sexta-feira, janeiro 05, 2007

Um pingo de filosofia


Acabei de ler a biografia do Kierkegaard. Ugh. Não bom saúde. Não é bem escrita, e a vida do cara também não é flor que se cheire. Individualista no toco, com mania de perseguição, aspirante a mártir e virgem por pavor. Mas apesar de toda essa anti-vida que ele teve (contra o sistema de Hegel, contra o cristianismo como ele era, contra a vida sexual, contra a vida ordinária), foi de grande importância para a filosofia. Porque ele pensou não só na teoria, na razão, no pensamento, na abstração, mas na existência do ser humano. Daí ele foi um dos primeiros existencialistas. O lance é que ele não vê o ser humano como um produto da sua história, mas como síntese. Essa é a parte bonita de tudo isso.
A gente só entende a nossa vida, se olhar pra trás, pro passado. Mas a gente não revive o passado. A gente vive pra frente, em direção ao futuro. O passado a gente consegue reconstruir, o futuro é incerto. Mas eu não sou só aquilo que eu vivi. Eu também sou os meus planos, o que eu ainda quero e vou viver. Portanto eu não sou um produto da minha história. Eu sou síntese do que foi e do que será.
Traduzindo as palavras alemãs do filósofo dinamarquês, fica assim:
O ser humano é uma síntese
do infinito e do finito,
do circunstancial e do eterno,
da liberdade e da necessidade.
Através dessas palavras bonitas e convincentes, eu encontro consolo. Não é possível captar, entender, prever um ser humano. E isso é maravilhoso. Assim somos livres de categorias, comportamentos pré-estabelecidos e convenções. Entender o ser humano não pode ser uma tarefa da ciência, porque a ciência precisa ter controle sobre as coisas que analisa. O infinito, circunstancial e a liberdade não são universais. Entender o ser humano através dessa perspectiva também não dá chance pra psicologia, porque ela costuma ser comportamental, investigadora do passado, como se a gente fosse um produto dos nossos traumas, desejos e desejos reprimidos.
... é o que vem me ocupando, além dos problemas de comunicação e interpretação entre as gerações aqui de casa...

Um comentário:

Anônimo disse...

UAL! há alguns dias ñ vejo seu blog. Abro, vejo uma flor linda e uma reflexão sobre a vida e a existência. Maravilhoso, o mundo ainda ñ se perdeu! Ainda há virtude e esperança!