diós mio, que asco de programa!

Disculpame, es la costumbre.
Eu estou estudando fala elíptica no momento. Porque o meu afásico fala assim, procuro por outros registros em que esse estilo é usado também, pra poder comparar estruturas da fala do afásico com estruturas encontradas em conversas de não-afásicos, telegramas e manchetes de telejornais e jornais impressos. Surpreendetemente, a fala do meu afásico segue a mesma receita de organização de uma manchete de telejornal: primeiro vem um tópico, que anuncia o assunto, e depois vem um comentário sobre esse tópico. Se o esqueleto é o mesmo, então o segundo passo é verificar se os tópicos do afásico fazem a mesma coisa que os tópicos das manchetes de telejornal.
Manchetes de telejornal, veja bem, são aquelas frases curtas, encavaladas (sem nexo entre si), sobre cada um dos assuntos de destaque que serão abordados durante aquela hora de telejornal. São manchetes que devem atiçar a curiosidade do telespectador e convidá-lo a continuar ligado naquele canal.

Bom, pra começar, procurei por artigos que descrevessem a organização de tópicos em telejornais. Achei um que comparava telejornais alemães com americanos. Não serve pra minha pesquisa, porque analisava toda a notícia e a mudança de assunto (também chamado de tópico) durante o programa de notícias. Mas me serve pra refletir sobre notícias, fatos e interpretações.

A conclusão da pesquisa relatada naquele artigo era a de que os telejornais americanos guiam o espectador muito mais que os jornais alemães. Quando, por exemplo, o jornalista americano no estúdio anuncia que uma certa matéria foi feita por sei lá, John Smith em Roma, então o jornalista no estúdio anuncia a notícia, o nome do repórter e a cena muda. Quando o John Smith aparece na tela, aparece o nome dele embaixo, ele mesmo dá a notícia e conclui dizendo o seu nome e o lugar onde está: John Smith diretamente de Roma. Os alemães não gastam tantas palavras faladas pra mudar de cenário. E o nome do repórter só aparece escrito na tela, mais nada.

Desprendi os olhos do papel e pensei cá com os meus botões: bah. O telejornalismo brasileiro é bem parecido com o modelo americano. Tanto, que os brasileiros vêem Fátima Bernardes e William Bonner como superstars. Os outros repórteres não ficam muito atrás, afinal conhecemos a Waldvogel, por exemplo, pelo nome. Meus botões responderam: lembra daquela vez que o Esteves esteve no Brasil, depois de 7 anos de Alemanha, e que ele estava escandalizado com a TV brasileira, porque todas as repórteres eram quase modelos, e que a aparência do repórter parecia ser mais importante que a notícia, mesmo que ela fosse trágica? Pois é. Nos telejornais alemães, muitas jornalistas parecem donas-de-casa e os jornalistas não são estrelinhas. Na verdade, eles não importam muito, porque a maior parte do tempo não se vê a cara deles, já que eles lêem a notícia de uma folha de papel que seguram na mão, ou que está na mesa. O cara que dá a notícia no estúdio está de cabeça baixa!

Quando os americanos anunciam notícias em manchetes, eles costumam usar a posição de tópico pra julgar sobre se a notícia a seguir é classificável como boa ou . Assim, o telespectador americano já é preparado pra ouvir notícias sobre terrorismo, escândalos ou crimes brutais. Os alemães, ao contrário, usam tópicos pra resumir a notícia, e o telespectador é preparado para ouvir sobre bombas, desvio de verbas ou assassinatos. A conclusão da autora é que os americanos vêem, no telejornal, uma interpretação dos fatos, enquanto os telespectadores alemães vêem os fatos e precisam tirar suas próprias conclusões sobre eles.

Fechei os olhos e me esforcei pra lembrar de algumas das manchetes de telejornal que eu tinha coletado. Lembrei de bons exemplos pro protótipo de manchete americana e também pra manchete alemã prototípica. Mas só o fato de haver manchetes que julgam sobre a qualidade da notícia e impõem uma certa maneira de interpretar os fatos, já é preocupante. Até que ponto somos manipulados pela mídia? Provavelmente muito mais do que admitimos.

