A tampa da privada do banheiro do piso térreo foi trocada por uma de tamanho descombinado. Não é esse o problema. O que talvez possa ser encarado como um tipo de humor meio escatológico, é que penduraram a tampa da privada aí, onde eu costumava pendurar o meu jaco molhado de chuva, ao lado da porta de entrada da casa.
quarta-feira, janeiro 31, 2007
Privada sem privacidade
O que mais nos incomoda - além do fato de não sabermos pra quê os carpinteiros fazem o que fazem, como por exemplo é o caso da remoção dos espelhos - é que eles nunca terminam de fazer uma coisa. Arrancam o piso da escadaria e boa. Instalam mangueiras vermelhas nas paredes, mas não ligam canos com água às mangueiras. Arrancam o teto do quarto da Stephanie e esquecem que um dia estiveram lá.
Agora estamos sem o banheiro do primeiro andar. Quem mora no segundo andar faz mó ginástica pra poder se aliviar lá embaixo, no térreo. Arrancaram a privada do banheiro, trancaram a porta - e boa. Largaram a privada assim, explícita, no meio do corredor. E só voltam pra cá semana que vem, porque têm um serviço urgente pra fazer numa outra casa.
A tampa da privada do banheiro do piso térreo foi trocada por uma de tamanho descombinado. Não é esse o problema. O que talvez possa ser encarado como um tipo de humor meio escatológico, é que penduraram a tampa da privada aí, onde eu costumava pendurar o meu jaco molhado de chuva, ao lado da porta de entrada da casa.
Reforma
Toda vez que a gente chega em casa, se depara com uma casa nova. Ruben tem um quarto novo todo dia. O meu quarto é o mais intocado. Porque o meu quarto não está na rota de fuga e não tem espelhos a serem removidos. Soa estranho, mas é verdade. Anteontem, todos da casa, menos eu, claro, notaram que os carpinteiros removeram os espelhos de seus quartos. Tiraram o espelho da pia que tava preso na parede e o colocaram em outra parte do quarto. Acho que não conseguiram despregar o meu espelho da minha pia....
O andaime que está do lado de fora da casa, ligando a janela do Ruben ao chão é móvel. Tem rodinhas. Qual não foi a minha surpresa quando cheguei em casa ontem e não consegui chegar na porta de entrada da casa, porque o andaime tava encostado nela. Tive que tocar a campainha e entrar pela outra entrada da casa.
O andaime que está do lado de fora da casa, ligando a janela do Ruben ao chão é móvel. Tem rodinhas. Qual não foi a minha surpresa quando cheguei em casa ontem e não consegui chegar na porta de entrada da casa, porque o andaime tava encostado nela. Tive que tocar a campainha e entrar pela outra entrada da casa.
Da minha janela se vê o andaime e outras coisas, como por exemplo um par de Riders perdidos na calha de água congelada e folhas em fase de putrefação. Vê-se também um montinho de entulhos que os pedreiros deixaram pra nós. Ainda é possível ver a radiante luz do sol nos galhos pelados do cipreste e um ciclista passando na ruazinha de trás da casa.
segunda-feira, janeiro 29, 2007
As astúcias do pronome
Fiz um bolo de chocolate com cobertura de brigadeiro e granulado. Deixei em cima da mesa e escrevi no bloco de notas: YES!!! She is baking again!!! e fui pra aula de alemão com a Stephanie.
Depois da aula, desço pra cozinha e vejo Boti, Alexis e Ruben sentados na mesa, olhando pro bolo intocado.
Gente, eu fiz pra todo mundo!!! Cês tão esperando eu cortar o primeiro pedaço? Então vamo lá...
Ah, então foi você que fez o bolo!!!
Uai...
Quando você escreveu o bilhete, você se referiu a si mesma usando SHE?
Sim...
Ah! Por que a gente tava aqui, matutando se a Stephanie tinha escrito o bilhete, comentando que você tinha voltado a fazer bolos, mas a gente reconheceu que não era a letra da Stephanie, então a gente pensou que era você comentando que a Stephanie tinha voltado a fazer bolos, mas a Stephanie não é de fazer bolos, então a gente tava decidindo ignorar o bilhete e sumir com o bolo.
