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Frau Welsch tem 79 anos, mas parece uma centenária. A escoleose a encolheu em 13 centímetros, a senilidade lhe confunde a noção do tempo e espaço. Ela sobreviveu à Guerra, e isso se torna visível nas coisas que ela guarda por impulso, reflexo ou costume. Não é só o pão do café da manhã que ela desembrulha de noite, ou pedaços de bolo que ela guarda para o marido. Não, o marido, Herr Welsch, disse que já encontrou mais de mil euros distribuídos em livros. Euros, não Marcos, ou seja, não é coisa antiga.
Frau Welsch tem um humor de marinheiro, responde sempre com a testa enrugada, aguardando a risada do outro. O marido pergunta se deve trazer pão com salame. Ja. Umas cinco fatias? Mindestens! (no mínimo). Frau Welsch informa a enfermeira que quer voltar pra cama. E o que eu ganho com isso? Você pode deitar comigo. Kuscheln.
Frau Welsch estava sarando das feridas quando eu cheguei, e precisava de ajuda para levantar-se da cama. Além de não ter as forças pra pôr-se de pé, ela não conseguia endireitar o corpo. Ela tinha medo de cair, mesmo quando estava sentada na cadeira de rodas. Pouco antes de sair, ela já conseguia mover-se da cama para a cadeira de rodas, com a ajuda de uma enfermeira que a segurava com um parceiro de dança. Samba tanzen, Frau Welsch!
No meio da noite, ela acorda: Willy, mach mal Kaffee! Frau Welsch, estamos no hospital, e é de noite. Na noite seguinte, enquanto observo uma coloração amarelada nas nuvens, ela pergunta quando servirão o café da manhã. Quando o Herr Welsch chega na manhã seguinte, ela lhe pede para acertar o seu relógio. Mas o seu relógio está certo. Nein, Willy, hier geht die Zeit anders. (aqui o tempo anda diferente). No dia em que sairia do hospital e iria pra clínica de rehabilitação, ela amanheceu sentadinha na beirada da cama. Mas o que é isso, Frau Welsch? Estou esperando o meu marido. Ele foi buscar pãozinho. Frau Welsch, estamos no hospital. Ach, du lieber Gott! Porque a senhora caiu e quebrou o braço. (Olha para a mão enfaixada, assustada) Du meine Güte!
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