sexta-feira, setembro 29, 2006

Bom fim-de-semana!

Encerro o expediente e aviso que estou sem computador por todo o fim-de-semana. Eh, vida de estudante pobre e estrangeiro!!!
Vou passar o sábado pedalando na nova bike e o domingo fazendo mudança. Programa de índio, hein!!

Nova bike usada

Bah, passei o dia cruzando a cidade de ponta a ponta, à procura de uma mountainbike de segunda mão. Não foi fácil achar MTBs usadas, porque a maioria dos caras que vendem bicicletas usadas, vendem bicicletas urbanas. Elas têm bagageiro, pézinho, dínamo, campaninha, proteção na corrente, pra calça não ser comida pelos dentes da coroa, guidom que vem até a cintura e selim enorme. E os nomes das marcas de bicicletas urbanas são "Gazelle" e "Batavus". Ah, não... Não quero montar uma gazela e sair por aí, desbravando as planícies da Holanda.

Acabei caindo numa loja de bicicletas esportivas e o cara tinha uma única usada. 4 anos de uso, mas tudo top, com peças melhores que da Amarilda. E o preço também era mais alto que o da Amarilda.
E aí? É isso mesmo que cê quer? Difícil dizer...

Decidi terminar de visitar a minha lista de lojas de bike que vendem bicicletas usadas. Na última loja achei uma bike barata e boa: quadro Giant, sem bagageiro, câmbio (21 marchas) do tipo de rosquear no guidom, pézinho, paralamas, pneus com cravos e freios ruinzinhos Cantilever. Não tem campainha, mas isso não faz falta, porque eu nunca usei campainha ou buzina. Pedi pra botar o meu selim e os meus pedais e paguei os 85 euros que ele tava pedindo. Ela tá bem judiada, suja pra caramba e ainda não tem nome.
O vendedor foi do pior tipo possível: quê que ela quer agora?, mas ele tinha a maior variedade de bikes usadas.
Acho que eu tô satisfeita com a minha nova bike usada. Quebra um galho até eu poder adquirir uma mais sob medida.

A vida no campo

Vejo mais quadrúpedes, insetos (6 pernas) e aracnídeos (8 pernas, ou, se preferirem a definição do dicionário Wanderléia, o pior - mas mais engraçado do mundo - "insetos de 8 patas") do que bípedes quando cruzo a fronteira e me encontro em solo alemão.

As vacas são animais mó saudáveis. Sim, são bonitonas, carregam tetas absurdamente pesadas e grandes e ainda assim galopam. É verdade! Já vi um monte de vacas correndo a galope pelos pastos. Às vezes tinha um carro atrás delas, pastoreando a manada. Evolução da tecnologia. Nada de Bulldog (alguém já fez essa associação? Bull-> touro + dog-> cão = cão pastor de bovinos!!!!).
Flordja, a cadela velha e dos olhos parcialmente azuis vem me visitar de vez em quando.

Os insetos me acompanham assim que eu subo na bike da Jacqueline. Eles entram nos meus olhos, mesmo quando estou usando os óculos protetores, que deveriam evitar esse tipo de susto. Em casa a matança de mosquitos antes de dormir já se tornou ritual. Ao entardecer fecho as portas e janelas e me ponho à caça.

Já ponderei se as minhas matanças de mosquitos afetam o ecosistema da casa: será que as aranhas ficam sem comida e se atrevem a comer outras coisas? Ainda não atacaram, mas certamente estão menos tímidas. Vejo muito mais aranhas andando pela casa que antes. Ontem tinha uma nervosa no banheiro. Era daquelas que dá um certo receio de pisar descalço no recinto. Tinha o tamanho da base de um copo de requeijão. Hoje de manhã ela já não estava mais lá.

Não vejo Leo e Jacqueline faz dois dias.

Não adianta

Toda manhã eu me visto como uma mãe preocupada vestiria seu filho pequeno que vai enfrentar o sereno, ou como alguém que está partindo para uma expedição no Pólo Sul. Meias com sola dupla, luvas de couro, jaqueta por cima do moletom, chale no pescoço, turbante cobrindo as orelhas ou tôca mesmo, óculos transparentes pra evitar que os insetos façam seus ninhos nos meus olhos e bala de mel na boca. É assim que eu me preparo pra enfrentar a viagem de 45 min. até a Universidade. Nunca estou vestida igual aos outros, que andam por aí de regata e shorts. Mesmo estando super protegida contra o frio, a tosse vem me acordar às 3 da manhã...

quinta-feira, setembro 28, 2006

Outono chegando

As folhas das árvores já estão mudando de cor: já estão amarelas, laranja e até vermelhas. São os sinais do outono chegando.