E aí, ficou bom?
Muito bom.
Depois da aula, desço pra cozinha e vejo Boti, Alexis e Ruben sentados na mesa, olhando pro bolo intocado.
Gente, eu fiz pra todo mundo!!! Cês tão esperando eu cortar o primeiro pedaço? Então vamo lá...
Ah, então foi você que fez o bolo!!!
Uai...
Quando você escreveu o bilhete, você se referiu a si mesma usando SHE?
Sim...
Ah! Por que a gente tava aqui, matutando se a Stephanie tinha escrito o bilhete, comentando que você tinha voltado a fazer bolos, mas a gente reconheceu que não era a letra da Stephanie, então a gente pensou que era você comentando que a Stephanie tinha voltado a fazer bolos, mas a Stephanie não é de fazer bolos, então a gente tava decidindo ignorar o bilhete e sumir com o bolo.
E aí, ficou bom?
Muito bom.
Perdida e achada
Ontem cheguei em casa depois da minha longa caminhada pela floresta pelada de Berg en Dal e notei que só havia uma luva no bolso do jaco. Hm... Essas coisas geralmente vêm de dois. Então cadê a outra luva? Devo tê-la perdido no mato.
Hoje fez um sol bonito de se ver, um céu azul daqueles que ri da tua cara, se você decidir se sentar na frente de um computador numa sala sem janela. Era preiso aproveitar o dia e trabalhar de noite. Decidi pedalar hoje. Até a floresta em que provavelmente perdi a minha luva.
Prendi a bike e entrei na trilha, olhando atentamente para o chão de lama preta e folhas secas. Percebi que tarefa absurda era essa, de querer achar um objeto tão pequeno - e preto! em algum lugar desconhecido, no meio do mato. Se a luva fosse vermelha ou amarela-neon, vá lá, mas era preta. Não imaginei que alguém a tivesse levado para casa, porque - o que se faz com uma luva? É preciso ter duas na mão, pra que haja interesse no objeto. Refiz toda a trilha do dia anterior, com os olhos arregalados e mãos espalmadas.
Eis que vejo, à altura dos olhos, uma luva pendurada num galho de arbusto. Alguém recolheu uma luva preta e a pendurou num galho. Era ela, eu tive certeza. Segurei-a na mão e percebi que estava úmida e fria. Era da mão direita. Então quer dizer que a outra, que tinha ficado no bolso, era da mão esquerda. Puxa, esqueci de reparar nisso! Olhei dentro da luva, pra ver se tinha etiqueta, se encontrava alguma coisa escrita, como por exemplo "Made in Brazil" ou "Lembrança de Gramado". Achei uma etiqueta com um G escrito em cima. G de Grande, não L de Large. É ela, a perdida que alguém achou pra mim, e dispôs no varal, pra que eu a achasse.
Cheguei em casa e contei pro Nico (ex-morador que voltou a morar com a gente. O bom filho à casa torna!!!) que encontrei a luva perdida. Onde tava? No mato. Você foi até lá? Sim. Quanto custou essa luva??? Heheh. Não expliquei que tinha essa coisa de sol e céu azul. Não sei se ele entenderia.
Hoje fez um sol bonito de se ver, um céu azul daqueles que ri da tua cara, se você decidir se sentar na frente de um computador numa sala sem janela. Era preiso aproveitar o dia e trabalhar de noite. Decidi pedalar hoje. Até a floresta em que provavelmente perdi a minha luva.
Prendi a bike e entrei na trilha, olhando atentamente para o chão de lama preta e folhas secas. Percebi que tarefa absurda era essa, de querer achar um objeto tão pequeno - e preto! em algum lugar desconhecido, no meio do mato. Se a luva fosse vermelha ou amarela-neon, vá lá, mas era preta. Não imaginei que alguém a tivesse levado para casa, porque - o que se faz com uma luva? É preciso ter duas na mão, pra que haja interesse no objeto. Refiz toda a trilha do dia anterior, com os olhos arregalados e mãos espalmadas.
