sexta-feira, maio 25, 2007

La Spezia

Saí da estação e entrei no primeiro hotel. O moço da recepção tava noiado e não se esforçou pra disfarçar o seu dissabor. Siamo completti. Va benne. Tentei outro, depois outro, fui me distanciando da estação, adentrando a cidade. Todos os hotéis cheios. Em cada hotel eu pedia pra me indicarem outro hotel, mas o efeito foi que passei por quase todos, sem encontrar um leito vazio. No último hotel em que entrei, a recepcionista se compadeceu de mim e do meu estado cansado e sujo. Me informou que em La Spezia tava acontecendo um evento esportivo que atrai italianos de todo o país e lota todos os hotéis.
Um americano encostou no balcão do meu lado, também procurando lugar pra ficar. A recepcionista me ofereceu o telefone, pra eu ligar pra albergues em outras cidades, tipo Firenze, Lucca e Genova, me informou sobre os trens pra essas cidades e ligou prum hotel em Viareggio, em que cobravam 100 euros o casal. Cama matrimonial com um americano desconhecido... ãhm... não, fica pra próxima.
Eu tinha almoçado frutas secas lá pelas 4 da tarde, e tinha esquecido que tenho um estômago nessas andanças atrás de uma cama pra dormir. O americano e eu decidimos jantar. O nome dele é Noah. Achamos um restaurante aberto depois das 23:00 e entramos. Engraçado. Em Grenoble, Jonas e eu jantamos com Erin, uma americana viajando pela França com o dicionário a tiracolo. Na mesa, ela tirou da bolsa um frasco que continha um gel que mata 99,99% dos germes. Noah me ofereceu toalhas úmidas que matam os germes. Perguntei que nóia os americanos tinham com higiene. Tipo, os japoneses são encanados com higiene: vi várias senhorinhas com máscara na frente da boca e nariz, ou mesmo usando luvas no calor tropical da Itália. Noah respondeu que americano acha que os europeus não são um povo muito limpo. Ademais, disse que viajar na Europa é completamente diferente de viajar nos States: você precisa carregar a tua própria mala! Uai, filhão, isso não é óbvio?! Não, em casa tem escada rolante, elevador, rodinha, acesso pra deficiente, é tudo conveniente, e nas empresas aéreas não existe limite de bagagem. Cê pode carregar quanto quiser! Credo.
Depois da janta, nos encaminhamos pra estação. O trem seguinte era pra Pisa, às 1:35 da madrugada. Eu não queria bater em porta de hotel em Pisa de madrugada. Eu queria ir pra Firenze, não pra Pisa. Ele entrou no trem, eu fiquei naquelas cabinas protegidas do vento com cadeiras pra se esperar. Dormi na estação, junto com mendigos que roncavam, tossiam forte e gemiam enquanto tinham os seus pesadelos. E não era a única mulher lá, não. Tinha outras duas, uma com cara de russa e outra negona. Todos estavam equipados de cobertores ou panos pra cobrir o rosto, todos abraçavam seus pertences, todos decoraram as falas da voz anunciava a passagem de trens. Alontanarse della linea gialla. Sim, estamos longe da linha amarela...

O meu trem pra Firenze era pra ser às 4:47. Levantei às 4 e fui até a máquina, descobrir como se compra bilhete. Comprei o bilhete e voltei pro binario (plataforma), pra olhar pra tv que anuncia os trens. Trem pra Firenze às 4:47. Soppresso. Opa! Cancelado! Caraca! De fato, ele não veio. Olhando pra tabela de horários, estava um homem baixinho. Puxou conversa, estudamos as possibilidades de chegar a Firenze, esperamos a bilheteria abrir, pra trocar o meu bilhete, porque íamos pegar um trem pra Napolis que parava em Pisa, mas era mais caro que o regional.

Claudio pagou a diferença do meu bilhete, mas eu paguei de volta pra ele. Pagou pelo meu café, e não aceitou o euro que lhe ofereci. O que tava acontecendo se chama sciopero: greve dos ferroviários. Só na Toscana, só hoje. Bah, que sorte, a minha!

Pegamos o trem até Pisa, e ele perguntou se eu aceitava a companhia dele. Uai, por que não. Perguntou quantos dias eu ia ficar em Firenze, ofereceu da gente procurar um hotel barato e confortável, não, porque tem que ser confortável, tomamos um banho, comemos alguma coisa e damos um giro por Firenze. No te preocupa, eu conheço a cidade. Va benne cosí? Hm... Perguntei se ele por acaso tava indo pra Firenze, ele disse que sim. Fare un giro. Achei essa coisa muito esquisita. Pegou a minha mãozinha. No te preocupa. A estação de Pisa estava em reforma, cheia de gente, sem trem, tudo com pelo menos 20 minutos de atraso. Quando havia por exemplo 4 trens por hora pra Firenze, só um rodava. Lotado até o toco, claro. E o trem que ia, parava em todas as estações. Claudio adormeceu. Eu fiquei imaginando como ia dizer pra ele que agradeço pela ajuda pra chegar a Firenze, mas que não queria mais a companhia dele. Basta. Uma estação antes da estação central de Firenze, desci do trem. Ele continou dormindo. Não olhei pra trás, segui o fluxo e sumi na multidão.

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