Frau Riebe estava em casa, conversando com o marido perto da escada, se virou, perdeu o equilíbrio e caiu. Assim, do nada, sem causa ou razão explícita. Quebrou a terceira vértebra, que foi reposta por uma placa de titânio. Cortaram também um pedaço do osso da bacia e o colocaram na fratura, de modo que ela tem cicatrizes na barriga e no pescoço. Sim, a intervenção foi frontal: pelo pescoço, não pela nuca.
Quando eu cheguei, ela já tinha sido operada, estava usando aquele trambolho no pescoço e indo pra fisioterapia todo dia das 10:45 às 11:15. Uma dia ela voltou pelas escadas. Subir os degraus sem ver o chão foi a primeira grande conquista dessa mulher de quase 60 anos. Toda vez que ela via um pobre coitado no corredor com a cabeça cheia de cicatrizes, preso a máquinas ou gritando de dor, ela me dizia que eu devia dar graças a Deus que no meu caso era só o pé.
Frau Riebe era engenheira de desenho de avião, perdeu o emprego, virou enfermeira e foi cuidar de idosos em asilos. Uma das enfermeiras do hospital tinha sido colega de trabalho dela. Era a Frau Riebe quem tinha mais jeito com a Frau Welsch que queria sair da cama, que perguntava quando viria o café da manhã em pleno pôr-do-sol, que queria telefonar pra filha que não viria. Era ela quem jubilava de alegria ao ver a Frau Welsch dando seus passos tortos em direção à cadeira de rodas e sugeria que as duas almoçassem sentadas na mesa, não na cama. Foi a Frau Riebe quem desviou as minhas atenções nas minhas saudades de tudo para as perguntas dela sobre o Brasil. Wie ist das in Brasilien?
Eu fui operada no dia em que ela teve alta. Quando voltei da cirurgia, um ursinho e um cartão esperavam por mim, no lugar da Frau Riebe: Alles wird gut.
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