Eis que vejo, à altura dos olhos, uma luva pendurada num galho de arbusto. Alguém recolheu uma luva preta e a pendurou num galho. Era ela, eu tive certeza. Segurei-a na mão e percebi que estava úmida e fria. Era da mão direita. Então quer dizer que a outra, que tinha ficado no bolso, era da mão esquerda. Puxa, esqueci de reparar nisso! Olhei dentro da luva, pra ver se tinha etiqueta, se encontrava alguma coisa escrita, como por exemplo "Made in Brazil" ou "Lembrança de Gramado". Achei uma etiqueta com um G escrito em cima. G de Grande, não L de Large. É ela, a perdida que alguém achou pra mim, e dispôs no varal, pra que eu a achasse.
Cheguei em casa e contei pro Nico (ex-morador que voltou a morar com a gente. O bom filho à casa torna!!!) que encontrei a luva perdida. Onde tava? No mato. Você foi até lá? Sim. Quanto custou essa luva??? Heheh. Não expliquei que tinha essa coisa de sol e céu azul. Não sei se ele entenderia.
domingo, janeiro 28, 2007
Passeio na floresta
Muitas árvores caídas no meio da floresta... Eu achava que elas tinham raízes mais profundas...
Mesmo que faça sol, sempre é bom sair de casa com um jaco que segura chuva e vento e tem capuz. Voltei à floresta que tem o caminho a Beek, que fica a poucos metros da divisa com a Alemanha. Escolhi outro caminho, mas acabei caindo novamente em Beek.
As trilhas estavam empapadas, eram de terra preta e fofa, pra não dizer lama. Cheias de marcas de pneus de mountain bikes no meio e pegadas de botas pelas bordas. Caminhei até encontrar um lago. Quem diria que há um laguinho no meio da floresta de Berg en Dal!! Sentei pra descansar e massagear os pés, olhando prum ajuntamento de casas. São as casas onde tem os veados que eu fotografei um dia, voltando da Alemanha por Berg en Dal. sábado, janeiro 27, 2007
Seguir regras
Eu sempre achei - até sexta passada - que os holandeses eram muito diferentes dos alemães no quesito seguir regras. Os alemães precisam da autoridade da regra pra se orientar.
O trânsito é um bom exemplo.
Olha pra um cruzamento na Alemanha. Haverá no mínimo quatro placas de trânsito, indicando quem tem preferência sobre quem em qual situação e pra onde se pode ir e pra qual direção é contramão. Existe uma regra que é direita antes de esquerda. Quem vem da direita tem a preferência. Se uma ruazinha de terra, em que só passa trator (de motorizado), cruzar com uma via expressa, então haverá uma placa lá no cruzamento, avisando que os carros na via expressa têm preferência sobre os eventuais tratores, apesar da regra da direita antes da esquerda.
No farol. Há momentos em que todas as luzes estão vermelhas pra todos. Durante 30 segundos intermináveis os pedestres parados ficam olhando pros carros parados, esperando a luz vermelha naquela caixinha apagar e a luz verde acender. Ninguém atravessa a rua no farol vermelho. Mesmo que não venha carro de lado nenhum, que esteja chovendo e ventando e o sujeito esteja sem guarda-chuva. Meu irmão já tomou multa por atravessar o farol vermelho. A pé.
A mão. Andar na contramão não está previsto na regra. E isso vale para ciclistas e motoristas. Meu irmão me contou que presenciou um acidente entre duas bicicletas. Um vinha vindo na mão, o outro na contramão, os dois trombaram e um caiu no chão. O que continuou pedalando, saiu vociferando: espero que você tenha se machucado!!! Chocado, Philip foi até o cara caído no chão, pra ver se ele precisava de ajuda, se tava sangrando, se conseguia levantar e andar. O cara deitado no chão gesticulou com o punho cerrado e gritou na direção do outro ciclista que na Alemanha não se anda em mão inglesa!!!! Se ele tivesse morrido, estaria escrito no túmulo dele: ele sempre seguiu as regras.