Lembra daquelas nozes que a gente vê no desenho de Tico e Teco? O chão está coberto delas. Elas estouram - knack!- quando uma roda passa por cima delas. As nozes se chamam Eichel em alemão, e dão na árvore que se chama Eiche. O esquilo, que se alimenta dessas nozes e as estoca no outono pra ter reservas no inverno, se chama Eichhörnchen. Tudo a ver!!!

No Refter (bandejão), o cara que serve o prato pra pedreiro ignorou novamente os meus pedidos de não encher o prato, com o argumento: você precisa comer bem, porque semana que vem vai fazer frio. Outono chegando.

Meu novo endereço

Saibam que eu gosto muito de receber cartas escritas a tinta, em papel, à moda antiga. Quem quiser me escrever, lá vai o meu novo endereço:


Groesbeekseweg, 167
6523NP Nijmegen
Holanda

Domingo é a mudança!

Pelas ruas de Nijmegen

Já não me perco mais nas ruas de Nijmegen. Sei até mesmo calcular a altura da loja que é quitanda + revistaria + tabacaria + faz revelações de foto + posto de correio, quando ando na rua paralela à loja caixinha-de-surpresas.
É, vivendo e aprendendo com os erros!

E já me acostumei à bike da Jacqueline. Aprendi até a pedalar sem as mãos!!! Isso foi muito útil quando voltei de Kleve pra Zyfflich de noite, numa velocidade de cruzeiro de 20 km/h e muito vento nas orelhas e insetos nos olhos e cabelos. Pude segurar as orelhas e assim impedir que congelassem completamente! Bom, né?

Essa língua

Passo muito bem com inglês deste lado da fronteira e converso em alemão com Jacqueline e Leo em Zyfflich. Mas eu quero aprender nederlands, sem, contudo, me submeter a um curso de língua, que começa com "hallo, ik ben Lou".
Quando a Jacqueline me convidou pra jantar na casa dela, ela me deu dois livros de curso de holandês para estrangeiros (ela ensina isso) e perguntou se até o dia seguinte eu já poderia conversar em holandês com eles na mesa. Hehehe....

O livro não é acompanhado de material em áudio, então ela me deu umas direções básicas:
[ou] tem som de [au]
[u] não tem som de [u], mas de [ü], ou [y], como o dos alemães ou franceses
[oe] tem som de [u]
[ij] tem som de [êi] ou [éi], dependendo do dialeto
[eu] tem som de [ö] dos alemães ou franceses
[ui] tem som de [ééou] e eu me sinto uma palhaça bêbada ao emitir esse som em Huis, por exemplo. -> casa!
Os alemães reclamam dessas vogais, especialmente dos ditongos, que não têm uma escrita transparente: não se lê o que se escreve. Me insiro no grupo dos alemães que estranham os ditongos, mas pra mim algumas consoantes são complicadas: estou com a garganta inflamada, tossindo feito uma tuberculosa (de noite e de manhã), e pra mim a produção do [g] que tem som de [ch] dos alemães, como em Achtung!, por exemplo, significa mais tosse.
Tanto o [r] como o [l] são super retroflexos, e em Den Haag, onde as pessoas são chiques, quanto mais retroflexo, melhor. Engraçado... No Brasil, quanto mais retroflexo for um [r], mais caipira é o sujeito....

Progredi até a lição 2 (de 5) no livro da Jacqueline, mas não lembro de muita coisa. Lazy...

Quantas pessoas existem no mundo, que falam holandês? 25 milhões? Não é muuuuuita gente, mas aqui, na Universidade eu só ouço holandês.

Ontem liguei a Tv pela primeira vez vi um programa de adivinhação. A tarefa era a seguinte: aos competidores era apresentada uma sentença que continha um erro. Uma palavra sempre estava grafada errada, ou num tempo verbal inadequado, ou desajeitada de outra maneira. Aí ganhava quem saberia corrigir aquele erro. Achei o tipo de tarefa bizarro. Uma das sentenças tinha "de linguist" como sujeito. Bisonho. Será que a figura do lingüista é associada ao bem-falar, à linguagem "correta", tipo Pasquale Cipro Neto??

Da temperatura

Não sei exatamente qual é a temperatura aqui, nos Países Baixos, mas sei que ela varia muito.