As possíveis razões para esses tipos diferentes encontrados em notícias de telejornais americanos e alemães são duas. A primeira é que os telejornais americanos são veiculados por emissoras privadas que estão em concorrência umas com as outras, em busca de lucros e índices de audiência maiores que as outras emissoras. Pra ter ibope, é preciso prender a atenção do telespectador, veiculando notícias que entretenham o público e que sejam fáceis de seguir/ acompanhar, porque vêem mastigadinhas. Assim, a TV americana faz notícias.

Olhei para o alto e lembrei que a própria escolha do que é notícia já é uma escolha arbitrária. Minha memória foi até o dia em que o Pablares reclamou de uma notícia sobre baleias atravessando um canal num lugar remoto do Planeta: "Isso lá é notícia!?! Tanta coisa acontecendo aqui, PCC e tal, e eles mostram as baleias nadando em águas glaciais!!!" Voltando um pouco mais no meu arquivo de memórias, me ocorreu o escândalo do William Bonner, comentando com uns professores universitários que estavam lá, no estúdio, que o telespectador brasileiro é um Homer Simpson, e que as notícias devem ser simples e ter o poder de entreter. Afinal de contas, o telespectador brasileiro é estúpido como Homer Simpson.

Os telejornais alemães (analisados pela autora, o que não quer dizer que todos sejam assim) são veiculados pela TV aberta. Não existe concorrência que faça com que os repórteres e jornalistas quebrem a cabeça sobre como atrair público. O emprego deles não depende diretamente do ibope. Assim, a TV alemã transmite notícias.

Olhei pro lado e pensei que esse talvez também seja um motivo pra aparência dos repórteres e jornalistas não ser tão relevante. Se nenhum telejornal almeja ibopes mais altos, nenhum telejornal vai se empenhar em colocar repórteres atraentes na frente da câmera.

A segunda razão para as diferenças entre os tópicos de telejornais americanos e alemães é cultural. A cultura anglo-saxã dá ao falante a responsabilidade de se fazer entender. É preciso ser um bom orador pra ser admirado. Já a cultura alemã dá ao ouvinte a responsabilidade de entender o que é dito. É preciso ser um bom interpretador pra ser admirado.

Torci o nariz, mas logo lembrei da fama que os filósofos alemães (penso em Hegel, Kant, Adorno e Habermas) conquistaram: difíceis pra carai. Como contra-exemplo, lembrei do Chomsky, que na minha opinião é um pancada de lingüista, mas escreve super bem e provavelmente tem tantos seguidores por causa da sua retórica.

Eu sou uma das pessoas mais alienadas que você conhece. A desvantagem é que nunca sei o que está acontecendo no mundo ou na política ou no mundo político. A vantagem é que eu também não sei o que está acontecendo nas novelas, e que eu não vivo reclamando da qualidade da TV brasileira. E que eu não me sinto oprimida pelas tragédias alheias que sou incapaz de aliviar, pelo padrão de beleza que sou incapaz de seguir e pelo consumismo exacerbado que não transparece nas minhas roupas rotas. Isso tudo faz de mim uma outra pessoa: meu sonho não é mais ter um carro, uma casa na praia e um marido rico, mas viajar por aí, estudar e aprender. E um companheiro cabeludo, claro.

Mudança de comportamento

Agora, que o sol voltou a alegrar as nossas vidas e o cheiro de terra e de flor nos acompanham lá fora, noto algumas mudanças no comportamento dos estudantes da Radboud Universiteit. Primeiro que eles voltaram a sentar no chão, seja na grama, ou seja na calçada mesmo. O chão está seco, o sol convidativo. Segundo, que desenterraram seus óculos escuros. Não que os jovens sejam sensíveis à luz do sol, ou que usem óculos de maneira a se proteger dos raios solares. Não. Os óculos escuros que usam são tão fashion, que é impossível que os óculos que eu vejo por aí tenham sido designados para exercerem alguma função prática. Sem chance, são chamativos demais e parece brincadeira de criança: quem tem os óculos escuros maiores e mais absurdos, ganha.

terça-feira, março 13, 2007

Subindo pelas paredes

Klimcentrum, Nijmegen.
Ocupa o espaço de um prédio de 5 andares e é baiscamente vertical. Quem escala, pode escolher o térreo ou o andar de cima, que é a posição de onde essa foto foi tirada.
The Climbing Hall occupies the space of a 5-story building and is basically vertical. Those who climb, can choose the ground floor or the first floor, from which this picture was taken.

Pedi ao meu guia que me desse direções. Ele sorriu, apontou para o alto com o indicador e disse: pra cima.