Bom, aqui na Holanda o trânsito é muito tranqüilo, os motoristas param e esperam, andam devagar e olham pra quem está na rua.
Outro locus pra se observar essa coisa de regra é o lance dos títulos. Na Alemanha, os professores ou pesquisadores que possuem o título de doutor insistem em ser chamados de Herr Professor Doktor Schmidt. Aqui na Holanda todo mundo é tratado pelo primeiro nome. Eu é que não consigo dizer Herman, e chamo o meu orientador de Professor Kolk.
O anúncio de que as coisas não são como eu as vejo: Dou aulas de alemão pra Stephanie, a francesa, faz um bom tempo, e ela comentou mais de uma vez que a pressão social que ela sente por não seguir as regras é fortíssima aqui. Achei que ela só tava sendo muito francesa, e que ela não tinha visto nada, que na Alemanha isso é muito mais acentuado. Numa reunião de trabalho, Stephanie queria propor um método de trabalho diferente, eles mandaram ela calar a boca. Ela precisava ouvir o que eles tinham pra falar. Mas ninguém queria escutar o que ela tinha pra dizer.
Aqui também há regras a serem seguidas: Sexta-feira eu tive reunião com o orientador. Eu tinha camelado por duas ou mais semanas numa quantidade imensa de dados. Ele queria que eu fizesse A. Fazer A significava seguir a mesma regra que ele seguiu num artigo dele. Eu fiz A. Mas eu achei que os resultados de A não me diziam nada, e fui adiante, explorando o universo B. Cheguei a qualificar B e alcançar resultados que chamo de C. Nessa reunião com o orientador, eu apresentei C. Não era o que ele esperava, não era o que ele queria ver. You have to do it my way!!!! Eu queria que ele ouvisse as próprias palavras. Assustada com essa reação explosiva, tentei explicar, mas ele já tinha bloqueado tudo. Nonsense!!! Insisti em me fazer clara, apesar do rosto vermelho e voz falhando. Aí ele se acalmou, explicou que eu não estava sendo sistemática. Primeiro era preciso comparar os dados em português com os dados em holandês. Seguindo o mesmo método. Depois era preciso mostrar que essa comparação não leva a nada. E depois era preciso desenvolver um novo método. Step by step. O meu propósito agora era comparar dados. Num outro momento eu posso propor uma análise diferente, para um propósito diferente.
Não consegui simplesmente sentar e arranjar os dados de volta para a condição A. Pus o tênis e jaco de expedição ao Pólo Sul e caminhei furiosamente pelas ruas e na floresta. Vi neve e chuva caindo. Quando saí da floresta e cheguei no asfalto, vi a placa da divisa com a Alemanha. Caraca! Caminhei tudo isso!!! Agora era preciso voltar. A volta me pareceu muito mais rápida. Imagino que isso esteja associado à minha incapacidade de pensar enquanto percorro longas distâncias, seja a pé ou de bike. Sempre começo com a cabeça cheia, e aos poucos vou me esvaziando. Depois de 3 horas, cheguei em casa tranqüilinha, sabendo o que fazer. You have to do it my way. Depois eu proponho o meu jeito.
O trânsito é um bom exemplo.
Olha pra um cruzamento na Alemanha. Haverá no mínimo quatro placas de trânsito, indicando quem tem preferência sobre quem em qual situação e pra onde se pode ir e pra qual direção é contramão. Existe uma regra que é direita antes de esquerda. Quem vem da direita tem a preferência. Se uma ruazinha de terra, em que só passa trator (de motorizado), cruzar com uma via expressa, então haverá uma placa lá no cruzamento, avisando que os carros na via expressa têm preferência sobre os eventuais tratores, apesar da regra da direita antes da esquerda.
No farol. Há momentos em que todas as luzes estão vermelhas pra todos. Durante 30 segundos intermináveis os pedestres parados ficam olhando pros carros parados, esperando a luz vermelha naquela caixinha apagar e a luz verde acender. Ninguém atravessa a rua no farol vermelho. Mesmo que não venha carro de lado nenhum, que esteja chovendo e ventando e o sujeito esteja sem guarda-chuva. Meu irmão já tomou multa por atravessar o farol vermelho. A pé.