Ontem uma neblina densa e branca exercia toda a sua pressão sobre esta parte do planeta, ocultando o mundo do observador que quisesse ver 2m adiante de si. Não dava pra ver a plantação de Raps que alegra o meu dia todo dia. Foi pra dentro desse cenário que eu me pus a pedalar em direção a Berg en Daal. Já aprendi que as orelhas são partes extremamente sensíveis, então eu transformei um chale num turbante, vesti uma jaqueta por cima do moletom, vesti as luvas de couro e pronto.

Como o sol ainda não tinha saído por detrás da cortina de neblina, a temperatura dentro da neblina continuava baixa, e o orvalho continuava nas plantas e teias de aranha.
Caramba, como o mundo é povoado por teias de aranha!!! Impressionante, quantas eu vi!
Subi os 2,5km em curva inclinando cada vez mais até o topo de Berg en Daal. Quase morri afogada no meu nariz entupido. O ar que saía pela boca era visível, de tão frio que tava.
Cheguei na universidade em 45 min, sem errar o caminho uma única vez!!!!

Olhei pro céu azul e o sol me saudou, rindo das minhas costas encharcadas.

quarta-feira, setembro 27, 2006

Salmao no bandejao

Sim!
No prato holandes do almoco de hoje tinha postas de salmao. E batatas, claro, sempre batatas. Uma generalizacao grosseira que eu poderia fazer em relacao aos habitos alimentares dos holandeses eh esta: comem batatas e bebem chah....

Nao tem foto da Lou?

Mas claro, pensei nisso, nao se preocupem.
Fiz um auto-retrato meu de mim mesma, em que eu apareco como personagem principal. Fotografei a porta que olha pra fora da minha casa em Zyfflich, por isso a cadeira e a plantacao de canola podem ser identificadas....



Esta ultima foto eu achei idilica... Zyfflich vista da estrada, antes da fronteira com a Holanda. A unica igreja eh catolica, o unico estabelecimento comercial - um restaurante que soh serve janta - nao dah pra ver....

Nordwohlde

Esta eh a super casa pastoral em que moram os meus pais. Como eu jah disse em outro lugar, sinto a falta das arvores na lateral da casa, escurecendo o quarto de visitas.
Essa casa eh a numero 4. Isso tem muito a dizer num vilarejo, porque o numero da casa tem a ver com a ordem em que elas foram surgindo. Esta eh, entao, a quarta casa que Nordwohlde viu pronta.
Nao tirei fotos do jardim, mas acreditem: eh enorme.

Nao sei se dah pra ver o terraco ali na foto de baixo, mas este eh o lugar em que se come em dias claros e ensolarados. Sim, isso eh coisa de quem soh tem 3 meses de sol no ano. Aproveita-se toda e qualquer oportunidade de expor a pele ao sol.

Agora eh epoca de peras e macas. As arvores estao pesadas, de tanta fruta. Lembro que quando eu vim a ultima vez, dois anos atras, a macieira ao laldo da garagem caiu de velha e de tao carregada que tava. Passou a 2cm pelo carro da minha tia, no seu imperturbavel caminho em direcao ao chao. A lei da gravidade deve estar correta, sim.

Pronto, estes dois sorridentes sao os meus pais! Meu cabelo vai ficar branco assim, como o da minha progenitora. Logo, logo....

Julia


Antes de mostrar a Julia, resolvi fazer suspense e mostrar primeiro a casa dela: um trailer estacionado no jardim da casa em que o Philip mora.

Agora podemos admirar a beleza compenetrada da Julia em acao: ela eh artista e estah desenhando.

Philip


Este eh o Philip, meu irmao, que veio me buscar na estacao de trem. Ele era cabeludo, mas raspou a cabeca e deixou 4 dreads coloridos... Agora ele nao tem mais cara de roqueriro, mas sim de hippie alternativo.

Aos ciclistas e arquitetos urbanos

Essa eh a descidona de Berg en Daal (Montanha e Vale), que me faz feliz sempre que ando nela da universidade pra casa. A subida eh cruel, porque a inclinacao vai aumentando a cada curva, e ela eh muito longa.
Eh tudo compartilhado aqui. Nao cabem dois carros lado a lado na rua, entao se um carro estiver indo e outro vindo, os dois terao que usar a ciclofaixa. Se tiver ciclista nela, o carro espera.

