domingo, agosto 26, 2007

Vamos ver um filme?

Estávamos os quatro sentados na mesa da cozinha, à luz fraca de uma pequena vela. O vento soprava lá fora, e pensávamos que coisa rara é ver os outros da casa numa noite de sábado, na cozinha.

Kaleem e Helena tinham executado todos procedimentos científicos indicados na embalagem para tomar o novo chá que ela ganhou. Aqueceram a água a 80ºC, colocaram as folhas na chaleira, adicionaram a água, observaram a mudança de cor do chá, esperaram por dois minutos e meio, despejaram o chá em vasilhas e não xícaras, apagaram as luzes e acenderam a vela.

Boti se juntou aos dois para jantar, eu puxei uma cadeira pra comer os meus cereais. Nós todos ficamos procurando por um sabor diferente, mais intenso, provocado pela menor luminosidade, mas fracassamos em sentir um gosto mais forte.

Barriga cheia, luz de vela, vento soprando lá fora, jogando folhas secas contra o telhado de vidro. Helena teve a grande idéia de assistirmos um filme. Boti teve a genial idéia de vermos esse filme na nova tela que ele havia comprado pro computador dele. O monitor dele é maior que a minha TV. Helena buscou os filmes que ela tem, e avisou que estão todos em tcheco. As legendas eram em inglês, mas precisavam ser sincronizadas com o filme. Meia hora ela tentou fazer as falas tchecas coincidirem com as legendas inglesas, mas sempre havia um atraso de 5 segundos. Cinco segundos é muito tempo para um filme. Conte até cinco e pense quanta coisa quantas pessoas podem dizer, quantas cenas podem mudar, quantas piadas a gente ia perder, se visse uma comédia.

Desistimos de ver um filme tcheco, e Boti fez propaganda de um filme húngaro muito bom. Lembrei que ele já havia me emprestado este filme, e que o CD em que está o filme foi a última coisa a entrar no meu laptop, antes de ele travar. O filme não rodou no meu computador, portanto eu estava curiosa. Decidimos ver então o filme húngaro no laptop da Helena, porque o do Boti (com monitor, teclado e caixas de som novos, foi completamente reconfigurado e) não roda mais filmes.

Subimos para o quarto do Boti, onde ele tentou conectar o monitor novo ao laptop da Helena. Ela não sabia como isso funciona, mas sabia tcheco, a língua do laptop. Boti tinha uma certa expectativa de como as coisas deveriam funcionar, mas não entendia tcheco. Não deu certo. Kaleem visivelmente ia ficando com sono. Desistimos de ver o filme na tela grande e resolvemos que o monitor do laptop da Helena é o suficiente.

Começa o filme, as pessoas falam um monte coisas em húngaro, e quando a cena já mudou e outras pessoas falaram outras coisas, é que vem a legenda. Maravilha. Helena sugeriu que víssemos um filme mudo, e bah, Boti tinha um filme mudo naquele mesmo CD. Acordamos Kaleem e assistimos a um filme húngaro sem fala, mas cheio de sons. O nome do filme, se não me engano, é Hullek, o que significa 'soluço', tipo Schluckauf, de hickup. Gostamos bastante do filme e saímos do quarto do Boti com uma experiência nova na memória: hickup.

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