A mão. Andar na contramão não está previsto na regra. E isso vale para ciclistas e motoristas. Meu irmão me contou que presenciou um acidente entre duas bicicletas. Um vinha vindo na mão, o outro na contramão, os dois trombaram e um caiu no chão. O que continuou pedalando, saiu vociferando: espero que você tenha se machucado!!! Chocado, Philip foi até o cara caído no chão, pra ver se ele precisava de ajuda, se tava sangrando, se conseguia levantar e andar. O cara deitado no chão gesticulou com o punho cerrado e gritou na direção do outro ciclista que na Alemanha não se anda em mão inglesa!!!! Se ele tivesse morrido, estaria escrito no túmulo dele: ele sempre seguiu as regras.
Bom, aqui na Holanda o trânsito é muito tranqüilo, os motoristas param e esperam, andam devagar e olham pra quem está na rua.
Outro locus pra se observar essa coisa de regra é o lance dos títulos. Na Alemanha, os professores ou pesquisadores que possuem o título de doutor insistem em ser chamados de Herr Professor Doktor Schmidt. Aqui na Holanda todo mundo é tratado pelo primeiro nome. Eu é que não consigo dizer Herman, e chamo o meu orientador de Professor Kolk.
O anúncio de que as coisas não são como eu as vejo: Dou aulas de alemão pra Stephanie, a francesa, faz um bom tempo, e ela comentou mais de uma vez que a pressão social que ela sente por não seguir as regras é fortíssima aqui. Achei que ela só tava sendo muito francesa, e que ela não tinha visto nada, que na Alemanha isso é muito mais acentuado. Numa reunião de trabalho, Stephanie queria propor um método de trabalho diferente, eles mandaram ela calar a boca. Ela precisava ouvir o que eles tinham pra falar. Mas ninguém queria escutar o que ela tinha pra dizer.
Aqui também há regras a serem seguidas: Sexta-feira eu tive reunião com o orientador. Eu tinha camelado por duas ou mais semanas numa quantidade imensa de dados. Ele queria que eu fizesse A. Fazer A significava seguir a mesma regra que ele seguiu num artigo dele. Eu fiz A. Mas eu achei que os resultados de A não me diziam nada, e fui adiante, explorando o universo B. Cheguei a qualificar B e alcançar resultados que chamo de C. Nessa reunião com o orientador, eu apresentei C. Não era o que ele esperava, não era o que ele queria ver. You have to do it my way!!!! Eu queria que ele ouvisse as próprias palavras. Assustada com essa reação explosiva, tentei explicar, mas ele já tinha bloqueado tudo. Nonsense!!! Insisti em me fazer clara, apesar do rosto vermelho e voz falhando. Aí ele se acalmou, explicou que eu não estava sendo sistemática. Primeiro era preciso comparar os dados em português com os dados em holandês. Seguindo o mesmo método. Depois era preciso mostrar que essa comparação não leva a nada. E depois era preciso desenvolver um novo método. Step by step. O meu propósito agora era comparar dados. Num outro momento eu posso propor uma análise diferente, para um propósito diferente.
Não consegui simplesmente sentar e arranjar os dados de volta para a condição A. Pus o tênis e jaco de expedição ao Pólo Sul e caminhei furiosamente pelas ruas e na floresta. Vi neve e chuva caindo. Quando saí da floresta e cheguei no asfalto, vi a placa da divisa com a Alemanha. Caraca! Caminhei tudo isso!!! Agora era preciso voltar. A volta me pareceu muito mais rápida. Imagino que isso esteja associado à minha incapacidade de pensar enquanto percorro longas distâncias, seja a pé ou de bike. Sempre começo com a cabeça cheia, e aos poucos vou me esvaziando. Depois de 3 horas, cheguei em casa tranqüilinha, sabendo o que fazer. You have to do it my way. Depois eu proponho o meu jeito.
quinta-feira, janeiro 25, 2007
De volta ao lar
Chego às 7:15 na estação de ônibus Nord. Esteves e eu madrugamos. Sento no ônibus e chego pouco antes das 9 em Girona, de onde sai o avião da Ryanair. No caminho, reparei que os campos estão meio esbranquiçados. Deu geada? Não tá com cara de neve...