Esta foto foi tirada de dentro do trem. Dah pra ver os alforges vermelhos? Eh a bicicleta da Jacqueline! Pena que nesse trem nao havia nada em que eu pudesse prender a bike, pra ela nao cair nas curvas, aceleradas e freiadas do trem....




Esta foto deve ilustrar uma ciclofaixa num cruzamento em Osnabrueck. Tive uma hora de espera nessa cidade, quando subi pra Nordwohlde... O carro que quiser virar aa direita, pode ir e o ciclista continua reto na ciclofaixa, sem que um atrapalhe o outro. Da hora!!!!!

A fronteira


Estou percebendo que as fotos estao saindo muito pequenas, mas nao tem outro jeito.... Essas tres intalacoes sao o que restou da fronteira. Eu estou na ciclovia que vai e vem, acumulando clusters de bichinhos voadores nos cabelos e olhos....

Indo pra Holland


Esta eh a aleia/ alameda que me leva de Zyfflich ateh a estrada que vai pra Nijmegen. Ela eh bastante estreita, nao tem ciclofaixa, mas o motorizados respeitam os nao-motorizados. E acho que ateh dah pra dois carros ocuparem a rua lado a lado...

O que eu vejo pra fora da minha casa em Zyfflich

Pessoas!
Nao deu tempo de upload as fotos no blog enquanto eu tava em Nordwohlde, porque o trem tem horario, eu nao queria perde-lo e pah, essas coisas certinhas e quadradas que enquadram nossas vidas.

Deu pra perceber que estou de volta em Nijmegen, sem acentos graficos! Yuhu!!! Bom, nao sei se a foto eh boa o bastante pra que se possa distinguir a grama no meu jardim, a cerca, a plantacao de canola, mais campos e lah atras, onde estao as arvores que delineam o horizonte, jah eh Holland.

A foto mais amarela eh de canola vista de perto.

terça-feira, setembro 26, 2006

Manual de instruções

Pessoas, se vocês quiserem comentar o que ando escrevendo, é só clicar em comments, que fica no canto direito embaixo de cada mensagem. É só escrever o que for pertinente, escolher uma das três opções, provavelmente anônimo, e publicar. Beleza?

Todo mundo na bicicleta

Ontem de tarde todo mundo (a família) desenroscou a bicicleta da garagem, tirou o pó do selim, verificou o ar nos pneus, mamãe colocou óculos transparentes e eu também (ainda bem que não fomos confrontadas com nenhum espelho), e começamos a pedalar. A idéia era acompanhar o Philip até a casa dele e exercitar as pernas.

Não me lembro de termos pedalado os quatro juntos e ao mesmo tempo, como um grupo. Foi legal andar no meio da floresta com chão de areia (a mesma que eu já mencionei antes. Sim, as florestas aqui têm uma configuração um pouco diferente da Mata Atlântica, então daí tem areia nos caminhos que cortam a floresta).

Chegamos na casa onde o Philip mora e a Julia tem o trailer estacionado no jardim. Minha mãe ainda não tinha visto o lugar.
Trata-se de uma casa que um amigo do Philip herdou. A casa estava caindo aos pedaços, e os caras que entraram na casa se sentiram tão desanimados que resolveram assistir ao desmoronamento da casa. Aí, um dia, o Philip escolheu um quarto da casa, juntou um monte de tábuas e toras e parafusos e serrote e sei lá mais o quê e construiu uma cama. Uma cama que fica a meio metro de altura e tem gavetas embaixo, que lhe servem de guarda-roupa. Construiu prateleiras, pendurou plantas e pintou as paredes. O quarto dele é o mais colorido e original da casa. Perceberam o meu orgulho do menino?

Na volta, a minha mãe tava cansada. Como incentivo, eu ficava anunciando a velocidade em que estávamos, já que a bicicleta holandesa da Jacqueline tem ciclocomputador. Vamo, mãe, estamos a 7,3 km por hora, isso ainda é mais rápido do que um homem caminha! Não vai descer e empurrar, não senhora. Vamo que ali na frente tem uma descidinha!

É, acabei ficando em Nordwohlde, pra esperar as fotos saírem e eu poder scannear as bichinhas aqui, neste computador super power, pro meu público leitor poder ver a plantação de Raps (canola!) de que eu tanto falo.

segunda-feira, setembro 25, 2006

Encontrando a casa certa

Esqueci de contar que eu já tenho casa permanente, que não é em Zyfflich. Pois é, um dia depois daquela experiência traumática de casa no gueto, recebi um e-mail do External Relations, dizendo que tinham achado uma casa pra mim e que era pra eu entrar em contato com a dona do imóvel as soon as possible. Corri pro orelhão, mas a pessoa não tava em casa. Escrevi um e-mail, avisando que a External Relations da universidade tinha me indicado aquela casa e que eu tava interessada em ver o quarto. A moça respondeu que tava sabendo disso, já que ela mesma trabalha na External Relations.