I asked my guide for directions. He smiled, pointed his finger to the ceiling and said: up.

Para escalar é preciso pagar entrada (você pode ficar quanto tempo quiser) e ter ou alugar sapatilhas e cadeirinha com mosquetão e oito. Na verdade é preciso saber escalar também, mas pra isso eu tenho um bom guia e uma vaga memória. De prática, pouca coisa. E isso se tornou visível para os outros escaladores: um moço veio me chamar atenção que eu (na posição de dar segurança) estava segurando a corda de maneira arriscada para quem tava escalando. Errando, a gente aprende.

In order to climb, you have to pay to enter (you can stay as long as you want) and own or rent the shoes, harness, mosqueton and eight. In fact, you have to know how to climb as well, but for that requirement I had a good guide and a weak memory. Practice, though, I have little. And this became evident to the other climbers: a guy came to me and warned me (when belaying) that I was holding the rope in a hazardous manner for the one climbing. Errare humanum est. But we learn!

Tanguy, meu bravo e paciente guia. Corajoso porque confiou em mim pra que eu lhe desse segurança enquanto ele escalava vias com agarras muito pequenas e esparsas, e paciente porque ele não se alarmou quando ouviu que eu não tava lhe dando lá muita segurança; e porque eu o desci do topo de uma via, sem que ele tivesse colocado 2 mosquetões de volta na corda. Coitado, teve que subir tudo de novo, pra prender os dois mosquetões.

Tanguy, my brave and patient guide. Corageous, because he trusted me to belay him (this sounds odd, I know... but it is not pronographic!!!) while he climbed routes with tiny and sparse grips, and patient because he didn´t show signs of alarm when he heard I was not giving him proper security. And because once I let him down, without giving him the chance to put the mosquetons back on the rope. Poor Tanguy, he had to climb everything up again.

No domingo eu tinha ido na academia com Boti (Tanguy apareceu depois) e feito algums vias fáceis. Completei algumas mais de uma vez, mas não fui capaz de fazer outras até o topo. De lá pra cá notei um certo progresso: consegui completar hoje as vias que eu tinha deixado inacabadas no domingo, e me foi atribuída a responsabilidade de dar segurança pro Tanguy. Notei também uma drástica mudança na idade do público: no domingo, as paredes estavam cheias de crianças. Isso mesmo! Crianças feras, mó boas mesmo, ágeis, mantendo a via e não usando agarras de outra cor. Quem diria que escalada pode ser coisa de criança!!! Eu subia em árvores, muros, portões e outras coisas, mas nunca fui levada a uma academia de escalada enquanto criança. Pra mim, escalada sempre esteve associada a um público similar ao do paraquedismo. Muitos homens e poucas mulheres, todos incondicionalmente viciados no esporte, de maneira a exibirem tatuagens, adesivos e outras formas de externalizar essa paixão pela adrenalina, pelo salto pra fora da rotina.

On sunday I had gone to the climbing hall with Boti (Tanguy showed up later) and managed some easy routes. I completed some more than once, but I wasn´t able to finish others. Since then I noticed some progress: today I could complete the routes I had left unfinished on sunday, and I was given the responsibility to give Tanguy security (I am avoiding ambiguous terms, êh!). I also noticed a drastic change in the age of the people there: on sunday the walls were full of children. Yes, that´s right! Awsome kids, real good climbers, fast and keeping on the route, not taking grips of an other color. Who would have thought that climbing can be such fun for kids!!! Well, I used to climb trees, walls separating houses, gates and other things, but as a kid, I was never taken to a climbing gym. For me, the people who climb were always similar to the people who skydive. Many men and few women, all inconditionally addicted to the sport, in a way that they show their tatoos, stickers and other forms of expressing this passion for adrenaline and for the jump out of routine.

segunda-feira, março 12, 2007

Primavera chegou

Espera, espera! Eu acho que isso não é porque a antena tá ruim, acho que é a previsão do tempo.No more rain!!!!!!!!!!!!!!!!