O check-in ainda não abriu. Sento, espero. Dois boyzinhos - com luzes no cabelo empapado de gel, sobrancelha feita, anéis em metade dos dedos da mão, colares de ouro, camisa meio aberta pra mostrar que tem pêlos no peito, mais de um brinco em cada orelha, sendo que dois são de algo que parece diamante - querem atenção. São australianos, estão em tour: Las Vegas, New York, Berlin, Amsterdam, Londres, Barcelona, Roma e esqueci do resto. Eles têm malas e bagagem de mão. Falam alto porque perderam o vôo pra Roma, porque chegaram 10 minutos atrasados; e agora não sabem o que fazer. Não se ligam que Milano e Veneza também ficam na Itália, e que poderiam pegar um vôo em 2 horas pra uma dessas cidades e ir a Roma de trem. Não conseguem decidir se voltam pra Barcelona, se ficam em Girona, se dormem ou continuam farreando; se pegam o vôo pra Roma de noite ou amanhã de manhã, no mesmo horário. O preço das coisas não importa muito, afinal o cartão de crédito de um deles está quebrado. Mostra 3 cacos de um cartão. Será que funciona?
Vou para o meu check-in. Fila, espera, anda, sim, não, gracias. Volto até os dois príncipes australianos, por curiosidade. Decidiram ficar em Girona, dormir e pegar o avião na manhã seguinte. Tomara que consigam acordar em tempo.
Vou até o meu portão, saguão de espera, reconheço um casalzinho que veio comigo, sorrisos. Tento ler, mas não consigo me concentrar. Nos alto-falantes, todas as chamadas são em três línguas, e eu quase não entendo nenhuma delas: castelhano, catalão e inglês (numa velocidade absurda, com uma pronúncia impossível). Sou a penúltima a entrar no avião, sento, fecho os olhos, sinto como se tivesse areia por debaixo das pálpebras, vejo tudo vermelho e durmo. Acordo com um tranco. Abro os olhos, percebo que estou no avião, e que ele balança. Isso não é bom sinal. Caraca, será que o avião atropelou algum urubu? Olho pra fora da janela, vejo asfalto, grama verde com branco. Ah! Isso foi a aterrisagem. Tranqüilo. Vixe, tá meio branco lá fora. Sou uma das primeiras a sair para o frio glacial.
Na van de Weeze pra Nijmegen a mesma paisagem de árvores desenraizadas, casas destelhadas e coisas jogadas longe, que ninguém desvirou ou recolheu. Mas agora tem o diferencial de que tudo está coberto de uma fina camada branca. O caminho da Centraal Station até em casa é longo, porque os pés estão congelados. Vejo a minha respiração, as mãos estão vermelhas e ardendo de frio.
Em casa, uma escada externa está sendo instalada. Cheiro de tinta, rádio com vozes femininas cantando yeah yeah uh uh, e os carpinteiros achando lindo. Todas as portas de todos os quartos abertas, som de furadeira. Vou até a minha janela e examino o termômetro. Menos cinco graus. Bem-vinda de volta a Nijmegen, pequena Lou.
O check-in ainda não abriu. Sento, espero. Dois boyzinhos - com luzes no cabelo empapado de gel, sobrancelha feita, anéis em metade dos dedos da mão, colares de ouro, camisa meio aberta pra mostrar que tem pêlos no peito, mais de um brinco em cada orelha, sendo que dois são de algo que parece diamante - querem atenção. São australianos, estão em tour: Las Vegas, New York, Berlin, Amsterdam, Londres, Barcelona, Roma e esqueci do resto. Eles têm malas e bagagem de mão. Falam alto porque perderam o vôo pra Roma, porque chegaram 10 minutos atrasados; e agora não sabem o que fazer. Não se ligam que Milano e Veneza também ficam na Itália, e que poderiam pegar um vôo em 2 horas pra uma dessas cidades e ir a Roma de trem. Não conseguem decidir se voltam pra Barcelona, se ficam em Girona, se dormem ou continuam farreando; se pegam o vôo pra Roma de noite ou amanhã de manhã, no mesmo horário. O preço das coisas não importa muito, afinal o cartão de crédito de um deles está quebrado. Mostra 3 cacos de um cartão. Será que funciona?
