sexta-feira, maio 25, 2007

The long way home

Fui de trem a Milano por 42 euros. Trem na Itália é barato. Foram 6 horas de viagem, atravessando quase metade do país. A paisagem é linda. Por sorte, eu tinha terminado de ler o Hamlet no aeroporto, naquela fila colossal. Todo mundo morre no final, uma tragédia. Deixei o livro num bar de pizza express, pra não ter que carregar peso. O que eu tinha pra ler agora era um gibi do Topo Gigio, adquirido numa feira de antigüidades em Lucca. Il vecchio Topo Gigio!
Desci do trem em Milano, junto com um negão que tava me convidando pra ir numa festa hip hop que ia ter, vai ser legal, o DJ Hollywood vai estar lá. Valeu, cara, mas eu preciso voltar pra casa. Fomos os dois pra tabela de partenza e descobrimos que o melhor trem era um pra Dortmund, mas que ele já tinha partido às 21 e pouco. Era mais que 11 da noite. Tinha um trem pra Parigi, às 23:35, saindo do binario 9. Quis comprar bilhete na máquina, mas a máquina não vende bilhetes internacionais. A bilheteria estava fechada faz tempo. O negão insistiu que eu dormisse na casa dele, que fosse na festa hip hop, mas eu preferi ir ao binario 9. Ele perguntou ao controlador de bilhetes se eu podia comprar um bilhete a bordo, se era mais caro, porque a coitada não tinha culpa que a bilheteria tava fechada. É 105 euros na bilheteria ou a bordo. Subi no trem. O meu companheiro quis o meu telefone, mas não tinha caneta, nem papel. Ficou pedindo caneta e papel pros controladores de bilhete noiados e estressados, até que um passageiro deu uma caneta pro homem. Entreguei o papel com o meu e-mail pro negão, e a porta do trem se fechou com rancor. Era um trem noturno, com cabinas pra se dormir deitado. Os homens uniformizados me mandaram pro vagão 86. Fui seguindo dois americanos de mochilão enorme, que mal passavam pelos corredores. Por que esse povo faz a mala como se estivesse fugindo de casa? Chegamos no vagão 86, fomos mandados mais pro fundo. Cheguei no último compartimento do último vagão. Tinha duas mexicanas e um americano sentados lá. Me juntei a eles, esperando o controlador de bilhetes. Me dei conta de que eu não tinha 105 euros em cash, e que ele poderia não aceitar cartão. Rezei pra ficar invisível, pra me esquecerem.
Eu lembrava de ter visto Lyon no itinerário do trem. Pensei em saltar em Lyon, achando que iam controlar os bilhetes perto de Paris. O trem parou em Dijon, a cidade em que o Ferrone morou, e de lá em diante uma névoa espessa se estendeu sobre a França. Pouco antes de chegar a Paris, o controlador de bilhetes veio devolver os passaportes e trocos dos meus companheiros de compartimento. Sim, eles recolhem os passaportes dos passageiros em trens noturnos que atravessam fronteiras internacionais. Isso quer dizer que eu teria chamado muita atenção se tivesse descido em Dijon, porque era esperado que eu ainda não tivesse recebido o meu passaporte de volta. Depois de mais ou menos 9 horas de viagem, o moço vinha devolver os passaportes. O moço olhou pra mim. O meu telefone tocou, era uma mensagem da Vodafone dizendo que eu estava na França e podia comprar créditos por lá. Quando levantei os olhos, o moço dos passaportes tinha sumido. Rezei pra ele esquecer de mim, não reparar que eu não tinha recebido o passaporte, não checar que passageira era aquela. Foi torturante, como o trem entrou devagar na estação de Paris. As portas se abriram. Fui a segunda a descer. Olhei pra trás, havia um uniformizado em cada porta do trem, menos na minha. Caminhei pelo voie (binario) até chegar na rua. Ninguém me chamou de volta. Agradeci aos céus. Eu não quis fazer turismo em Paris num dia nublado, com sono, fome e sem banho. Descobri de onde partem os ônibus mais baratos da Europa e comprei passagem pra Den Haag, dali a meia hora. Foram mais ou menos 7 horas de viagem no buzão, com duas pausas de 20 minutos, por 37 euros. Passamos por Bruxelas e Antuérpia, que são cidadezinhas bacanas. Em Den Haag, peguei 2 trens pra Nijmegen e cheguei em casa mais ou menos 31 horas depois de ter saído do aeroporto de Ciampino. Turismo radical.
Tá vendo, com a minha sorte de economizar os 105 do trem a Paris, gastei só 79 euros pra chegar na Holanda, sendo que a passagem de avião - cujo valor me será restituído - custou 75. A única diferença foi o tempo: 31 contra 4 a 6 horas...

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