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Durante toda a minha estadia aqui, nos Países Baixos, eu me sentia acometida pela sensação aflitiva de estar errando. Era um saco ter que recontar e reclassificar palavras, era um horror ter que ouvir do orientador You have to do it my way e sacar que esse jeito não é adequado pros meus dados. Era penoso julgar se as sentenças que eu tava analisando eram bem-formadas ou mal-formadas. Sei lá, não tem verbo, mas eu entendi a mensagem. Verdade, falta uma preposição, mas quem é que ainda percebe a ausência da preposição em estruturas como comecei a arrepiar? Especialmente na língua falada, essa preposição vai pro espaço: é comecei fazer e pronto. Tá errado? Segundo a gramática tradicional, sim, mas eu não sou gramática ou gramatóloga. Minha função é descrever o que está lá.
Mas vá lá. Contei omissões. Aí resolvi contar o que está lá, e não mais considerar o que falta. Contei as frases. Seguindo o modelo do orientador, era preciso julgar quais construções eram legais e quais eram ilegais. Aí resolvi fazer do meu jeito, mas eu não sabia direito como é esse meu jeito. Não é pela negativa, não é pela boa-formação ou agramaticalidade. É por tópico-comentário. Mas que catzo é isso? Achei uma dissertação sobre topicalizações que me serve como uma luva. Foi defendida ano passado, no dia do meu aniversário. Voltei a me empolgar com a pesquisa, veja só que coisa boa, e tenho a distância suficiente do meu método de análise pra dizer que todas as minhas tentativas de aproximação do objeto são como filtros numa máquina fotográfica. Eu posso mudar o filtro, e o resultado são cores diferentes, mas o objeto fotografado é sempre o mesmo, e é só uma descrição possível da realidade.
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