Tivemos três dias seguidos de sol e as magnólias estão em flor, os passarinhos estão cantando e o ar está repleto de insetos que se emaranham no cabelo e nos olhos de qualquer ciclista desprotegido. Parece que a chuva deu uma trégua. Parece que eu estou no melhor lugar do mundo. Parece que estou me sentindo em casa. Porque a única parte ruim da vida aqui era a chuva.
Depois de um semestre aqui em Nijmegen, descobri o lado oeste da cidade, acertei a pesquisa e estou nos trilhos certos, estou achando graça em conhecer pessoas e estreitar laços de amizade.

domingo, março 11, 2007

Estou cheia de alarmes

Cheia no sentido de farta, cansada. As pessoas se preocupam tanto com a sua segurança pessoal, em assegurar que seus bens não sejam danificados, que os dispositivos que instalam para se proteger contra eventuais casualidades são de dar nos nervos. O problema é que esses dispositivos são, às vezes, disparados por acidentes de percurso, e aí a gente tem que aturar o alarme. E o alarme não ajuda em nada, porque ele não faz ninguém vir correndo pra te socorrer. Pelo contrário, é você que precisa correr atrás de ajuda pra desligar o maldito do alarme. O alarme só faz barulho. E esse barulho é agudo, intermitente e enlouquecedor.

Sabe quando você tem domingo de muito sol e não faz nada do que tinha planejado, mas está satisfeito com as coisas que fez? E sabe quado você chega em casa, não sabendo o que é mais urgente: um banho ou comer? Pois esse foi um domingo assim, empolgante. Mas a partir do momento em que começou a escurecer, as coisas desandaram.

Ruben tava na cozinha, fazendo tortilha para si e Lucy, sua namorada. De repente as luzes da cozinha se apagam e um som tü_tü_tütütütüüüüh ad infinitum acabaram com a nossa paz na casa. Que foi que eu fiz?

Cada um que sai do seu quarto e desce as escadas até a cozinha pergunta como foi que o alarme foi disparado. Não sabemos responder, porque o alarme que tava nos enlouquecendo era o alarme da porta, que, segundo Annelies, foi desativado faz anos, não funciona, só não conseguiram desligar as luzinhas dele, que sempre piscam aleatoriamente. Alguns quartos (do Boti e o meu) ficaram sem energia elétrica, outros foram preservados. Na cozinha (e no porão) não havia energia, a não ser o fogão elétrico e uma tomada. As duas geladeiras e o freezer estavam mortos. Não era nenhum fusível na caixa de força. Annelies está viajando com os pais e não podia nos dar uma luz.

Ruben é engenheiro, e engenheiros resolvem problemas e o problema mais imediato era religar as geladeiras e o freezer. Saímos à cata de extensões e juntamos várias, retiradas de diferentes quartos. Ligamos as geladeiras e o freezer na única tomada que tinha energia na cozinha. Novamente as qualidades de resolvedor de problemas do Ruben se mostraram úteis: ligou para um dos vários irmãos da Annelies que chamou um técnico que viria dentro de 50 minutos.
É domingo, a gente entende que não dá pro cara vir assim, correndo, e até agradece que ele venha, afinal de contas é dia de descanso.

Eu sou a abrideira de porta para os home, já foi assim na Oca, continua sendo aqui. O homem vem enquanto Boti e eu estamos jantando, pede ajuda pra desentulhar o quarto em que está a caixa de energia que ele não consegue alcançar porque há caixas com coisas que o carpinteiro depositou ali antes do dia dos ventos fortes, mesas de festa dobradas, cadeiras empilhadas e tapetes enrolados escondendo a caixa de energia. Ajudamos enquanto a comida esfria na cozinha escura. O homem troca um fusível e o rádio liga, o aquecedor de água ferve, as luzes todas se ligam e a vida volta ao normal. Alegria, alegria.

Tarde da noite, Ruben e Lucy saem do quarto e descem para a cozinha, para fazerem pipoca, mas esquecem de ligar o exaustor. A fumaça e o cheiro de queimado chegam aos sensores do alarme de incêndio e o ativam. Alarme de novo, óh, vida!!!! Dessa vez ninguém desceu até a cozinha, mas imagino que todos devem ter suspirado e deitado a cabeça na palma da mão. O alarme desligou depois de um minuto.

Precisa de tanto alarme nessa vida?

sábado, março 10, 2007

Caminhando cada vez mais longe

Voltei ao ritmo de um dia de pedal e outro de caminhada. O sol é o meu melhor combustível, e agora que ele voltou a alegrar a minha vida, volto aos hábitos saudáveis. Hoje resolvi refazer todos os caminhos de sempre: floresta na Groesbeekseweg, travessa o Sophiaweg, entra na floresta de Heilig Landstichtig, chega em Berg en Dal, pela a Naturroute e chega em Beek, divisa com a Alemanha. Em vez de voltar tudo, resolvi caminhar os 6km de Beek a Nijmegen. Eu tinha duas alternativas: ou seguindo a estrada, pela ciclovia (não há calçada para pedestres ali, provavelmente devido à escassez de pedestres), ou seguindo por dentro de Beek. O barulho dos carros na estrada me desmotivou a escolher a primeira opção. Quem diria, que os carros são barulhentos assim... pois são.

