Primeiro bolo

Bolo de comer, mesmo.

Fiz um bolo de maçã com nozes e casca de laranja e demorou pra ele parar de rebolar dentro da fôrma. Quando ele tava todo moreno por fora e eu achei que tava bom, tirei do forno e deixei esfriar. Cortei um pedaço e ãh, que tristeza! Cru no meio. Sim, bolo com fruta dentro às vezes concentra tanta água, que demora a ficar pronto.
Deixei o bolo na mesa da cozinha e escrevi um bilhete oferecendo-o aos moradores. Subi os três andares até o meu quarto frio e fingi trabalhar no computador.

Pegah bateu na minha porta pedindo um ovo emprestado. Ela estava atrasada, precisava fazer um bolo sueco pra levar numa festa e precisava de um ovo só. Claro. Descemos as inúmeras escadas.
O meu bolo tava pela metade, o bilhete cheio de elogios. Subi feliz da vida.

Depois de um tempo desci pra jantar. Pegah tava xingando o bolo com meios palavrões, porque ela não está acostumada a usar esta categoria de palavras. Aí as palavras não saíam inteiras... O bolo sueco dela estava suando toda a manteiga e isso não deveria acontecer e não dava tempo de fazer outro, mas também não dava pra levar aquele pra festa, porque as pessoas da festa sabiam o que esperar e não se contentariam com um bolo sueco que não deu certo.

Alheia às preocupações da pequena Pegah, fiquei indecisa se eu deveria botar o meu meio bolo na geladeira ou deixá-lo em cima da mesa. Nem todos haviam chegado em casa até o momento... Deixei e subi, pra ver quantas músicas já tinham sido baixadas enquanto eu jantava.

Pegah bateu na minha porta com olhos grandes e voz incerta. Será que eu não podia dar o meu bolo pra ela levar na festa?
Quem diria que o meu bolo de maçã viria pra salvar a Pegah!