Eita! Será que eles ficam com pena do povo que não consegue casa na primeira semana e oferecem suas próprias casas - ponto de interrogação (é, aqui tem os suprassegmentais -> acentos gráficos, mas não achei o ponto de interrogação).

Fui ver a casa na Groesbeckseweg, 167 e bah, que coisa boa. Localização ideal: 5 min. da universidade e outros 5 min. pro centro, na direção oposta. Trata-se de uma república de estudantes internacionais. Tem um monte de franceses, uma sueca que mais parece árabe, um romeno que estuda inteligência artificial e o resto esqueci de registrar. São 8 estudantes e a moça do External Relations, a Annelies, que mora fora da casa. A casa é do pai da Annelies e ela disse que ela mesma paga aluguel pra ele. De vez em quando o pai ainda vem pra trabalhar no escritório. Não tem sala lá (acho que é o espaço do escritório do pai da Annelies), mas tem uma cozinha grande, que serve de ponto de encontro dos que moram lá. E toda quarta-feira rolam umas comidas pra todo mundo. Oba!!!!! Posso cozinhar prum monte de gente de novo e colher elogios!!!!

Quando eu já tava quase indo embora, ainda falei pra Annelies que eu queria aprender holandês. Ela respondeu que beleza, contanto que eu corrigisse os erros de português dela. Hein - ponto de interrogação. Sim, ela está estudando português brasileiro, porque vai viajar pra Recife e passar um tempo lá. Ahá!!!! Será que, afinal de contas, foi ela que me escolheu por eu ser brasileira - pontos de interrogação.

Em Nordwohlde



Esta é uma foto-teste. É da autoria do Philip, não da minha. Eu não tenho câmera que faça isso.

Pois é, estou no computador da minha mãe, onde tem acentos gráficos!!!! Maravilha! E tinha essa foto bonitona que o meu irmão fez.

A viagem de trem de Kleve até Syke demorou 6 horas. Terminei de ler as 80 páginas que ainda faltavam pra acabar o livro que eu tava lendo. Jacqueline me levou de Zyfflich a Kleve, com a bike feminina no bagageiro. Sim!!! Atravessei a Alemanha de trem, com a bicicleta dentro!! Ela teve que pagar passagem também, 3,50, e não havia estrutura onde eu pudesse prendê-la dentro do vagão reservado pras bicicletas, mas assim eu pude sair pedalando de Syke, e não tive que pedir pro meu pai me buscar. Nos fins de semana muita gente usa esse vagão pra ir de trem até um certo lugar e depois pedalar até cansar. Vi muitas MTBs na longa viagem de trem. E aquela solidariedade entre ciclistas rola, sim. No trânsito, em Nijmegen, não, porque os ciclistas são mais numerosos que os pedestres, mas no vagão de trem, sim.

Philip tava me esperando na estação, com a namorada: Julia. Ela mora num trailer, mas esse trailer tá estacionado no jardim da casa onde o Philip mora. Pedalamos até a casa dos dois, e depois pedalamos pra Nordwohlde, pelo meio do mato, em trilhas de areia. Sim, areia. Radical, punk rock! Os meus pais tavam nos esperando com um churrasco, mas não perguntei que carne era aquela, que tinha um gosto meio cinza-azulado. Acho que não era vaca, não...

Tanto os caminhos que percorremos no vilarejo, quanto a volta de Bremen (tinha uma megafesta lá e Philip e Julia iam trabalhar no bar, mas eu tava meio muito cansada e resolvi voltar antes de virar abóbora) pra Nordwohlde me pareceram óbvios, automáticos, mas ainda assim eram lembranças que tavam tão longe como a própria infância.

Na casa, muitas árvores caíram, desde a última vez que estive aqui, e as coisas na geladeira também mudaram: quase nada de leite, tudo de soja, inclusive iogurte. Não gostei. Hoje de manhã tinha um MILK FREE DRINK em cima da mesa. Quis esfriar o meu café um pouco e botei um tanto dessa coisa na xícara. Achei o gosto meio muito amarelo. Minha mãe sentou na mesa e perguntou porque o meu pai tinha colocado suco de banana na mesa. Putz! Café com suco de banana com leite de soja! Guten Appetit!

