quarta-feira, maio 30, 2007

Biblioteca no Max Planck Institut

Eu já tinha ido lá, pra participar de um workshop. Reparei que o prédio é discreto, de dois andares, meio hexagonal - e no meio do mato. Fica nos fundos da Radboud Universiteit, é especializado em Psicolingüística e é freqüentado por poucos holandeses, muitos alemães e falantes de inglês.
Fui lá por causa da biblioteca, que tem revistas como por exemplo a Aphasiology, Journal of Pragmatics ou Journal of Neuropsychology, que não estão no inventário das bibliotecas da Radboud. E o melhor da biblioteca do Max Planck é que ela é focada nas coisas que me interessam. Não tem nada de pedagogia, psicologia ou antropologia pra distrair a minha atenção.

Não há nenhuma forma de controle nessa biblioteca, nem não há coisas desagradáveis sobre as quais você não tem controle. É uma biblioteca sem bibliotecária, portanto sem o incômodo das bibliotecárias falando alto, como estivessem em casa. Também não tem ar-condicionado (sobre cuja temperatura o usuário não tem controle. Quando descobri onde fica o botão que desliga o barulhento ar-condicionado que sopra ventos polares na biblioteca do IEL, foi um alívio pra mim e os outros, mas não demorou muito e as bibliotecárias descobriram a minha revolução e botaram o ar-condicionado no automático). Também não há venezianas que se fecham em determinados horários (conforme o sol vai beirando as estantes de livros, a bibliotecária na biblioteca da Radboud aperta um botão que faz as lâminas de plástico das janelas descerem).

Fui até o acervo, que está disposto em estantes sobre trilhos, com várias portas que se abrem através de manivelas. Você abre um corredor de estantes girando a manivela de uma porta. Não tem botão que possa pifar, não tem pessoa que pega o livro pra você. Sentei perto da parede de vidro e olhei pra floresta. Não precisei ligar a luz, porque a luz natural era o suficiente pra eu ler sobre estruturas argumentais de verbos.
Fiquei intrigada como se faz pra emprestar algum livro e andei pela biblioteca vazia. Perto da entrada, reparei numa mesa com uma caixinha em cima. Dentro da caixinha havia papeizinhos de anotar recado. Na caixinha estava escrito: empréstimos. Quem quiser levar um livro, escreve os seus dados e os do livro num papel e pronto, resolveu-se a história.
Voltei pro meu assento e olhei através da outra parede de vidro, que dá pro pátio interno do prédio. Vi um pai com um bebê no colo, sentado num banco. O homem tava lendo um livro. Imaginei que isso deve ser loucura de lingüista, querer ler com uma criança no colo. Uma senhora passou por mim e foi até os arquivos. Ouvi a voz dela produzindo sons numa língua desconhecida. Não sei se ela tava aprendendo palavras novas num dicionário, se ela tava falando alto enquanto procurava por alguma coisa específica, mas sei que ela saiu do arquivo radiante de felicidade. Concluí que só mesmo lingüista se empolga desse jeito com a língua dos outros.

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