Vou para o meu check-in. Fila, espera, anda, sim, não, gracias. Volto até os dois príncipes australianos, por curiosidade. Decidiram ficar em Girona, dormir e pegar o avião na manhã seguinte. Tomara que consigam acordar em tempo.
Vou até o meu portão, saguão de espera, reconheço um casalzinho que veio comigo, sorrisos. Tento ler, mas não consigo me concentrar. Nos alto-falantes, todas as chamadas são em três línguas, e eu quase não entendo nenhuma delas: castelhano, catalão e inglês (numa velocidade absurda, com uma pronúncia impossível). Sou a penúltima a entrar no avião, sento, fecho os olhos, sinto como se tivesse areia por debaixo das pálpebras, vejo tudo vermelho e durmo. Acordo com um tranco. Abro os olhos, percebo que estou no avião, e que ele balança. Isso não é bom sinal. Caraca, será que o avião atropelou algum urubu? Olho pra fora da janela, vejo asfalto, grama verde com branco. Ah! Isso foi a aterrisagem. Tranqüilo. Vixe, tá meio branco lá fora. Sou uma das primeiras a sair para o frio glacial.
Na van de Weeze pra Nijmegen a mesma paisagem de árvores desenraizadas, casas destelhadas e coisas jogadas longe, que ninguém desvirou ou recolheu. Mas agora tem o diferencial de que tudo está coberto de uma fina camada branca. O caminho da Centraal Station até em casa é longo, porque os pés estão congelados. Vejo a minha respiração, as mãos estão vermelhas e ardendo de frio.
Em casa, uma escada externa está sendo instalada. Cheiro de tinta, rádio com vozes femininas cantando yeah yeah uh uh, e os carpinteiros achando lindo. Todas as portas de todos os quartos abertas, som de furadeira. Vou até a minha janela e examino o termômetro. Menos cinco graus. Bem-vinda de volta a Nijmegen, pequena Lou.
Resumo da ópera
Barcelona foi isso, que eu juntei nessas imagens. 5 dias de cultura underground e alternativa, com as casas ocupa, as constantes obras e o cheiro de construção no ar, a Sagrada Família que eu não visitei porque o vento tava muito forte e fecharam as torres. Mas cobravam os 8 euros de entrada, que incluía a vista panorâmica. Barcelona é toda cores, é mosaico, são materiais diferentes formando um conjunto. É gente nova, são os amigos do Esteves, ele próprio, por supuesto, e o Mediterrâneo lá no fundo, juntando tudo num profundo esquecimento das diferenças. Diferenças que são acordadas de vez em quando. Quando passa uma onda. Aquela uma, pequena.
Casa Batlló
Essa casa foi idealizada por Gaudí. Eu ia usar a palavra projetada, mas desisti, porque não havia exatamente um projeto. Havia um desenho e uma idéia, e o próprio arquiteto lá, todo dia, supervisionando a obra. A fachada é apelidada de "Casa de ossos". A parte de trás só é vista por poucos....
Há poucas linhas retas, ângulos pontudos ou movimentos abruptos. É tudo meio como se fosse embaixo da água.
Foi uma encomenda, ele aceitou deixar as suas marcas numa casa. O que ele fez, foi a fachada, o piso onde o sujeito morava, o vão que conecta os andares de moradias e o terraço lá em cima, com uma lavanderia da hora. Toda a casa respira. Há um sistema de ventilação entre os cômodos, que é simplesmente genial.
Há poucas linhas retas, ângulos pontudos ou movimentos abruptos. É tudo meio como se fosse embaixo da água.
Foi uma encomenda, ele aceitou deixar as suas marcas numa casa. O que ele fez, foi a fachada, o piso onde o sujeito morava, o vão que conecta os andares de moradias e o terraço lá em cima, com uma lavanderia da hora. Toda a casa respira. Há um sistema de ventilação entre os cômodos, que é simplesmente genial.