Logo, logo, volto pra Zyfflich, respirar o mesmo cheiro de vaca que reina aqui. Ainda não consegui acabar com o filme, mas assim que as fotos estiverem reveladas e eu achar um scanner, eu mostro as fotos que fiz na Alemanha-Holanda.

sexta-feira, setembro 22, 2006

Bicicleta feminina

Bah, estou comecando a me adaptar aa bicicleta feminina da Jacqueline. Hoje vim pra Universidade pelo caminho mais curto, mas que tem subidas e descidas e mato dos dois lados no trajeto. Garanto que se eu nao estivesse com a coluna retinha e os calcanhares pisando no pedal, mas sim as pontas dos pes, e com as maos muito perto da cintura, mas sim lah na frente, eu teria subido e descido es montes de Berg en Daal (Montanha e Vale) mais rapidamente.

Reparei que os speedeiros usam capacete, oculos e roupas coloridas. E que olham pro chao.
Quem anda de mountain bike na maioria eh adolescente - e loiro. E tem o olhar inquieto.
Quem anda nas biciletas mais comuns tem alforjes, dinamo, campainha. E olham pro transito.
Perceberam que ninguem olha pra mim, quando tento cumprimentar as pessoas que passam pedalando por mim nas ciclovias solitarias que ligam a Alemanha aa Holanda???
Ateh em Zyfflich, um vilarejo de 400 habitantes bipedes (!) as pessoas jah estao olhando pra outro lado quando eu quero cumprimenta-las.

Mas voltando aas bicicletas daqui: ninguem tem ESPELHO!!!!! (equipamento obrigatorio no Brasil)

No bandejao

O bandeco aqui se chama Refter, e assim como qualquer bandejao de qualquer universidade, eh o local que agrega um numero impossivel de gente (e bicicletas) em dois horarios do dia. Estudantes de graduacao e mestrado que tenham carteirinha de estudante pagam 3.30 euros, estudantes de doutorado e nao-estudantes em geral pagam 4.10 euros. Meio escandalizada por causa desse valor aih, perguntei se 4.10 era barato ou caro. Muuuuuuito barato, mais barato do que cozinhar em casa.
Entao tah.
Sempre hah 3 pratos (que sao expostos numa vitrine, na entrada) aa escolha: um eh holandes, o outro estrangeiro e o ultimo eh vegetariano.
Um moco te serve um pratao enorme. Ele jah me conhece, porque eu sempre peco que ele nao coloque tantas batatas assim no meu prato...
A comida eh boa, e nao tem suco de amarelo, vermelho ou roxo. Tem que pagar extra pelo que nao estiver no prato.

Na biblioteca

Meu, passeando pela sala onde ficam os periodicos, ficou tao evidente pra mim que estou numa universidade catolica! Existem uns quatro assuntos principais na biblioteca: linguagem & cultura, religiao, historia e direito. Nao reparei em nada das biologicas ou exatas...

Renato ia pirar aqui, com todas as revistas filosoficas sobre metaphysics e sobre a ciencia de modo geral.

Eu vi a Language e a Linguistics, mas nao encontrei as Aphasiology, Brain & Language, Neurolinguistics e assim adiante.
Meu orientador gigante deve saber onde encontrar essas coisas mais especificas...

Procurando casa

Antes de sair da universidade, pra ver uma potencial nova casa, olhei no mapa de Nijmegen. Nao parecia ser dificil chegar lah. Jonas, um loiro bebedor de chah que frequenta a sala dos computadores dos estudantes de Linguistica (ou Processos Cognitivos em geral), me perguntou se era uma daquelas entrevistas coletivas. Isso parece ser comum por aqui, ele mesmo jah passou por umas 7 ou 8. Os potenciais novos moradores sao entrevistados ao mesmo tempo, e depois a republica decide quem fica com a vaga.
Cheguei 20 min. atrasada e esbaforida, porque eu me perdi, claro, nao podia ser diferente. Ainda nao sou boa de achar a placa que informa o nome da rua. Se eu me deslocasse na condicao de pedestre, talvez nao me perdesse tanto, porque aih um erro significaria muito mais tempo perdido...

Johannes abriu a porta.
Oi, desculpa, me atrasei.
Eu sei.
Puxa, esse eh dos meus! Obviedades merecem respostas obvias!

