Não havia energia elétrica no meu andar. Tudo escuro, tudo morto.
Peguei o computador e desci pra cozinha. Passei o dia na mesa da cozinha, observando o acontecimento das pequenas catástrofes domésticas.
O homem da energia elétrica que veio às 16:00 não usava macacão ou roupas de operário proleta. Tinha cara de Nicolas Cage e falava muito pouco inglês, mas acho que entendia o que eu falava. Expliquei em quais situações aconteciam os blecautes, que as luzes de emergência não acendiam mais, e que não era só no meu quarto que a queda de força era ocasionada. Fomos até os quartos, ele apontou pra cima, botou as pontas dos dedos no queixo, pensou um pouco e ligou pra outro eletricista. Marcamos que no dia seguinte um eletricista viria ao meio-dia.
Hm. Então aquele homem não era mesmo um eletricista. O pai da Annelies conduziu o sósia do Nicolas Cage até o escritório e a porta foi fechada. Botei Manu Chao no som e voltei a colorir preposições, verbos no imperativo, determinantes e inversões. O mini pai da Annelies entrou na cozinha, se atrapalhou um pouco com os meus cabos perto da cafeteira e fez um café cheiroso. Procurou pelo seu pote de açúcar. Deveria estar aqui. Será isso? Levou o pote com conteúdo branco e granulado pro escritório, voltou pra pegar o café, xícaras e pires.
Hm. Eu não ofereceria café numa xícara com um pires por baixo a um eletricista sentado no meu escritório. Definitivamente, Nicolas Cage não é eletricista.
Daqui a pouco os dois, o mini pai e Nicolas Cage, entram correndo na cozinha e vão direto à pia, pra cuspir o que tinham na boca. Aquilo não era açúcar, mas sal.
Essa catástrofe alheia foi engraçada. Os dois também riram.
Foi anoitecendo, as pessoas foram chegando em casa. Continuei no meu posto, catando palavrinhas em telegramas. Reparei que Annelies e Remco, o namorado dela, tavam com os seus respectivos laptops no escritório, o que não é normal. Hm.
Minha aluna chegou e tivemos aula no escritório, já que estamos sem luz nos nossos quartos. Ao nosso lado Pegah conversava em sueco com os amigos pelo Skype. Uau. Pegah terminou, outras pessoas entraram no escritório: Kaleem, pra ler, porque ele mora no mesmo andar que eu, e Remco, se pendurou no computador. Hm.
Volto ao computador depois da aula e ele me avisa de várias maneiras que estou sem conexão.
Annelies confirma que a conexão não está estabelecida, porque eles vão trocar a conexão wireless, porque a que gente tinha era ruim. Só que eles precisam comprar um treco aí, então não vai rolar Internet wireless. É preciso se conectar ao cabo. Só tem um cabo pra 7 laptops!
Tá, nem queria mesmo. Volto à caça de pequenas palavras em mensagens telegráficas.
Boti chega de viagem a Berlin. Pergunta quais são as novidades. Informo que o andar de cima está sem energia elétrica. Ele arregala os olhos, aponta pra si e pergunta se ele tem luz. Sim. Ah, então tá tudo beleza. Rindo da desgraça dos outros, é? Dei a notícia que ele está sem Internet. Parou de rir. Expliquei o lance do cabo, ele desceu com o laptop dele, mas não conseguiu uma conexão. Nem Pegah.
Pequenas catástrofes domésticas.
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