sábado, janeiro 06, 2007

Vários trens de volta

Foram 7 horas com a passagem de trem mais barata possível de Syke a Nijmegen. Syke é a cidade a 6 ou 7 km de Nordwohlde, onde moram os meus pais. Não que os trens sejam excessivamente lentos. São as conexões que são ruins. E as conexões são muitas, porque eu viagei só em trens regionais. Foram 5 trens, sendo que em Osnarbück eu tive uma hora de espera, em Münster meia hora, em Viersen um minuto, e em Venlo meia hora. Quem olhar no mapa, vai notar que eu segui para o oeste, desci, segui pro oeste, desci e subi (!) de novo. E a polícia sempre controla os passageiros assim que o trem cruza a fronteira. Não pede o passaporte de todos, só dos punks com garrafas de cerveja na mão. Esses são suspeitos. Suspeitos de não estarem munidos de seus passaportes.

Mais uma vez, li mais que a média: dessa vez foram 90 páginas. Poderia ter lido mais, se não me desse sono. E adormecer no trem não me pareceu uma boa idéia. Vai que eu perco o ponto! Enquanto eu lia, observei a galera nos trens.
Observei duas famílias turcas (ou árabes, não saberia diferenciar). A primeira era constituída por uma mãe e seus 4 filhos de cabelos pretos e sobrancelhas grossas. A mãe não falava alemão, ao passo que o mais novo dos meninos pedia pra que os irmãos falassem auf Deutsch com ele.
A segunda família era mais estilo europeu: pai e mãe e dois moleques bochechudos. A mãe respondia em alemão de gringo às perguntas dos filhos, mas falava a sua língua materna com o marido. Pois é. As crianças falam a língua que ouvem na escola, a língua da rua, a língua dos amigos, mesmo que ela não seja a língua dos pais.
Observei um grupo de moleques de 13 anos voltando de um treino de futebol se esparramando pelos assentos e comentando o que viram na TV e planejando a dieta seguinte. Amanhã eu começo, porque eu preciso perder peso urgentemente. Falava mastigando suas batatas fritas com maionese.
Observei um grupo de meninas da minha idade sentando nos mesmos assentos que os jogadores-mirins de futebol haviam abandonado na estação anterior. Cada uma das 8 carregava duas sacolas com garrafas. Cerveja, Schnaps, que é a cachaça daqui, e vinho. Estavam a caminho de Köln e pretendiam chegar lá trançando as pernas. O controlador de tickets passou por elas, desejando que façam bom proveito. Viel Vergnügen!
Observei o mesmo controlador de tickets exercendo seus preconceitos contra dois turcos (ou árabes, não sei) que queriam comprar a passagem com ele. Os moços de olhos e cabelo preto e cavanhaque fininho falavam alemão tão bem como eu, mas tinham cara de pouco teutônicos e roupas de popstar. É perfeitamente possível comprar a passagem com o controlador de tickets, mas a passagem sai 3,30 mais caro. Só que o cara não queria vender a passagem, ele queria cobrar a multa de 40 euros pra quem viaja sem passagem. Não sei qual foi o desfecho, porque eu desci antes da discussão encerrar.
Observei um garoto de 16 anos com dois brincos em forma de coelho da Playboy. De brilhantes. O olho do coelho era uma pedra preta. Qualquer brasileiro diria que o garoto é mó frutinha, aí, ó, com brinco de brilhantes. Coelhinho... que meigo. Imagino que o garoto se ache super viril, com o seu coelho da Playboy, porque ele não vê um coelho de brilhantes. Provavelmente ele vê o que a revista masculina representa.
Assim como os pássaros no Zoo de Berlin me observaram, reparei nas pessoas nos vários trens que peguei hoje. Observei de longe, como se eu fosse outra espécie de ser vivente.

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