Bah, Beek tem cheiro de pinheiros e musgo molhado, tem galinhas passeando atrás de um galo na rua, tem gente consertando cerca, replantando flores, tem criança brincando na entrada da floresta, tem gente sentada nos cafés e restaurantes, curtindo o sol de olhos fechados. As casas têm nome, como em Campos do Jordão, os jardins são bonitinhos como em Gramado. Mas quase não tem calçada. Tudo bem, porque o maior movimento era de ciclistas em suas speeds, capacetes e roupas coloridas, fazendo cara de seriedade aguda. Sábado de sol, é assim mesmo.

A placa indicava à direita pra Nijmegen e reto pra Ubbergen. Essa indicação é pros carros, e se eu seguir a placa, vou parar ao lado dos carros barulhentos na estrada. Sigo para Ubbergen. Uau, valeu muito a pena, porque passei ao lado de uma construção que poderia ser uma catedral ou um palacete, mas que carrega o nome de De Refter. Não tá com cara e bandex, mas tá valendo. E de Ubbergen pra Nijmegen é dois palito.

Cheguei em casa e verifiquei no mapa que tem floresta conectando tudo, ou seja, a próxima caminhada pode ser só em terra e lama, não precisa ser em asfalto.

quinta-feira, março 08, 2007

Bedankt, Nola!

Nola, thanks for teaching me how to use my blog tools!!!

Landmarks

Ouvi dizer que existe uma competição de bicicleta em Mairipops (Mairiporã, interior de SP) que funciona da seguinte maneira: dão ao ciclista um mapa e fotos dos lugares pelos quais ele precisa passar durante o percurso. Gostei tanto da idéia que, se alguém quiser refazer o percurso do meu passeio de 2 horas de hoje, é só se orientar pelas imagens.
Once I was told there is a bicycle competition in a small countryside city in the state of São Paulo called Mairiporã, that works like this: the cyclist is given a map and pictures of the places he needs to pass by during the competition. Well, I liked the idea so much, that if anyone wants to retrace the 2-hour route I made today, (s)he can use these pictures as a guide.

Dá pra ver as diferenças de nível da água... estou na primeira ponte, a oeste do centro de Nijmegen.
You can see the different water levels... I am on the first bridge, to the west of the center of Nijmegen.
Não escolha nenuma dessas alternativas. Siga pela via asfaltada que tem a largura de uma ciclovia, mas também passam carros nela.
Do not chose any of these alternatives. Remain on the paved lane, that is wide as a cyclepath, but is also used by cars.
Mantenha a direita e aprecie a paisagem inundada, o cheiro de água parada e não desista de lutar contra os fortes ventos.
Keep on the right and enjoy the flooded landscape, the smell of still water and don´t give up the fight against the strong winds. Esta parece ser uma boa solução de moradia.
This seems to be a good housing solution.
Suba as escadas que dão acesso à ponte que cruza o Waal. Já que você está de bike, use as canaletas laterais da escada para colocar as duas rodas do seu veículo ali, você não precisa carregar a bike debaixo do braço.
Go up the stairs that lead to the bridge that crosses the Waal. You don´t have to carry your bike, just push/pull it up.Depois de ter cruzado a ponte e virado à direita, você segue ao longo do Waal por 1okm. Nas curvas de rio, o vento frontal vai dar trabalho e o vento lateral vai fazer com que a bike fique inclinada pro lado, como se você estivesse numa curva em alta velocidade. Não desista, é assim mesmo. Esta é a ponte que você vai usar para cruzar o Waal de novo.
After crossing the bridge and turning right, you will go along the Waal for about 10km. In the turns (curves) of the river, the frontal wind will give you a hard time and the sidewinds will incline the bike as if you were in a curve at high speed. Don´t give up, there is nothing you can do to change it. This is the bridge you are going to cross over the Waal.
Quando você tiver alcançado a ponte e olhar para trás, verá o bairro de Lent.
When you have reached the bridge and look back, you will see Lent.
Da ponte você verá a ponte-cartão-postal de Nijmegen.
From the bridge you will see the post-card-bridge from Nijmegen.
Só pra certificar de que você está na ponte certa: é a ponte em que passam os trens.
Just to make sure you are on the right bridge: it is the one where the trains pass by.
Nijmegen.
A ciclista cansada. Pascal, obrigada pela idéia de voltar àquele cenário!!!
The tired cyclist. Pascal, thanks for the idea of returning to that scenery!!!