Subimos escadas estreitas de degraus curtos e chegamos ao sotao. Tinha tres loiras sorridentes e muito mais altas que eu lah, na frente do quarto. O anuncio dizia que era um quarto de 9 m quadrados. Isso significa 3m x 3m no chao. Ninguem leva em consideracao o teto, e isso eh altamente importante: Estamos no sotao. O teto eh inclinado e vai do chao ate uma altura de teto razoavel na parede oposta. Ou seja, o quarto tem 3 paredes e muito teto. Isso significa que eu estava dentro de um meio quarto minusculo. Nao era um quarto quadrado, mas triangular.
Era uma casa muito engracada, nao tinha cama, nao tinha armario, nao tinha nada. O banheiro era nas profundezas da escadaria apertada, a cozinha era do tamanho de um banheiro e putz escura.

As loiras eram candidatas a morar lah. Johannes ia decidir qual delas queria ver todo dia. Entrevista coletiva. Sorte que eu tava pedalando, errante pelas ruas de Nijmegen, enquanto cada uma se apresentava e contava quais sao os seus planos na vida.

A casa era uma daquelas que eh igual a mais duzentas outras na mesma rua. Na rua vi criancas crioulas, mulheres narigudas de turbante e obesos sentados em cadeiras de balanco.
Decidi que estou velha demais pra isso.

Chegada

Desculpe a falta de acentos graficos. Eles existem, mas nao querem aparecer em cima das letras, soh do lado delas: ` ~ ^ nao teem perspectiva de subir na vida.

Bom, vamos lah. Cheguei em Amsterdam e liguei pro Leo, o cara que me aluga a casa, pra ele me buscar em Nijmegen. Beleza. Peguei uma conexao de trens pra Nijmegen meio chata, porque tinha duas baldeacoes no trajeto. Antes de Utrecht sentei do lado de uma familia rastafari. Todos negoes do cabelo trancado. O cara que controla os bilhetes soltou algum comentario preconceituoso e bah, o pau quebrou ali, em holandes!! Eu nao entendi nada, soh idiot! e outros xingamentos, mas achei inusitada a situacao de preconceito racial (eles falavam holandes) jah no primeiro dia. Na segunda baldeacao eu precisava caminhar muito com as duas malas moh pesadonas: uma de 24 e a outra de 34 kg. E tinha a mochila nas costas, com 3 garrafas de pinga! Eu andava um pouquinho, descansava um pouquinho. Um moco que tava empurrando a bicicleta dele parou e se ofereceu pra ajudar. Levou a mais leve. Quando ele achou que a gente tava muito devagar, ele prendeu a bike dele num poste, pegou a mais pesada e seguimos ateh o trem. Uau, hein? Entrei no trem e ele ainda conferiu com a controladora de tickets se aquele era mesmo o trem pra Nijmegen.
Uma cena besta de briga por causa de um comentario infeliz num trem, um moco prestativo no outro. Bem-vinda a Holland.

Leo me levou pra casa, e pra minha surpresa, tenho uma casa soh pra mim. Eh, sao 30 m quadrados com sala/ quarto, um banheiro em que nao tem pia (tirei a samambaia que tava na pia do quarto/ sala, porque eu nao consigo escovar os dentes na pia da cozinha) e tem uma lata vertical em que tomo banho. Tem uma cozinha com tudo que eu preciso, ateh jah tinha bebidas na geladeira. No quarto/ sala tem 3 possibilidades pra se dormir.

Leo eh um cara de 56 anos, loiro, claro, e a esposa dele, Jacqueline, de 49, tambem eh loira dos olhos claros, obvio. Os dois sao super atenciosos e curiosos - no bom sentido. Leo me emprestou o celular dele, pra eu ligar pros meus pais, e Jacqueline emprestou a bike dela, uma bicicleta tipica daqui: guidao alto, selim enorme, paralamas, protecao na coroa, pra calca nao entrar nos dentes da coroa, alforjes impermeaveis no bagageiro, campainha e pneus finos. Uma bicicleta urbana pra todo tipo de tempo: faca sol ou faca chuva - ou neve, os holandeses estao sempre pedalando por aih.

