Nomes de músicas instrumentais sempre me intrigaram. Como é possível dar um nome para uma obra musical que não tem letra, que não conta uma estória, que não canta as virtudes de ninguém, que não recorre às palavras? Será que a escolha do nome é aleatória?
Imagino que os clássicos tenham pensado assim, já que na música erudita, os nomes das peças muitas vezes são referentes às características da própria música (sinfonia, ópera, concerto, sonata...). O que diferencia uma sonata de outra é um número, e basta, não há quase nenhum apelo à imaginação de quem ouve a peça.
Mas não precisa ser assim. Quem ouvir Jazz e ler os títulos de algumas músicas como, por exemplo: Serenade for the Renegade, The Message, Ballad for the Unborn, The Face of Love (tudo Esbjörn Svensson Trio), já imagina de cara que a música vai ser, no mínimo, apelativa aos sentidos românticos.
Já nomes de músicas como Tchfunkta (Stanton Moore), Spunky Sprawl, Do the jangle, Spam-bo-limbo e Dodge the Dodo (EST) te avisam que serão animadas. Não importa o que os nomes significam, pode até ser que não signifiquem nada, mas eles indicam que o som vai ser tão doido como o nome que ele carrega.
Os melhores nomes do trio nórdico são:
From Gagarin´s Point of View (que me leva ao espaço sideral, sentindo a leveza das estrelas),
Strange Place for Snow (que me leva pro deserto ou floresta Amazônica, olhando pra neve branca caindo em pleno verão)
When God created the Coffeebreak (que me faz pensar que houve um período na história da humanidade em que não havia pausas para café, nem café em pó)
Good Morning, Susie Soho (que me faz pensar na descendência da Susie, lençóis brancos e raios de sol entrando pela janela enorme)
Last Letter from Lithuania (que evoca uma situação trágica, em que a maior tragédia é a perda do contato entre as pessoas)
Definition of a Dog (puxa vida, como uma música vai definir o que é um cachorro...)
Mas o melhor nome de música instrumental, ganhando de longe de todos, é Alice, a Lagarta e o Hotel em Acapulco. O quarteto no palco era formado por saxofonistas, mas a estrela era Manu Falleiros, irmão da minha aluna de alemão. Manu anunciou nome da próxima música e deu aquela risadinha que cabaretista dá antes de contar uma piada.
Bom. Vocês todos conhecem a Alice, que seguiu o coelho e foi parar no País da Maravilhas. Certamente também lembram da lagarta sentanda em cima de um cogumelo gigante, fumando qualquer entorpecente não-identificado e falando beeeem devagar. Estes são os personagens, meio fora da realidade, meio em outro mundo. Agora vem a parte do hotel. Não sei se todos se lembram, mas houve um episódio de Chaves, em que todos, o Seu Madruga, o Seu Barriga, o Chaves, a Dona Florinda, o Kiko e a Chiquinha, possivelmente até a Bruxa do 71, foram para Acapulco, passar as férias. Acapulco era um lugar de luxo, e hospedar-se num hotel em Acapulco era sinalizar um alto status social. Alegria de pobre. Muito bem. Quando vocês ouvirem este som saindo deste sax (por favor, você pode fazer uma demonstração? Claro: pflóc próc pwóc) imaginem a lagarta numa das paredes do quarto do hotel em Acapulco, correndo de uma ponta a outra, na velocidade ditada pelo saxofonista. Quando ouvirem este som saindo deste sax (uma demonstração, por favor? Claro: pfráwuáwá) imaginem a Alice fumando o fumo da lagarta, alegre por estar em um hotel em Acapulco.
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Um comentário:
Nem eu lembrava, nem podia esperar que minhas imaginações podiam causar este impacto... Fiquei muito feliz, eu adora esse minha composição, que bom que outras pessoas curtiram! Um Abraço! Manu Falleiros.
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