sábado, fevereiro 24, 2007

Manezona

Quarta-feira, dia de partir. Acordamos às 8:00, André me acompanhou até a rodoviária, esperou o Megabus pra Glasgow sair e às 9:35 eu comecei a me movimentar para longe de Aberdeen. 3 horas e meia de viagem depois, me dei conta de que não daria tempo de pegar o avião.
Pelos meus cálculos aflitos, eu teria 0 minutos para fazer o check-in. Em Glasgow, era preciso pegar o X77 para Prestiwick, o outro aeroporto da capital escocesa. Perguntei ao motorista de olhos azuis penetrantes e fixos, quanto tempo levaria até o aeroporto. 50 minutos. Ops, então eu tenho -5 minutos para fazer o check-in.
Mesmo assim, rezei por um milagre. Durante 45 longos minutos eu observei a chuva e as curvas que os braços tatuados do motorista engendravam em velocidade estonteante. Cheguei no aeroporto, demorei a encontrar as coisas, - dei uma de mané - e corri pra moça de uniforme que estava recolhendo as plaquinhas que anunciam o destino do vôo. Perdi o avião. Por 2 minutos. Não tem jeito? Sinto muito. O ônibus atrasou. Você poderia ter pego um ônibus mais cedo. Quê que eu faço? Vá praquela fila.
Era a fila dos desesperados, das reclamações inúteis, dos vôos perdidos. Um espanhol transtornado queria cortar fila e pegar o avião pra Barcelona que decolaria em 10 minutos. Mal sabia ele que a situação dele era mais sem chance que a minha.
O homem atrás do balcão procurou um vôo pra mim, mas não encontrou nada apropriado. Ou Düsseldorf na sexta-feira, ou Frankfurt na quinta de noite (chegando às 23:00) com multa pra mudar a data da passagem, ou Amsterdam na quinta de tarde. Mas Amsterdam era pela Transavia, não Ryanair, então eu teria que comprar passagem pela Internet. E além do mais eu não queria ir pra Alemanha, mas sim to the Netherlands!
Subi as escadas para o cybercafé, pensando que eu era a maior manezona do mundo. Topei com o espanhol, que me ofereceu de ligar pro albergue onde ele tinha passado a noite anterior. Eloy tinha errado de aeroporto. Quando se deu conta do erro, pegou um táxi e pagou 66 pounds pra chegar ao aeroporto de Prestwick. Isso é um pouco mais que eu paguei na minha passagem pra Amsterdam. Durante todo o caminho até o albergue, pensei naqueles australianos em Barcelona, que perderam seu vôo pra Roma, e como eu tinha pensado, um mês atrás: como alguém pode perder o avião? Eloy pensava: como alguém pode errar o aeroporto?
Glasgow não tem muitas atrações turísticas - pelo menos pelo que pude perceber pelo mapa da cidade. Eloy ia ver o jogo do Barcelona contra Liverpool (os catalães perderam) em um pub qualquer. Eu fui até a catedral e depois ao cinema. Vi The Science of Sleep. Bonito. Depois do filme, encalhei na recepção do albergue, pra ouvir as estórias do recepcionista, que na verdade era hóspede pagando pela estadia com o seu trabalho na recepção.
Ainda ouvi os roncos do Eloy, mas não o vi mais de olhos abertos. Dei um abraço no recepcionista que avisou que me dá um toque quando estiver passando pela Holanda e encarei um dia de chuva e espera pela hora de pegar o mesmo X77 com o mesmo motorista furioso e gentil como uma pedra. Hoje eu teria tido 30 segundos de tempo antes do check-in fechar, se houvesse check-in pra Düsseldorf.

Nenhum comentário: