sexta-feira, junho 29, 2007

De bicicleta no trem

Eu nunca tinha transportado uma bicicleta num trem holandês. Eu tinha reparado que havia sempre um vagão reservado para as bicicletas: ou o primeiro, ou o último. Mas os cartazes avisando que a bicicleta é bem-vinda estão em todos os vagões, o que já me confundiu. Adoro as placas holandesas, são à prova de mal-entendidos, com desenhinho. A bicicleta dobrável - coisa que eu não tenho - vai de gratis tanto no trem como no avião, sem problema, sem reserva, sem malabike. A bicicleta normal é que é complicada de se transportar...
E esse bilhete pra bicicleta não pode ser comprado com o controlador, na hora, tem que ser comprado na máquina. Foi assim que eu perdi o primeiro trem.
Paguei os 6 euros pela bicicleta. Catzo! Quem transporta uma geladeira no trem não paga um bilhete pela bagagem, mas a bicicleta não-dobrável precisa de um bilhete de 6 euros.
O vagão de bicicletas no trem holandês é pequeno e não oferece nada pra se prender a bike. É um espaço vazio. Tive a sorte de pegar um vagão que tinha um porta defeituosa. Justo a porta pela qual eu queria sair. Pus a bike na roda traseira e caminhei pelo corredor do vagão de passageiros surpresos ao ver uma bike empinada forçando-os a caminhar naquela direção.
O vagão de bicicletas no trem alemão é mais preparado em termos de espaço - 5 vezes maior que o do trem holandês, mas também não tem nada pra se prender a bike. Vi uns moços com aqueles elásticos com ganchos nas pontas, que eles passaram no quadro e prenderam na calefação. Pois é. Eu pus a minha mochila entre as rodas, bem na corrente recém-lubrificada (maravilha!), pra Pequena Giant não dançar muito.

Aí veio a parte do pesadelo. O trem na foto de cima é um trem regional, e ninguém veio controlar a minha passagem ou o bilhete da bicicleta (que eu já não tinha mais, porque eu já tinha cruzado a fronteira e o bilhete da bicicleta holandês só é válido na Holanda). O trem de baixo é um IC, mais caro, mais rápido, menos paradas. Por todas essas qualidades, mais controlado.

Por uma manezice minha (eu tinha tentado entrar com a bike no ICE, o trem mais rápido que há, mas o controlador me informou que é impossível levar a bike no ICE. Quem anda de ICE, disse o meu irmão mais tarde, carrega uma pasta executiva, não uma bike!) eu estava atrasada em duas horas pra pegar este IC, cujo bilhete eu tinha comprado com desconto, um mês antes. O último vagão estava lacrado, olha que maravilha, entrei no penúltimo e deixei a bike na porta para o vagão lacrado, sabendo que ela estava atrapalhando a passagem das pessoas que subiam e desciam do trem. Mas como era um IC, não tinha muitas paradas. Larguei a bike e a mochila ali e fui procurar lugar pra sentar no trem cheião. A controladora me cobrou uma multa de 34 euros por eu ter perdido o trem que saiu 2 horas antes. Foi-se o desconto. Não mencionei a bike encostada lá no fundo. Ela viu a bicicleta, fez cara feia, mas não perguntou pras pessoas de quem era aquela bicicleta em lugar inapropriado. A discrição alemã. Nada de escândalo, nada de levantar a voz. Veio uma segunda controladora, porque em algum lugar trocaram de staff, e essa gritou pra dentro do trem de quem era aquela bicicleta. Fui lá. Ela tinha caído, eu a levantei. Esta bicicleta deveria estar no vagão de bicicletas! Mas o vagão de bicicletas está lacrado! Isso não é um vagão de bicicletas. Uai, não era o primeiro e o último? Não no IC. No IC, só o primeiro vagão é reservado pras bicicletas. Ah, eu não sabia. A controladora queria ver o meu bilhete da bicicleta. Não tenho. Então a gente vai jogar a bicicleta pra fora na próxima estação. Ô loco! Posso comprar um bilhete agora, como você? Sim, são 9 euros.

Todo mundo nos 2 compartimentos de cabinas para 6 pessoas, no compartimento de fumantes e no compartimento onde eu tava sentada, soube a quem pertencia aquela bicicleta no fim do corredor. Na hora de eu descer, a controladora tava de novo do meu lado. Ela abriu a porta -ainda bem, porque eu detesto essa manivela impossível. Um passageiro me ajudou a botar a bike pra fora, porque ela tava ao contrário e eu tava meio - como é que eu vou sair com ela, se eu não consigo virar a bichinha aqui dentro...

Finalmente o último trem, um trem regional - em que eu novamente não fui controlada.
A melhor parte foi poder pedalar de Bassum pra casa dos meus pais, e não ter que pedir pra alguém vir me buscar. O mais frustrante é que essa foi a única vez que eu pedalei a Pequena Giant, porque chove aqui. Eu queria ir a Bremen (30km), ver alforjes pra roda da frente e voltar (os mesmos 30km). Esse plano foi por água abaixo.

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