Chego às 7:15 na estação de ônibus Nord. Esteves e eu madrugamos. Sento no ônibus e chego pouco antes das 9 em Girona, de onde sai o avião da Ryanair. No caminho, reparei que os campos estão meio esbranquiçados. Deu geada? Não tá com cara de neve...
O check-in ainda não abriu. Sento, espero. Dois boyzinhos - com luzes no cabelo empapado de gel, sobrancelha feita, anéis em metade dos dedos da mão, colares de ouro, camisa meio aberta pra mostrar que tem pêlos no peito, mais de um brinco em cada orelha, sendo que dois são de algo que parece diamante - querem atenção. São australianos, estão em tour: Las Vegas, New York, Berlin, Amsterdam, Londres, Barcelona, Roma e esqueci do resto. Eles têm malas e bagagem de mão. Falam alto porque perderam o vôo pra Roma, porque chegaram 10 minutos atrasados; e agora não sabem o que fazer. Não se ligam que Milano e Veneza também ficam na Itália, e que poderiam pegar um vôo em 2 horas pra uma dessas cidades e ir a Roma de trem. Não conseguem decidir se voltam pra Barcelona, se ficam em Girona, se dormem ou continuam farreando; se pegam o vôo pra Roma de noite ou amanhã de manhã, no mesmo horário. O preço das coisas não importa muito, afinal o cartão de crédito de um deles está quebrado. Mostra 3 cacos de um cartão. Será que funciona?
Vou para o meu check-in. Fila, espera, anda, sim, não, gracias. Volto até os dois príncipes australianos, por curiosidade. Decidiram ficar em Girona, dormir e pegar o avião na manhã seguinte. Tomara que consigam acordar em tempo.
Vou até o meu portão, saguão de espera, reconheço um casalzinho que veio comigo, sorrisos. Tento ler, mas não consigo me concentrar. Nos alto-falantes, todas as chamadas são em três línguas, e eu quase não entendo nenhuma delas: castelhano, catalão e inglês (numa velocidade absurda, com uma pronúncia impossível). Sou a penúltima a entrar no avião, sento, fecho os olhos, sinto como se tivesse areia por debaixo das pálpebras, vejo tudo vermelho e durmo. Acordo com um tranco. Abro os olhos, percebo que estou no avião, e que ele balança. Isso não é bom sinal. Caraca, será que o avião atropelou algum urubu? Olho pra fora da janela, vejo asfalto, grama verde com branco. Ah! Isso foi a aterrisagem. Tranqüilo. Vixe, tá meio branco lá fora. Sou uma das primeiras a sair para o frio glacial.
Na van de Weeze pra Nijmegen a mesma paisagem de árvores desenraizadas, casas destelhadas e coisas jogadas longe, que ninguém desvirou ou recolheu. Mas agora tem o diferencial de que tudo está coberto de uma fina camada branca. O caminho da Centraal Station até em casa é longo, porque os pés estão congelados. Vejo a minha respiração, as mãos estão vermelhas e ardendo de frio.
Em casa, uma escada externa está sendo instalada. Cheiro de tinta, rádio com vozes femininas cantando yeah yeah uh uh, e os carpinteiros achando lindo. Todas as portas de todos os quartos abertas, som de furadeira. Vou até a minha janela e examino o termômetro. Menos cinco graus. Bem-vinda de volta a Nijmegen, pequena Lou.
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