Aquário
No Parque de la Ciudadela
Cidade moderna
Tá, eu sei, estou só mostrando prédios pra dizer que a cidade é tanto antiga como moderna. Mas não quis fotografar as senhorinhas que andam por aí de saia, com sacola de feira, batom vermelhão, óculos escuro grandão e cabelos presos no alto com grampos discretos.
E tem muita gente jovem de tudo quanto é parte do mundo. De noite todos são músicos, artistas, performáticos. De dia são desesperados ou esquecidos de si.
Toda a cidade está em obras. Acordava e dormia ao som de britadeiras. Até no mar há um canteiro de obras... O cheiro de cimento, areia seca e tinta venenosa estão no ar, não tem jeito.
Eras passadas
José Carlos
Esteves trabalha de dia. Putz! Na segunda-feira tive um guia particular pra me mostrar a cidade. José Carlos, que ainda mora na casa ocupa colorida, tava sem nada pra fazer de tarde. Depois do almoço que eu fiz (sim, fui no mercat, comprei as coisas e cozinhei pra galera), Esteves voltou pra labuta e JC e eu fomos ao Parque Güell. Fica no alto, na lateral de Barcelona, e foi meio que criado pra Gaudí se divertir. De noite, chegamos à Sagrada Família, mas já tava fechada.
JC é o cara que detesta caminhar, repudia ônibus e tá ligado no esquema de metrô. Sabe de tudo que se conecta por baixo da terra. Andou comigo, o tio!
Por que não me entendem?
Esteves ficava passado com isso. Quando ele falava português, ninguém o entendia. ! Mas é igual, como eles não conseguem entender?! Nem os bilingües que falam castelhano e catalão tinham facilidade pra entender os chiados paulistas do figura. Aí chega a pequena Lou falando português com todo mundo e trocando mó idéia, e a comunicação funciona!!!
Verdade. No começo, não era nem portunhol, o que eu falava, mas a gente se entendia. Aí ele se empolgava e falava português com a Eva e Arantja, e elas não entendiam. Que dizes? Ele baixava a cabeça e apontava pra elas com a palma da mão, pedindo pra que eu dissesse o que ele tinha acabado de dizer. Eu repetia o que ele tinha dito e pronto, todo mundo sorria.
Aí todos perguntavam se eu falava castelhano. Não. Mas estamos conversando! Como pode?
Confesso que eu só entendia as pessoas, quando se dirigiam
a mim. Quando a Eva falava com a Arantja, eu não entendia
Turismo com Esteves não é pra ver monumentos. É pra conhecer pessoas e falares. Tenho agora uma vaga idéia de como soa catalão e galego. Eva é galega. Eva é a pessoa que mais se aproxima da definição de "namorada" para Esteves.
Na noite do dia em que cheguei, fomos a um bar. Lá eu conheci o Abdul, que está na casa ocupa, no lugar do Esteves. Conheci também o Denni, que me contou toda a vida dele, misturando alemão, inglês, castelhano e turco na narrativa. Esse não esqueceu do meu nome, apesar de eu só ter sorrido pra ele e escutado as estórias que ele contava com olhos arregalados, veia da testa saltada e não gesticulando freneticamente.
Havia música no bar. Um dos caras no palco tava todo à
pampa, viajando no som, se entregando às ondas sonoras. Era loirinho e se chamava Martin. Depois do show, Esteves foi lá, trocar idéia com o cara. Era holandês de Groningen. Pronto. Conversamos os três em holandês, porque claro, Esteves já teve a sua fase de estudar holandês. Chegam Eva e Arantja com o Ramón. É tarde, a galera se vai.
O holandês vem se despedir. Esteves levanta, começa a pegar estantes e instrumentos e acompanhamos a banda pra casa. Duas e meia da madrugada e nóis dois brazuca na casa de desconhecidos, bebendo e comendo o que havia na mesa e conversando sobre música.
Isso é turismo com Marco Esteves de Moura Campos.
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