quarta-feira, março 07, 2007

Antes e depois




Pascal definindo um novo velho destino

Pascal setting a new old target Pascal, o moço da esquerda, viu o meu blog e reconheceu a paisagem dos diques daqui de Nijmegen, que eu tinha fotografado muito tempo atrás. Ele disse que a foto lhe causou estranhamento, porque agora tudo está alagado. Fiquei curiosa pra ver a os diques rodeados de muita água, resolvi esperar por um dia de sol e pedalei até lá. Hoje não choveu a partir do meio-dia, então essa foi a oportunidade. Pascal, valeu!!
Pascal, the guy on the left, saw my blog and recognized the landscape of the dikes here from Nijmegen, I had photographed a long time ago. He told me the picture puzzled him, because now everything there is flooded. I got curious to see the dikes surrounded by high water, decided to wait for a sunny day and rode down there. Today the weather was dry from noon onwards, so I took this as an opportunity. Pascal, thanks a lot!!

terça-feira, março 06, 2007

Eclipse lunar

Na noite de 3 de março aconteceu um eclipse lunar total. A sombra da Terra encobriu a lua completamente por 1 hora e 14 minutos, conforme me informa a Wikipédia, salve Wikipédia!!!

Régis, o japonês, Dora e eu acabávamos de sair de um restaurante chinês, em que tínhamos comido muitas frituras e cogumelos (porque essas eram as poucas coisas que não estavam estupidamente apimentadas) e reparei na escuridão da lua. Todo mundo achou que eu tinha comido cogumelos demais, que a lua era assim mesmo, que eu tava viajando.

Na noite seguinte a lua tava inteirona, grandona, ou seja, aquilo tinha sido um eclipse, sim. Hoje olhei no calendário dos eclipses e confirmei bem confirmado que eu não estava sob efeito dos cogumelos.

O próximo eclipse lunar será dia 28 de agosto deste ano, mas ele não será visível na Europa. Só na Ásia, Austrália, Pacífico e Américas.
O próximo eclipse solar vai demorar: 22 de julho de 2009, com 6 minutos de duração...

Pois é

Em 10 dias eu volto a Amsterdam, dessa vez com o Mané (se ele chegar a tempo) e o Christian. Espero conseguir trabalhar direto nesse meio-tempo...

Fachadas

Algumas das fachadas que mais me chamaram a atenção. A primeira está em decomposição e precisa de muletas. Notem como a escadinha é torta em relação à casa.
Esta é a menor casa de Amsterdam. A com a fachada vermelha, caso não tenha sido óbvio o que eu quero mostrar. Bom, ela é estreita e baixa, e o morador dela é um típico holandês: um gigante.
Essa fachada me chamou atenção pelo fato de apresentar cores pouco usuais.

Pessoas

Dora, obrigada por mais essa foto!!!
Este é o nosso guia. Sim, existe uma coisa muito legal que se chama FREE WALKING TOUR. Todo dia, às 11:03, na frente do Palácio, se junta uma galera em volta de um guia que usa uma touca vermelhona. Aí ele faz um tour de quase 2 horas de duração, com pausa de 20 min. pro almoço e nos leva por todo o centro histórico de Amsterdam. O guia manja muito de história, tem um jeito super didático de explicar as coisas e tem um humor inclassificável. O tour é gratuito, mas no final, o guia aceita doações. É um bom método de receber pelo trabalho, porque muita gente pagou 10 euros de boa vontade, e talvez teria hesitado em pagar 10 euros num tour a pé...
Eu tinha visto essas figuras na Escócia, mas aqui ele tava fazendo pose...
Dora, eu e Régis, o japonês paulista que trabalha na Nestlé, ali, na Berrini. Mundo muito pequeno.
Acho que as pessoas na Holanda são mais silenciosas que em outras partes do mundo, porque eu nunca vi uma placa assim...