Liguei pros meus pais e eles decidiram vir naquele mesmo dia em que cheguei. Viajaram 3 horas e meia e trouxeram roupa de frio/ banho/ cama e comida. Dormiram lah e nao me deixaram dormir, porque o meu pai ronca como um roncador profissional. No dia seguinte tava chovendo, e os dois me levaram pra Universidade, onde conversei com o meu orientador, (o homem mais alto que eu jah vi ao vivo em toda a minha existencia), fui apresentada prum monte de orientandos loiros dos olhos claros, bebedores de chah, e descobri como proceder pra me registrar aqui. Nao posso me registrar na Holanda, jah que estou morando na Alemanha.

Essa fronteira existe, apesar da Uniao Europeia. Ontem eu pedalei o dia inteiro, porque eu me perdi pra caramba em Nijmegen. Nossa, andei por todas as ruas daqui, algumas inclusive foram percorridas 7 vezes pela mesma Lou dos olhos grandes e alforje vermelho. Aih, como eu tinha me perdido tanto na cidade e tava com receio de nao achar a saida da cidade e chegar a tempo para o jantar que a Jacqueline ia fazer, comprei um mapa. Muito bem, aprendendo a lidar com situacoes dificeis.
A parte alema nao estava no mapa. Mas eu precisava saber onde fica Zyfflich, o vilarejo em que moro, pra saber pra que lado eu vou.
Pois eh, sao uns 13 km entre a minha super casa e a Universidade, mas eu ainda nao achei um caminho curto e direto. Vou dando voltas, perguntando, me perdendo...

Quando eu me registrei na prefeitura de Kranenburg, a cidade aa qual Zyfflich pertence, me deram um mapa. Yuhu! Soh tem o mundo da fronteira pra dentro, nao tem Holanda no mapa! Tah vendo, preciso de dois mapas pra me achar.

E quem achava que aqui eh tudo plano, ou praino, como dizem os caipiras, se enganou redondamente. Desci uma descidona comprida ontem, que ateh me fez ficar feliz. No meio do mato, ao entardecer, vento na cara... Pena que a bike eh daquele jeito, eu fui sentadinha, mesmo, com a coluna retinha.

Hehe, ontem eu quis abrir uma conta em banco, e tava com medo de nao saber reconhecer um, quando o visse. Pensa bem, como um gringo saberia que o Itau ou Bradesco sao bancos? Mas os bancos daqui teem bank no nome. O que me surpreendeu foi uma loja imprevisivel: anunciava revelacoes de filme em poucas horas, e eu entrei, porque eu queria comprar um filme. Tinha lah verduras, legumes, frutas, filmes, revistas, cigarros e um posto dos correios. Ainda nao sei reconhecer os Correios, mas naquela loja que faz revelacoes, eu sei que sempre acharei o que preciso. Revelador.... Revelacao....

Jah que estamos no campo mistico, meu! quando fui me registrar em Kranenburg, a mulher precisava saber (1) o meu nome, (2) o meu endereco e (3) a minha religiao!! Tah lah,
L. o. u. - A. n. n. K. l. e. p. p. a.
Muhlenend 19
47559 Kranenburg - Zyfflich
Alemanha

evangelisch.

Eu entendo 20% de holandes, e acho tudo muito engracado. A Jacqueline eh professora de holandes, entao ela fala em holandes comigo e me observa com os olhos azuis arregalados, esperando a minha ficha DDI cair.

Os holandeses loiros bebedores de chah daqui da sala dos computadores sao super legais, a guriazinha de nome complicado jah achou o menu do bandejao na Internet pra mim, o outro revelou onde posso comprar envelopes. E me ofereceram chah, por supuesto. Ah, eh, almocei no bandejao ontem! Uau! Chama Refter e tem precos de estudante (3 euros e uns quebrados) e precos de nao-estudante (4,10 euros). Tem sempre tres pratos aa escolha: holandes, estrangeiro e vegetariano. Comi um pratao belga. Mas cara, 2 reais eh o equivalente a quantos euros? Alguma coisa entre 50 e 90 centavos de euro!!! E os holandeses acham que o Refter eh putz barato.

Hoje de noite vou ver uma casa aqui em Nijmegen. Na minha casa particular com vista para uma plantacao de canola (florzinhas amarelas + campos verdes + ceu azul + algumas nuves isoladas ou riscos de fumaca de aviao = tou em casa!!!) eu soh posso ficar por um mes. O vilarejo, Zyfflich, tem por volta de 400 habitantes. Isso eh menos da metade que o numero de habitantes de Nordwohlde, onde moram os meus pais. Certamente hah mais quadrupedes que bipedes em Zyfflich. Tem uma igreja e um restaurante que soh abre de noite, mais nada.