sexta-feira, fevereiro 02, 2007

Ver pensamentos

Anda na calçada cheia de gente de uma rua movimentada, como por exemplo a Av. Paulista. Fixa os olhos na nuca de alguém andando na tua frente e pensa bem forte: olha pra trás! A pessoa vai virar e olhar pra você. É como se você tivesse jogado um laço na direção daquela pessoa e tivesse capturado a sua atenção.

Caminha na direção de uma pessoa que está olhando pra qualquer lado. Quando os olhares de vocês se encontrarem, será como se uma ligação entre vocês se estabelecesse. Como se os teus olhos lançassem âncoras pra dentro da alma da outra pessoa. Os olhos da outra pessoa são só a janela pra alma.

Se a gente pudesse ver essas ligações, visualizá-las como se fossem cordas, a gente poderia ver em que a pessoa está pensando. Seríamos capazes de perceber que certas pessoas são capazes de pensar em mais de uma coisa ao mesmo tempo, e que as cordas que saem de suas cabeças são como as cobras de uma medusa. Poderíamos também medir o grau de concentração que uma pessoa está dedicando a um pensamento. Um feixe de luz grosso e sólido que aponta numa direção única representa o foco das atenções da pessoa. Se a gente pudesse visualizar os pensamentos da pessoa, aí a gente entenderia por que as pessoas que cruzam o teu caminho estão sorrindo, ou franzindo a testa, ou fazendo cara de vítimas. Estão com o pensamento em outro lugar, conectadas a outras pessoas e outros cenários, não estão necessariamente reagindo ao meio-ambiente. O sorriso não foi pra você, a cara de bravo também não. Contudo, o sorriso gratuito e aberto de um te alegra e a cara fechada do outro te intriga.

Mas a gente não vê os pensamentos dos outros. Não. Seria mais fácil se a gente pudesse se comunicar por telepatia. Aí a própria telepatia não seria mais algo místico e a gente não precisaria se dar o trabalho de exteriorizar pensamentos. Mas a gente ficaria sabendo de coisas que prefiriria não saber. Melhor não, então. Melhor manter a privacidade e a polidez. E tem outra: é tão bom receber notícias dos outros. É tão bom ser acordada por um telefonema de alguém que está num país em que faz sol, receber uma carta de alguém que parou de se matar de trabalhar por algumas horas pra te escrever algumas páginas, receber um e-mail de alguém que te conta que pensou em você. Assim a gente vê os pensamentos dos outros e ainda se alegra com a risada, a voz, o estilo, a prosa e a letra dos amigos. Assim a gente se sente menos só nesse enorme mundo pequeno.

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